ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

INOPERANCIA - PC agiliza investigações de crimes não solucionados

FORÇA-TAREFA. Atrás de solução para 175 crimes. Polícia Civil se mobiliza para esclarecer casos não investigados em Porto Alegre por falta de recursos humanos e materiais - JOSÉ LUÍS COSTA, Zero Hora, 24/11/2010

A polícia está à procura do assassino do estudante e auxiliar de pedreiro Júlio César Acosta Nunes. Aos 17 anos, ele tombou na frente de casa, no bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre, alvejado por três tiros porque não teria devolvido uma bicicleta velha que pediu emprestada a um conhecido. Vizinhos presenciaram o crime e sabem o nome de um dos executores e do mandante. Por causa disso, colocar as mãos no matador seria fácil não fosse um detalhe: o crime ocorreu há mais de oito anos, precisamente às 20h15min de 12 de agosto de 2002.

Embora com quase uma década de atraso, a Polícia Civil está disposta a encontrar o matador do jovem. Uma força-tarefa foi montada para tentar esclarecer a morte de Júlio César e outros 174 crimes (cerca de 35 homicídios consumados e os demais homicídios tentados) ocorridos na Capital.

Os casos estavam parados em delegacias distritais da Capital por falta de recursos humanos e materiais. A maior parte aconteceu entre 2002 e 2005 – período em que a Delegacia de Homicídios só se dedicava a investigar assassinatos praticados por quadrilhas ligadas ao crime organizado.

– Com a contratação de novos servidores, foi possível viabilizar esse trabalho. Mesmo passado algum tempo, temos de dar uma resposta para a sociedade – afirma Cléber Ferreira, diretor da Polícia Civil na Capital.

Execução de jovem jamais foi investigada

A força-tarefa é composta pela delegada Rosane de Oliveira Oliveira e mais quatro agentes, designados especialmente para o trabalho. As investigações começaram há 10 dias na 22ª Delegacia da Polícia Civil (Rubem Berta), onde existem 60 casos – 10 homicídios, entre eles o de Júlio César.

Até então, a execução do jovem jamais foi investigada. A única iniciativa da polícia foi um mero registro da ocorrência. Amarelado pelo tempo, o formulário verde, preenchido em máquina de datilografia, estava engavetado na 22ª DP.

De acordo com o pedreiro Luiz Antônio Bicca Nunes, 59 anos, pai de Júlio César, o filho foi morto por não estar de posse da bicicleta, pois teria sido vítima de um roubo.

– Se me cobrassem o valor, eu teria pago. A polícia nunca fez nada, eu já tinha até perdido as esperanças, mas quero justiça – afirma Nunes, pai de 10 filhos.

Além do longo tempo decorrido, outros fatores conspiram para manter os criminosos impunes: a dificuldade de localizar testemunhas, obter provas periciais, e a lei do silêncio que impera em vilas castigadas pela violência, envolvendo até familiares de vítimas.

– Essa iniciativa é válida pois evidencia a necessidade de melhorias no modo de fazer policiamento e de promover justiça – diz o sociólogo Alex Niche Teixeira.

Os fantasmas agradecem - CAMILA SACCOMORI | Colunista de séries de TV

Sucesso nos Estados Unidos em 2003, ano em que estreou, a série de TV Cold Case (conhecida no Brasil como Arquivo Morto) ficou famosa por resolver crimes pendentes do passado. Das caixas empoeiradas de um depósito no Departamento de Homicídios da cidade da Filadélfia (Pensilvânia) surgiam histórias que pareciam impossíveis de serem solucionadas.

A responsável por desenterrar os casos antigos, a solitária detetive Lilly Rush (a delicada atriz Kathryn Morris, na foto abaixo), dedicava quase todo seu tempo a fazer justiça – ainda que tardia. Seu foco era utilizar novas técnicas de investigação e tecnologias recentes para revisar as provas arquivadas. Também o passar do tempo sempre ajudou Lilly a futricar na vida das testemunhas e demais envolvidos em determinado crime. Não era incomum que os mesmos suspeitos, por exemplo, voltassem a cometer os mesmos erros do passado, o suficiente para a loirinha despachá-los para a prisão.

Os casos originais datavam geralmente dos anos 1950 a 2000, com peculiaridades de cada década retratadas em figurinos e, especialmente, na impecável trilha sonora. A parte realmente fantasiosa dos 156 episódios do drama policial fica por conta dos fantasmas dos envolvidos (vítima e familiares), que após a resolução tardia do crime sempre aparecem para agradecer aos investigadores.

Cold Case teve sete temporadas – foi cancelada em maio deste ano após queda de audiência. Atualmente, o canal pago Warner reprisa episódios antigos de segunda a sexta-feira, às 14h, assim como o SBT (domingos, à 0h30min).

“Minha meta é atingir 100% dos casos sem solução” - ENTREVISTA: Rosane de Oliveira Oliveira, delegada

A delegada Rosane de Oliveira Oliveira deixou a Delegacia da Mulher, em Novo Hamburgo, com a missão de destravar 175 casos de homicídios e tentativas de homicídios na Capital. Ela falou com Zero Hora:

Zero Hora – Quantos casos a senhora acredita que serão solucionados?
Rosane Oliveira – Minha meta é atingir 100%. Quero remeter todos para a Justiça com autoria conhecida.

ZH – Existe prazo?
Rosane – O prazo determinado pelo meu diretor é julho de 2011. A investigação não é matemática, vai depender de cada caso. Não adianta remeter o inquérito, e ele voltar.

ZH – Qual a principal dificuldade?
Rosane – É a coleta de provas. A maioria dos crimes ocorreu em vilas, envolvendo pessoas conhecidas, mas ninguém quer testemunhar. Até os familiares das vítimas evitam falar sobre o caso. Um pai me disse: a senhora não me chame mais na delegacia. Já entreguei esse caso para Deus.

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