Foto: Gilmar Fraga / Arte ZH
ZERO HORA 25/01/2016 - 06h03min
EDITORIAL
Pior do que a sensação de insegurança vivida diariamente pelos gaúchos é a sensação de desamparo. Cada vez que os cidadãos reclamam da violência de que são vítimas, as autoridades policiais alegam falta de efetivo e os governantes alegam falta de recursos — isso quando não acusam a mídia de hiperdimensionar o problema. Mas a realidade é insofismável: com ou sem notícia, homicídios, roubos, assaltos a bancos, estabelecimentos comerciais e residências continuam ocorrendo cada vez com maior frequência. São os cidadãos — as vítimas criminalidade — que atestam esse descalabro.
Ainda que se reconheça que os policiais fazem o que podem e que o governo realmente passa por uma crise financeira, a solução tem que vir do poder público. As pessoas pagam impostos para receber assistência e proteção do Estado. Se não recebem esse retorno, têm o direito de reclamar, de cobrar, de exigir providências efetivas por parte dos responsáveis pela segurança pública.
À autoridade cabe agir. Ou dar lugar a quem tem mais competência.
Ninguém suporta mais as desculpas esfarrapadas e a estratégia de transferir responsabilidade para os outros. A polícia diz que prende e a Justiça solta. O Judiciário reclama de inquéritos policiais malfeitos, garante que faz a sua parte e que só não manda mais gente para a cadeia porque os presídios estão superlotados. O governo alega falta de recursos, além da má vontade dos municípios em receber novos estabelecimentos prisionais. A tudo isso soma-se a carência de efetivo, de equipamentos e até de armas por parte das forças policiais. Justificativas não faltam. O que falta são lideranças fortes, soluções integradas, punição efetiva para os delinquentes e investimentos em educação, programas sociais e ocupação para as populações marginalizadas.
A falência do sistema prisional é inquestionável. Os presídios estão superlotados e uma parcela significativa da população carcerária, como lembra o comandante da Brigada Militar em entrevista publicada nesta edição (a reportagem completa está nas páginas 6 a 8), passa a maior parte do tempo sem fazer nada ou simplesmente planejando novos crimes. Ora, essa é uma realidade que pode ser alterada sem investimentos volumosos, desde que haja vontade política, mobilização das autoridades e empenho dos legisladores. Será tão difícil assim fazer o que outros países já fazem, colocando apenados a trabalhar? Evidentemente que estamos defendendo trabalho digno e possibilidade de recuperação, em contraponto à atual ociosidade que degrada e estimula a criminalidade.
Há muito mais a fazer. O caos da violência urbana não se resolve com medidas isoladas. Mas também não se resolve com omissão. O Estado — todos os poderes, todas as autoridades investidas para servir ao cidadão — está devendo uma resposta urgente e eficiente para os gaúchos.
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