JORNAL EXTRA 13/03/15 06:00 Atualizado em 13/03/15 06:56
Berenice Seara, Carolina Heringer, Luã Marinatto, Marcos Nunes e Rafael Soares
‘Partiu guerra?’, diz major que afirma ter sido convidado para comandar UPP da Maré
O Elitusalem Gomes Freitas teria sido convidado para assumir a UPP do Maré Foto: Reprodução / Facebook
“Liderar nossa tropa na guerra”. Para o major Elitusalem Gomes de Freitas — que teria sido escolhido pela Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) como novo comandante de uma das UPPs que serão instaladas na Maré —, essa é sua missão à frente dos PMs responsáveis por pacificar o complexo de favelas da Zona Norte, a partir de junho. A frase faz parte de uma mensagem enviada por Freitas pelo WhatsApp para um grupo de oito oficiais na tarde de terça-feira. “Partiu guerra?”, convoca o oficial, no fim do texto obtido pelo EXTRA.
Na mensagem, ele recruta policiais para o que chama de “guerra”: “Preciso de voluntários: a missão, salvar e preservar a vida dos recrutas, mesmo com o sacrifício da vida dos marginais... Vamos trazer sargentos e subs experientes em guerra e vamos tentar treinar todos até lá! já temos 80 fuzis e 600 homens, vamos obter material de CDC (Controle de Distúrbios Civis) e a farda será MUG (uniforme padrão da PM)!”.
Freitas, atualmente lotado no Quartel-General da corporação, confirmou ao EXTRA que mandou a mensagem, mas afirmou que seu objetivo era “motivar a tropa”.
— Mandei a mensagem ontem de manhã (terça), num grupo com 12 policiais. Um recruta ficou feliz e espalhou. Acabou viralizando. Eu queria começar a captar a tropa. Minha preocupação é que os recrutas estão com medo de ir para lá. É uma região muito perigosa. Se não tiver uma mudança, muito policial vai ser morto ali.
Na mensagem, ele ainda afirma que vai comandar a UPP Maré/Vila do João e Pinheiro, enquanto o major Rodrigo Magalhães Luna da Costa — a quem chama, brincando, de “terrorista” — assumirá a parte das favelas dominadas por uma facção rival.
Ao tomar conhecimento das conversas, o deputado federal Ezequiel Teixeira, do partido Solidariedade (SD/RJ), informou que solicitará que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, da qual é membro, acompanhe de perto a instalação da UPP da Maré.
— Uma postura como essa coloca em risco os moradores da região — disse ele.
Uma das postagens polêmicas do major Foto: Reprodução / Facebook
Na web, declarações polêmicas e críticas a Beltrame
Em sua página numa rede social, o major Elitusalem Freitas aborda frequentemente questões relativas à Polícia Militar. Em determinados momentos, o oficial chega a se referir aos membros da tropa como “caçadores” e “cães de guerra”.
Num texto postado em 7 de março, o major trata da morte de um companheiro de farda: “Não há pacto! Não há negociação! Não há diálogo! São terroristas que desafiam o Estado e menosprezam a vida humana. A saída? GUERRA TOTAL! Sem limites, sem piedade, sem remorsos... Já ouço o rufar dos tambores... Não pode haver pacto entre homens e leões!!! Sejamos caçadores!!!”.
Em várias ocasiões, Freitas faz postagens em que critica aqueles que considera “comunistas”. Em uma delas, após solicitar que os amigos “preparem os fuzis”, ele clama: “Bala nos vermelhos!”
Uma das postagens com críticas a Beltrame Foto: Reprodução / Facebook
Outro tema que o policial trata recorrentemente são os pedidos pelo retorno da Ditadura Militar. “Forças armadas, o Brasil implora por socorro”, escreveu Freitas, que também compartilhou uma montagem exaltando supostos fatos positivos para o país ocorridos após o golpe de 1964.
Embora estivesse cotado para assumir uma UPP, um dos alvos mais constantes do major é justamente o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, idealizador do projeto. Em agosto do ano passado, Freitas compartilhou uma imagem onde dizia que a solução para os problemas envolvendo a PM do Rio seria “exonerar Beltrame”. Em outra postagem, o secretário chega a ser descrito como “piadista”, “inútil”, “ator” e “inimigo da tropa”.
O major Freitas Foto: Reprodução / Facebook
‘Queria captar a tropa, os recrutas têm medo’
Entrevista com o major Elitusalem Freitas
Quando e para quem você mandou a mensagem?
Mandei a mensagem ontem de manhã (terça), num grupo com 12 policiais. Um recruta recém-formado ficou feliz e espalhou. Acabou viralizando. Eu queria começar a captar a tropa. Minha preocupação é que os recrutas estão com medo de ir para lá. É uma região muito perigosa. Se não tiver uma mudança, muito policial vai ser morto.
Você acha que vai ser punido pelas mensagens?
Posso ser punido, mas minha consciência tem que estar em paz. São vidas, são pais de família, são meninas recém-formadas que não têm experiência. Tem que ser pessoas que gostem de operar em terreno hostil.
Você estava empolgado com a missão? Tem planos se assumir mesmo a UPP?
Tenho muitas ideias de projetos sociais para levar para lá. O que eu não entendo e não concordo é que a polícia faça vista grossa a elementos de fuzil no terreno. Já dizia a música, “paz sem voz não é paz, é medo”. O estado está ali e o criminoso tem que entender. O tráfico armado, com fuzil , metralhadora, tem que recuar. Ele não recua se a polícia chegar lá com uma ideologia que o terreno vai esperar. E o terreno espera guerra.
Você se arrepende por ter escrito o texto?
Eu me empolguei porque acreditava que podia fazer a diferença. Já pedi desculpas para quem de direito.
E sua convocação de voluntários? Muita gente respondeu?
Cada um tem um jeito de motivar sua equipe. E o resultado foi fantástico. Fiquei abismado. Quase duzentos nomes... Quando vi que chegou a esse ponto, percebi que ia dar problema.
Ouça trechos da entrevista:
AUTORIDADES RESPONDEM
No WhatsApp
A Secretaria estadual de Segurança e a Polícia Militar não quiseram comentar as mensagens de Freitas. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), por sua vez, alegou não ter tido acesso à conversa privada do oficial.
Sem nomes
Por nota, a CPP não confirmou o nome do major Freitas à frente de uma das UPPs da Maré e afirmou que os futuros comandantes das unidades que serão instaladas no Complexo da Maré ainda não foram escolhidos.
PM vai assumir
Em dezembro, o secretário de segurança José Beltrame anunciou que a Força de Pacificação permaneceria na Maré até o fim de junho. Já o governador Pezão informou que a PM assumirá o policiamento na região entre o fim de junho e o início de julho.
Pacificação
A previsão, segundo o que a PM divulgou na época, é de que a futura UPP da Maré conte com pelo menos mil homens. A Força de Pacificação entrou no conjunto de favelas em abril de 2014.
Outra polêmica
Em janeiro, outras mensagens via WhatsApp já haviam repercutido mal na PM. O coronel Fábio Almeida de Souza foi exonerado do Batalhão de Choque depois de incitações à violência contra manifestantes e alusões ao nazismo. “Padrão Alemanha de 1930”, chegou a afirmar o oficial.
Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/partiu-guerra-diz-major-que-afirma-ter-sido-convidado-para-comandar-upp-da-mare-15582057.html#ixzz3UIT0B4dj
Berenice Seara, Carolina Heringer, Luã Marinatto, Marcos Nunes e Rafael Soares
‘Partiu guerra?’, diz major que afirma ter sido convidado para comandar UPP da Maré
O Elitusalem Gomes Freitas teria sido convidado para assumir a UPP do Maré Foto: Reprodução / Facebook
“Liderar nossa tropa na guerra”. Para o major Elitusalem Gomes de Freitas — que teria sido escolhido pela Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) como novo comandante de uma das UPPs que serão instaladas na Maré —, essa é sua missão à frente dos PMs responsáveis por pacificar o complexo de favelas da Zona Norte, a partir de junho. A frase faz parte de uma mensagem enviada por Freitas pelo WhatsApp para um grupo de oito oficiais na tarde de terça-feira. “Partiu guerra?”, convoca o oficial, no fim do texto obtido pelo EXTRA.
Na mensagem, ele recruta policiais para o que chama de “guerra”: “Preciso de voluntários: a missão, salvar e preservar a vida dos recrutas, mesmo com o sacrifício da vida dos marginais... Vamos trazer sargentos e subs experientes em guerra e vamos tentar treinar todos até lá! já temos 80 fuzis e 600 homens, vamos obter material de CDC (Controle de Distúrbios Civis) e a farda será MUG (uniforme padrão da PM)!”.
Freitas, atualmente lotado no Quartel-General da corporação, confirmou ao EXTRA que mandou a mensagem, mas afirmou que seu objetivo era “motivar a tropa”.
— Mandei a mensagem ontem de manhã (terça), num grupo com 12 policiais. Um recruta ficou feliz e espalhou. Acabou viralizando. Eu queria começar a captar a tropa. Minha preocupação é que os recrutas estão com medo de ir para lá. É uma região muito perigosa. Se não tiver uma mudança, muito policial vai ser morto ali.
Na mensagem, ele ainda afirma que vai comandar a UPP Maré/Vila do João e Pinheiro, enquanto o major Rodrigo Magalhães Luna da Costa — a quem chama, brincando, de “terrorista” — assumirá a parte das favelas dominadas por uma facção rival.
Ao tomar conhecimento das conversas, o deputado federal Ezequiel Teixeira, do partido Solidariedade (SD/RJ), informou que solicitará que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, da qual é membro, acompanhe de perto a instalação da UPP da Maré.
— Uma postura como essa coloca em risco os moradores da região — disse ele.
Uma das postagens polêmicas do major Foto: Reprodução / Facebook
Na web, declarações polêmicas e críticas a Beltrame
Em sua página numa rede social, o major Elitusalem Freitas aborda frequentemente questões relativas à Polícia Militar. Em determinados momentos, o oficial chega a se referir aos membros da tropa como “caçadores” e “cães de guerra”.
Num texto postado em 7 de março, o major trata da morte de um companheiro de farda: “Não há pacto! Não há negociação! Não há diálogo! São terroristas que desafiam o Estado e menosprezam a vida humana. A saída? GUERRA TOTAL! Sem limites, sem piedade, sem remorsos... Já ouço o rufar dos tambores... Não pode haver pacto entre homens e leões!!! Sejamos caçadores!!!”.
Em várias ocasiões, Freitas faz postagens em que critica aqueles que considera “comunistas”. Em uma delas, após solicitar que os amigos “preparem os fuzis”, ele clama: “Bala nos vermelhos!”
Uma das postagens com críticas a Beltrame Foto: Reprodução / Facebook
Outro tema que o policial trata recorrentemente são os pedidos pelo retorno da Ditadura Militar. “Forças armadas, o Brasil implora por socorro”, escreveu Freitas, que também compartilhou uma montagem exaltando supostos fatos positivos para o país ocorridos após o golpe de 1964.
Embora estivesse cotado para assumir uma UPP, um dos alvos mais constantes do major é justamente o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, idealizador do projeto. Em agosto do ano passado, Freitas compartilhou uma imagem onde dizia que a solução para os problemas envolvendo a PM do Rio seria “exonerar Beltrame”. Em outra postagem, o secretário chega a ser descrito como “piadista”, “inútil”, “ator” e “inimigo da tropa”.
O major Freitas Foto: Reprodução / Facebook
‘Queria captar a tropa, os recrutas têm medo’
Entrevista com o major Elitusalem Freitas
Quando e para quem você mandou a mensagem?
Mandei a mensagem ontem de manhã (terça), num grupo com 12 policiais. Um recruta recém-formado ficou feliz e espalhou. Acabou viralizando. Eu queria começar a captar a tropa. Minha preocupação é que os recrutas estão com medo de ir para lá. É uma região muito perigosa. Se não tiver uma mudança, muito policial vai ser morto.
Você acha que vai ser punido pelas mensagens?
Posso ser punido, mas minha consciência tem que estar em paz. São vidas, são pais de família, são meninas recém-formadas que não têm experiência. Tem que ser pessoas que gostem de operar em terreno hostil.
Você estava empolgado com a missão? Tem planos se assumir mesmo a UPP?
Tenho muitas ideias de projetos sociais para levar para lá. O que eu não entendo e não concordo é que a polícia faça vista grossa a elementos de fuzil no terreno. Já dizia a música, “paz sem voz não é paz, é medo”. O estado está ali e o criminoso tem que entender. O tráfico armado, com fuzil , metralhadora, tem que recuar. Ele não recua se a polícia chegar lá com uma ideologia que o terreno vai esperar. E o terreno espera guerra.
Você se arrepende por ter escrito o texto?
Eu me empolguei porque acreditava que podia fazer a diferença. Já pedi desculpas para quem de direito.
E sua convocação de voluntários? Muita gente respondeu?
Cada um tem um jeito de motivar sua equipe. E o resultado foi fantástico. Fiquei abismado. Quase duzentos nomes... Quando vi que chegou a esse ponto, percebi que ia dar problema.
Ouça trechos da entrevista:
AUTORIDADES RESPONDEM
No WhatsApp
A Secretaria estadual de Segurança e a Polícia Militar não quiseram comentar as mensagens de Freitas. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), por sua vez, alegou não ter tido acesso à conversa privada do oficial.
Sem nomes
Por nota, a CPP não confirmou o nome do major Freitas à frente de uma das UPPs da Maré e afirmou que os futuros comandantes das unidades que serão instaladas no Complexo da Maré ainda não foram escolhidos.
PM vai assumir
Em dezembro, o secretário de segurança José Beltrame anunciou que a Força de Pacificação permaneceria na Maré até o fim de junho. Já o governador Pezão informou que a PM assumirá o policiamento na região entre o fim de junho e o início de julho.
Pacificação
A previsão, segundo o que a PM divulgou na época, é de que a futura UPP da Maré conte com pelo menos mil homens. A Força de Pacificação entrou no conjunto de favelas em abril de 2014.
Outra polêmica
Em janeiro, outras mensagens via WhatsApp já haviam repercutido mal na PM. O coronel Fábio Almeida de Souza foi exonerado do Batalhão de Choque depois de incitações à violência contra manifestantes e alusões ao nazismo. “Padrão Alemanha de 1930”, chegou a afirmar o oficial.
Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/partiu-guerra-diz-major-que-afirma-ter-sido-convidado-para-comandar-upp-da-mare-15582057.html#ixzz3UIT0B4dj
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