ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

domingo, 2 de novembro de 2014

SÓ 39% DOS ROUBOS VIRARAM INQUÉRITO NO RS

CORREIO DO POVO 01/11/2014

Só 39% dos casos de roubo viraram inquérito no Rio Grande do Sul, Percentual leva em consideração este tipo de crime nos últimos oito anos


Hygino Vasconcellos



Em oito anos, 39,80% das ocorrências por roubo no Rio Grande do Sul tiveram inquérito instaurado. O percentual é relacionado ao total de 565 mil registros por este tipo de crime como assalto a pedestre, lotéricas entre outros , entre 2006 e 2013. As informações foram obtidas pelo Correio do Povo através da Lei de Acesso à Informação. A análise dos dados mostra uma grande variação dos índices de um período para outro. Entre 2006 e 2007 o percentual oscilou entre 85% a 76%. No ano seguinte, caiu para 20%, índice que permaneceu até o ano passado.

Para o promotor de Justiça Marcos Reichelt Centeno, da Promotoria do Controle Externo da Atividade Policial, o cenário indica uma brecha na lei – por meio da portaria 164, do Governo – que permitia aos delegados não instaurarem inquérito em determinadas situações, entre elas quando não se tinha autoria conhecida. Antes de começar o procedimento, a ocorrência era encaminhada para o setor de investigação para “colher mais dados”. O problema é que, de acordo com Centeno, muitas vezes o boletim de ocorrência acabava engavetado.

Entretanto, esse caminho alternativo não vale desde 25 de julho de 2011, quando a 4ª Vara da Fazenda Pública do RS anulou vários artigos da portaria, após o Ministério Público entrar com uma Ação Civil Pública declaratória de nulidade de ato normativo.

Cerca de dez meses depois da sentença, em 12 de abril de 2012, o governo publicou a decisão no Diário Oficial, na qual consta a anulação de cinco artigos da portaria. Apesar disso, o processo continua correndo, observa o promotor. “Agora, nós estamos aguardando que a Polícia nos diga se comunicou a todos os delegados do Interior, formalmente, que estes dispositivos não estão mais em vigor.” Centeno diz que o MP é “sensível” com a situação da Polícia Civil, com falta de efetivo, enquanto o número de ocorrências continua crescendo. Ele salienta que não “está se dizendo que a Polícia tem que pegar os seus recursos, que são poucos, e gastar em um fato que não tem a chance de ser apurado”.

Ele considera ser preciso determinar critérios. Os promotores visitam as DPs e sabem que não se tem como exigir investigação de 100% dos fatos. “Nós entendemos que algum critério de prioridade precisa ser estabelecido”, afirma Centeno.

Brecha continua

O diretor da Divisão de Planejamento e Coordenação (Diplanco) da Polícia Civil, delegado Antonio Padilha, reconhece que a prática de enviar a ocorrência ao setor de investigação ao invés de instaurar inquérito ainda é usual. “Teve uma portaria publicada pela chefia de Polícia da época, modificando um pouco a forma de condução dos procedimentos policiais”, disse o delegado. “Naqueles casos em que não há uma autoria definida de imediato, começou-se a instaurar procedimentos preliminares de investigação, para verificação.”

O diretor argumenta que a instauração direta do inquérito ainda não está valendo. De acordo com ele, ficou entendido que a Polícia deveria adotar, como fazem polícias do mundo inteiro, algumas investigações preliminares antes de adotar um procedimento formal de inquérito. Ele cita o furto de um celular que não há testemunhas. “Instaurar inquérito imediatamente depois desse fato seria desperdício”, ressalta Padilha.

Mas como explicar a diferença entre os números? Segundo Padilha, os demais fatos certamente estão no setor de investigação para serem apurados preliminarmente, para que sejam coletados indícios para determinar a instauração do inquérito policial. “Porque, daqui a pouco, está sendo feito uma análise criminal pelo setor de investigação de que os roubos estão ocorrendo nos mesmos locais e dias de semana”, exemplifica.

Para o promotor de Justiça Marcos Centeno, não há base legal para ocorrer isto. “O que eles (policiais) estão fazendo é justamente aquilo que o Judiciário condenou, ou seja, os procedimentos preliminares que não estão previstos na lei”, afirma Centeno. “A única hipótese possível de se verificar se algo procede antes de instaurar inquérito ou termo circunstanciado é no caso de denúncia anônima”, exemplifica.

Não justifica diferença


A vice-presidente da Associação dos Delegados de Polícia (Asdep) do RS, Nadine Tagliari Farias Anflor, entende que a relação direta entre os dados não corresponde à realidade. A policial ressalta que a diferença entre registro de ocorrência e inquérito instaurado pode ser explicada, em parte. “Mas não justifica lacuna tão alta”, reforça Nadine.

O mais comum, acentua ela, é o escrivão errar na hora de registrar a ocorrência, por não se exigir a formação em Direito deste profissional. “Isso é um dever do delegado e é por isso que todas as ocorrências passam pelo titular da DP.” Por exemplo, ao invés de ser colocado furto — quando não há violência —, o escrivão acaba classificando o fato como roubo. Outra explicação é que o reconhecimento de que a brecha na lei continua valendo. “Tem muito delegado que continua não instaurando inquérito”, comenta.

Outro motivo para uma diferença tão grande dos números é a reunião de uma série de ocorrências em um mesmo inquérito, o que é permitido por lei. A mudança no decorrer dos fatos também pode influenciar. Por exemplo, um roubo que se torna latrocínio, devido à morte da vítima. O promotor de Justiça Marcos Centeno considera que as explicações apresentadas pela delegada não esclarecem a grande discrepância entre os registros de ocorrência e os inquéritos instaurados.

NA SEGURANÇA PRIVADA DE EMPRESÁRIO MORTO NO ASSALTO, PMS À PAISANA SÃO BALEADOS


Imagens mostram ataque a empresário em Canoas. Celso Antônio Vieceli foi baleado em frente ao portão de um condomínio no bairro Bela Vista

ZERO HORA 01/11/2014 | 20h12



Foto: Reproducao / Agencia RBS


As câmeras de segurança do condomínio onde Celso Antônio Vieceli foi assassinado, no bairro Bela Vista, em Canoas, podem ajudar a polícia nas investigações. As imagens mostram o momento exato em que o empresário da construção civil é baleado em uma tentativa de assalto. Vieceli estava no banco de passageiros do automóvel i30, em frente ao portão de entrada, quando foi surpreendido pelos assaltantes. Um adolescente de 16 anos, suspeito de fazer parte da quadrilha, também morreu na ação.


Especula-se que a ação tenha sido uma tentativa de levar o dinheiro transportado por Vieceli e seus dois seguranças, dois policiais à paisana, para pagamento de funcionários de uma obra. Os policiais também foram baleados, mas não correm risco de morrer.



ZERO HORA 31/10/2014 | 22h06

Empresário e jovem de 16 anos morrem durante tiroteio em Canoas. Adolescente é suspeito de integrar quadrilha que tentou roubar dinheiro que seria pago a funcionários do empresário



Dois PMs que estavam à paisana dentro do carro, junto com o empresário, também foram atingidos Foto: Divulgação / Polícia Civil


Um empresário não identificado e um jovem de 16 anos morreram em tiroteio no começo da noite desta sexta-feira em Canoas, na Região Metropolitana. De acordo com a Polícia Civil, dois PMs também foram baleados quando uma quadrilha tentou roubar o dinheiro que era transportado pelo empresário em um veículo, no bairro Bela Vista.

A vítima entrava em um condomínio de luxo quando foi abordada pelos criminosos. O dinheiro, que seria entregue para os funcionários do empresário, não foi levado. Segundo a Polícia Civil, os PMs atingidos estavam à paisana dentro do carro, junto com o empresário, e não correm risco de vida. O adolescente morto é um dos suspeitos de integrar a quadrilha.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

AS PROMOÇÕES E AS TRANSIÇÕES

O SUL Porto Alegre, Quinta-feira, 30 de Outubro de 2014.




Decisão do Tribunal de Justiça do RS poderá vir a amarelar algumas indicações


O impasse que envolve as últimas promoções ocorridas na Brigada Militar, assinadas pelo governador Tarso Genro, desabará, inevitavelmente, no processo de transição na área da Segurança Pública com respingos na Casa Militar do Piratini, tudo na dependência dos nomes cotados para os postos mais elevados

Ocorre que tais promoções, à unanimidade, foram consideradas inconstitucionais pelo Pleno do Tribunal de Justiça do RS. Nas especulações internas dos futuros novos mandatários do Estado, aparece o nome do coronel Leonel Bueno, atual titular do CRPO (Comando Regional de Policiamento Ostensivo) da Serra, sediado em Caxias do Sul, não só para integrar a equipe de transição na área da segurança como também para futuro comandante-geral da Brigada Militar. Ocorre que Bueno está entre os oficiais cuja última promoção está sub judice e, se for rebaixado, sequer poderá assumir, a não ser como interino, em um comando regional


Buraco


Quatro presos do regime fechado fugiram do Presídio Estadual de Carazinho na madrugada de quarta-feira. Eles abriram um túnel em uma das celas. A Brigada Militar conseguiu impedir que outros detentos também saíssem pelo mesmo buraco. Naquela casa, com superlotação, há falta de segurança e infraestrutura


Pelotas


Um morador de rua foi morto esfaqueado em Pelotas. Pablo Neves de Oliveira, 24 anos, morreu durante atendimento no Pronto Socorro. Neste ano, com este caso, são 62 homicídios naquela cidade. Ainda em Pelotas, na noite de terça-feira, um casal foi assaltado na área central. A mulher levou um tiro numa das pernas e o homem levou dois tiros no abdômen. Testemunhas viram dois adolescentes fugindo


Presídios


A Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários) promoveu, ontem, o ato de posse de 602 novos agentes penitenciários, aprovados no concurso realizado em 2014 e que atuarão em unidades prisionais, principalmente na Região Metropolitana


Comerciante


Agentes do Denarc prenderam o dono de uma revendedora de veículos localizada na rua Bernardino Silveira Amorim, na Zona Norte da Capital, com 5 kg de crack. A droga estava enterrada no pátio da empresa. Segundo o delegado Rafael Pereira, o comerciante possuía antecedentes por uso de documento falso e contra a Fazenda Pública. A droga seria suficiente para confeccionar em torno de 25 mil pedras


Ausência sentida


Embora silente, a tropa do 19 BPM estranhou e até lamentou o fato de que a comandante daquela unidade da Brigada Militar, a tenente-coronel Nádia Rodrigues Silveira Gerhard, sempre presente em atividades sociais, não ter, pessoalmente, falado à mídia sobre ação do soldado Emerson da Silva Nicoli, 29 anos, que, baleado, foi internado em estado gravíssimo no Hospital São Lucas da PUC. O fato ocorreu na madrugada de quarta-feira, Rua Grécia, Beco dos Machados, na Zona Leste da Capital, onde Emerson participou da abordagem de um Honda Civic cujos ocupantes reagiram à bala.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

PM É BALEADO EM ABORDAGEM DE VEÍCULO SUSPEITO

G1 RS 29/10/2014 07h04

Policial militar é baleado após abordar veículo suspeito em Porto Alegre. Disparos aconteceram na madrugada desta quarta no Bairro Agronomia. Ocupantes do carro conseguiram fugir e ainda não foram localizados.

Paulo Ledur Da RBS TV




Policial militar foi baleado em um beco no Bairro
Agronomia (Foto: Paulo Ledur/RBS TV)

Um policial militar foi baleado na madrugada desta quarta-feira (29) no Bairro Agronomia, na Zona Leste de Porto Alegre. O disparo aconteceu por volta das 2h, quando três policiais desconfiaram e abordaram um carro suspeito em um beco da região. Eles mandaram o motorista parar, mas ocupantes de um outro veículo que vinha logo atrás iniciaram os disparos.

"Foi durante uma abordagem que eles faziam no veículo. Passou um segundo veículo e investiu contra a guarnição e começou a efetuar vários disparos, vindo a atingir três tiros no nosso colega", relata o major Alexandre da Rosa, subcomandante do 19° Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Porto Alegre.

O policial baleado foi socorrido pelos colegas e levado em uma viatura ao Hospital São Lucas da PUCRS. Os disparos atingiram a axila e o peito do brigadiano.

No beco onde o fato aconteceu a polícia chegou a apreender um veículo. Mas os outros carros usados no tiroteio não foram encontrados. Os suspeitos fugiram e ainda não foram localizados.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

CONTRADIÇÕES EM CASO DE OMISSÃO DE SOCORRO

DIÁRIO GAÚCHO 28/10/2014 | 07h01


Policiais se contradizem em caso de omissão de socorro. PMs envolvidos no caso de jovem de 19 anos, deficiente mental e estuprada nas ruas, prestaram depoimento ontem. Corregedoria também deve apurar.



Foto: Eduardo Torres / Diário Gaúcho


Eduardo Torres




"Não diz coisa com coisa, não fornece um endereço fixo". Dessa forma, a jovem de 19 anos, com deficiência mental, desaparecida na tarde de quarta no Centro de Porto Alegre, foi descrita por dois PMs do 19º BPM na ocorrência registrada na 21ª DP. Eles a haviam encontrado desnorteada pelo campus Agronomia no começo da noite - três horas após ela ter desaparecido de casa. Pouco tempo depois, contrariando a determinação que receberam na Polícia Civil, não a levaram para a Delegacia de Homicídios e a liberaram na Avenida João Pessoa, para que voltasse para sua residência de ônibus, sozinha. Ela só foi encontrada três dias depois, no Hospital Conceição, vítima de violência sexual. A menina, segundo a família, sofre de uma doença e tem comportamento semelhante ao de uma criança entre quatro e seis anos de idade.


Ontem, os policias foram ouvidos pela 5ª DHPP e contaram outra história. Alegaram não terem seguido a orientação dada pelo plantonista da 21ª DP porque não perceberam qualquer deficiência nela. Outro agravante é que, no momento em que registravam o encontro da jovem na delegacia, os policiais viram que, no sistema da Segurança Pública, ela constava como desaparecida desde 2010, quando desapareceu por algumas horas e a família não havia registrado o reencontro. E, na ocorrência feita na época, o pai relata que "ela sofre de problemas mentais e faz tratamento com remédios". Nenhum dos policiais falou à imprensa ontem.

- Não tenho dúvida de que o crime poderia ser evitado se não houvesse omissão dos agentes públicos. É impossível não perceber que a menina tem deficiência mental. Eles estavam com ela sob sua guarda e não a entregaram para a família. Por essa responsabilidade, é possível que sejam enquadrados até mesmo pelo estupro - afirma a delegada Jeiselaure Souza.


O inquérito deverá ser repassado à Delegacia da Mulher, que vai apurar o estupro de incapaz. O caso também deve chegar às corregedorias da Polícia Civil e da Brigada Militar, que apuram as condutas dos agentes públicos.

Os depoimentos dos PMs, e um relatório do caso, serão entregues ao comando do 19º BPM, que já instaurou investigação própria. A delegada avalia ainda a possibilidade de ouvir o plantonista da 21ª DP. Situação mais grave, no entanto, é considerada a de um plantonista da 14ª DP. Segundo familiares da jovem, ele teria se negado a registrar a ocorrência do desaparecimento, alegando que o caso não havia ocorrido naquela área e que estava em horário de jantar. Só às 22h50min, o registro foi feito na 18ª DP.

- Estamos averiguando. Nenhuma delegacia pode se furtar a registrar ocorrência - aponta a delegada.
O caso só chegou ao conhecimento da delegacia especializada na manhã de sexta. Foi quando, finalmente, um alerta foi dado a toda a Polícia Civil.

Plantonistas são ouvidos

Diretor regional de Porto Alegre, o delegado Cléber Ferreira promete apurar as atuações dos plantonistas.

- Boa parte dos casos de desaparecimentos, como esse, poderiam ser resolvidos em questão de minutos. Mas a nossa estrutura é precária - justifica.

Em cada uma das 20 delegacias distritais de Porto Alegre, há apenas um plantonista durante 24 horas. Por isso, aponta o diretor, o fechamento para almoço e jantar foi institucionalizado. Cléber admite que a dificuldade para registrar não é exclusiva aos casos de desaparecimentos.

Para o titular da 21ª DP, delegado Marcos Machado, onde o encontro da menina foi registrado e encaminhado na sequência à 5ª DHPP, não houve omissão do plantonista. Ontem, ele ouviu o agente:

- A atitude do plantonista foi correta. Ele seguiu o procedimento recomendável, porque registrou a ocorrência. Eu não poderia exigir que ele, sozinho no plantão, ficasse com a menina sob sua guarda. Não temos estrutura para isso.

O agente afirmou que ainda tentou encontrar os parentes da jovem, mas teria sido inútil. A menina teria dito que o endereço que constava no registro policial de 2010 não era o dela. E ela teria dito que não sabia onde morava. O policial também teria ligado para o número de telefone que constava naquela ocorrência, mas ninguém atendeu.

- Um dos PMs assinou a ocorrência se comprometendo a custodiar a jovem até a delegacia especializada. O agente ficou tranquilo. O erro aconteceu depois - diz o delegado.

Segundo o delegado, a ocorrência teria sido transmitida imediatamente para a 5ª DHPP.

Socorro ainda é mistério


A polícia tenta esclarecer como a jovem chegou ao Hospital Conceição na tarde de sábado. Em depoimento no sábado, ela não soube dizer claramente como conseguiu. A suspeita é de que alguém a tenha deixado lá. Este deve ser o ponto de partida para se chegar a autoria do estupro. Durante os três dias em que perambulou pelas ruas, ela teria caminhado entre a Vila Planetário e o Centro.

Dormiu pelas ruas e não se alimentou. Um homem a teria atacado, ameaçando matá-la se tentasse impedi-lo. Ela apareceu no hospital com roupas que não eram suas. À delegada Jeiselaure Souza, a jovem disse que uma mulher havia dado aquelas roupas para trocar as suas, que estavam "cheias de sangue".

"Quem tinha que proteger, não protegeu"

Na manhã de ontem, a faxineira de 47 anos, mãe da jovem estuprada, cruzou com um dos PMs nos corredores da 5ª DHPP. Ouviu dele um pedido de desculpas. Ela conversou com a reportagem:

Diário Gaúcho - O soldado lhe pediu desculpas. A senhora aceita?

Mãe - Eu aceito, porque ele é um trabalhador. Mas errou e eu vou até as últimas consequências para ver a justiça feita. Não quero que nenhuma outra mãe sinta o que eu senti, como se tivessem arrancado o meu coração, por negligência do Estado.

Diário Gaúcho - Que sentimento fica depois deste trauma?

Mãe - Nós sempre protegemos ela, o tempo todo. Nunca deixamos ela andar sozinha na rua, ela sumiu em um momento de distração da avó de 85 anos. Mas o que me indigna é que ela poderia ter ficado bem, se quem deveria cuidar dela tivesse feito a sua parte. Eles não cuidaram da minha filha.

Diário Gaúcho - E como ela está?

Mãe - É algo que vai ficar para sempre com ela. Ao mesmo tempo em que ela diz que quer voltar para a escola de uma vez, fica com medo da gente sair de casa. Não para de lembrar que o homem disse que iria matá-la.

Entenda o caso

* A jovem desapareceu por volta das 15h de quarta, na Avenida Júlio de Castilhos. Pouco tempo depois, familiares começaram a percorrer as ruas do Centro, perguntando pela jovem.

* Às 20h, foram orientados por um PM a registrar a ocorrência de desaparecimento em qualquer delegacia. Tentaram na 14ª DP, mas o plantonista, alegando que estava em horário de jantar, negou-se a fazer. Só conseguiram às 22h50min, na 18ª DP.

* Àquela altura, a família não sabia, mas a jovem já havia sido encontrada no campus Agronomia da Ufrgs. Policiais do 19º BPM a levaram até a 21ª DP, onde o plantonista registrou o caso e pediu que os policiais a apresentassem na 5ª DHPP, no Palácio da Polícia, que atende casos de desaparecimentos. Porém, o PMs deixaram a menina ao lado de um ponto de ônibus, para que ela fosse para casa.

* Durante as busca, a família ligou para o 190. Um policial informou que a menina havia sido encontrada, mas não soube dar mais informações e orientou que a família ligasse para o 9º BPM. Depois de nova ligação, foram orientados a ir até a 5ª DHPP.

* Eram 2h da madrugada de quinta quando chegaram ao Palácio da Polícia, onde a menina deveria estar. Chegaram no plantão para perguntar qual a sala da 5ªDHPP e, casualmente, encontraram um dos PMs que haviam achado a jovem _ a essa altura, ele registrava outra ocorrência, sobre um preso na madrugada. O policial confirmou que havia liberado a menina, horas antes, em um ponto de ônibus.

* No sábado, a menina apareceu no Hospital Conceição, suja e com roupas que nem eram suas. Os médicos constataram estupro. Avisaram então a polícia, que descobriu tratar-se de uma desaparecida e localizou a família.


O QUE FAZER

- Ao ter um parente desaparecido, faça o registro policial na hora.

- O registro pode ser feito em qualquer delegacia. As investigações de casos na Capital são encaminhadas para a 5ª DHPP, mas é possível que a delegacia distrital tome as primeiras providências de buscas.

- Não é preciso foto da pessoa desaparecida.

OMISSÃO INVESTIGADA

ZH 28 de outubro de 2014 | N° 17966

EDUARDO TORRES


PMs suspeitos de abandonar jovem com deficiência mental


“Não diz coisa com coisa, não fornece um endereço fixo”. Dessa forma, a jovem de 19 anos, com deficiência mental, desaparecida na tarde de quarta-feira no Centro de Porto Alegre, foi descrita por dois policiais militares do 19º BPM na ocorrência registrada na 21ª DP. Eles a haviam encontrado andando desnorteada pelo campus Agronomia da UFRGS no início da noite – três horas após ter desaparecido de casa. Pouco tempo depois, a liberaram na Avenida João Pessoa, para que voltasse para sua residência de ônibus, sozinha. Ela só foi encontrada após três dias, no Hospital Conceição, vítima de violência sexual.

Ontem, os dois PMs foram ouvidos pela 5ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) e deram outra versão. Alegaram não terem seguido a orientação dada pelo plantonista da 21ª DP, para que entregassem a jovem no plantão do Departamento de Homicídios, no Palácio da Polícia, porque não haviam percebido deficiência nela.

– Não tenho dúvida de que o crime poderia ter sido evitado se não houvesse omissão dos agentes. É impossível não perceber que a vítima tem deficiência mental. Eles estavam com ela sob sua guarda. É possível que sejam enquadrados até por estupro – disse a delegada Jeiselaure Souza.

O inquérito deverá ser repassado à Delegacia da Mulher, que vai apurar o estupro de incapaz. O caso também deve chegar às corregedorias da Polícia Civil e da Brigada Militar, que apuram a conduta dos agentes públicos.

Os depoimentos dos PMs e um relatório do caso serão entregues ao comando do 19º BPM, que já instaurou investigação própria. A delegada avalia ainda a possibilidade de ouvir o plantonista da 21ª DP. Situação mais grave, no entanto, é considerada a de um plantonista da 14ª DP. Segundo os familiares da jovem, ele teria se negado a registrar a ocorrência do desaparecimento, alegando que o caso não havia acontecido naquela área e era o seu horário de janta. Só às 22h50min, quando a jovem já havia sido encontrada e abandonada, a família conseguiu fazer o registro.

– Estamos averiguando essa situação. Nenhuma delegacia pode se furtar a registrar uma ocorrência – informou a delegada.

O caso só chegou ao conhecimento da delegacia especializada na manhã de sexta. Foi quando, finalmente, um alerta foi dado a toda a Polícia Civil.

O diretor regional de Porto Alegre, delegado Cléber Ferreira, promete apurar as atuações dos plantonistas envolvidos.

A polícia tenta esclarecer como a jovem chegou ao Hospital Conceição na tarde de sábado. Em depoimento, ela não soube dizer como conseguiu ir até o local e pedir socorro. A suspeita é de que alguém a tenha deixado lá. Durante os três dias em que perambulou pelas ruas, ela teria caminhado entre a Vila Planetário e o Centro. Dormiu pelas ruas e não se alimentou. Conforme os peritos do Departamento Médico Legal, é provável que tenha sido abusada mais de uma vez.


ENTREVISTA

“Quem tinha de proteger não protegeu”

Na manhã de ontem, a faxineira de 47 anos, mãe da jovem estuprada, cruzou com um dos PMs nos corredores da 5ª DHPP. Ouviu dele um pedido de desculpas. Ela conversou com a reportagem do Diário Gaúcho.

O soldado lhe pediu desculpas. A senhora aceita?

Eu aceito, porque ele é um trabalhador. Mas errou, e eu vou até as últimas consequências para ver a justiça feita. Não quero que nenhuma outra mãe sinta o que eu senti, como se tivessem arrancado o meu coração, por negligência do Estado.

Que sentimento fica depois deste trauma?

Nunca deixamos ela andar sozinha na rua, ela sumiu por distração da avó de 85 anos. Mas o que me indigna é que ela poderia ter ficado bem, se quem deveria cuidar dela na nossa ausência tivesse feito a sua parte. Eles não cuidaram da minha filha.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

EXÉRCITO IMPEDE POLÍCIA DE COMPRAR MAIS ARMAS



ZERO HORA 24 de outubro de 2014 | N° 17962

JOSÉ LUÍS COSTA


SEGURANÇA. Polícia Civil não pode comprar novas armas

AQUISIÇÃO DE 700 PISTOLAS foi negada pelo Exército por excesso de arsenal na corporação



A Polícia Civil está proibida de comprar armamento a fim de equipar os 700 agentes que estão em curso de formação para começar o trabalho a partir de 11 de dezembro.

A restrição se deve à falta de autorização do Exército, organismo que controla o comércio de armas no país. Caso não obtenha licença em tempo hábil, a polícia pretende distribuir aos novos servidores pistolas e revólveres em uso por policiais como armamento reserva.

O pedido de autorização de compra de 700 pistolas calibre .40 foi encaminhado em março, mas a polícia foi surpreendida com a negativa da solicitação. Motivo: excesso de armas registradas no Exército em nome da corporação. O número é mantido em sigilo, mas a origem do problema seria antiga. Até cerca de cinco anos, era adquirido armamento novo e não seria feito o devido encaminhamento do material obsoleto para baixa no cadastro do Exército. Assim, um número elevado de revólveres e espingardas, por exemplo, apareceria como pertencente à Polícia Civil, mas parte nem existiria mais ou estaria estragada, sem possibilidade de uso.