JORNAL GGN qua, 23/07/2014 - 21:57
Carlos Mello
Um policial, com larga experiência gerencial no setor privado antes de ingressar no serviço público, coloca o dedo na ferida da questão da segurança pública no País: o modelo brasileiro de fazer polícia é totalmente anacrônico. E lista uma série de problemas: não procuramos aprender com as experiências bem sucedidas no mundo. Temos um instrumento, o inquérito policial, que emperra as investigações e facilita a corrupção, o direcionamento político e a discriminação social. Afirma que atuamos pouca na prevenção e usamos a força em vez de privilegiar a inteligência.
Para ele, a figura do delegado representa a herança escravocrata e patrimonialista da sociedade brasileira. Acrescenta ainda que os delegados formam um grupo que, além de não cumprir adequadamente suas atribuições legais, procura competir ou tentar assumir funções do Ministério Público e da Justiça. Em especial, a classe procura conquistar vantagens financeiras e prerrogativas e títulos dessas outras duas carreiras típicas de Estado.
Além disso, o policial ressalta que a visão dos responsáveis pela formulação das estratégias policiais está contaminada por ideologias e princípios militares, que não são compatíveis com os métodos modernos de administração participativa. Lembra que, no exército, o uso da força é direcionado ao combate com um inimigo a ser vencido. Enquanto o papel da polícia moderna é considerar o conflito como parte de uma ordem social democrática. Outra diferença importante é a questão da subordinação. Nas forças militares, a estrutura é hierárquica e imposta. Já nas forças policiais modernas, a subordinação é funcional e consentida.
Na sua experiência na iniciativa privada, o policial diz que a chefia era alvo de conquista por mérito e competência. Já na polícia os cargos de chefia são “prêmios” aos “amigos” ou indicações políticas. Afirma que muito pouco se faz para se prestar um serviço de qualidade aos cidadãos brasileiros. Para ele, caso o governo contratasse uma empresa séria de consultoria de gestão, o modelo atual seria reprovado e profundas recomendações de mudanças seriam propostas, a fim de se iniciar um processo de melhoria, que buscasse aproximar os indicadores de qualidade nacional aos padrões internacionais.
Concluindo, o policial adverte que se não houver uma abertura no setor público, como houve no setor privado, continuaremos convivendo com o medo e a insegurança. Cita a frase de Albert Einstein (“Fazer, todos os dias, as mesmas coisas e esperar resultados diferentes é a maior prova de insanidade.”) para chamar a atenção dos governantes e dos formadores de opinião para o problema. Observa que, apesar de mais de 70% da população* não confiar no trabalho da polícia, as autoridades insistem em depositar suas esperanças nas mãos dos que defendem a continuidade desse modelo. Destaca ainda que as manifestações de junho de 2013 já indicaram o descompasso entre governantes e governados.
Como 2014 é ano eleitoral, o policial espera que os candidatos apresentem propostas inovadoras para a questão da segurança pública e, enfim, atendam aos anseios da sociedade brasileira por paz e justiça.
Fonte: O Índice de Confiança na Justiça Brasileira (ICJBrasil), realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para integrar a 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), registra que 70,1% da população não confia no trabalho das diversas polícias no País
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