ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quarta-feira, 20 de março de 2013

AS MAZELAS DA POLÍCIA BRASILEIRA

GAZETA DO POVO, OPINIÃO DO DIA - Publicado em 01/11/2008 |

ANTONIO CELSO MENDES


Os recentes acontecimentos ocorridos envolvendo as atividades de nossas polícias militares periodicamente servem de motivação para que se discuta se o sistema há anos implantado no Brasil, esta dicotomia disfuncional entre polícia civil e militar, não estaria no limite, a ponto de ser abandonada, e pudesse ser substituída por um modelo mais inteligente, mais moderno e menos conflitante e que assim desse mais eficiência ao sistema da segurança pública como um todo.

Sem dúvida, este sistema, sem similar em nenhum país do mundo, resultou da confusão entre atividade policial e força militar, pela preocupação constitucional recorrente de manter as polícias militares como reservas do Exército, para atuarem como partícipes em revoluções e sublevações, como de fato tem acontecido nos momentos cruciais de nossa História.

Na evolução de nossas Constituições, firmou-se a doutrina de que às polícias militares fossem dados os encargos referentes ao policiamento ostensivo fardado, atribuindo à polícia civil as tarefas referentes à polícia judiciária ou de investigação. Ora, ocorre que, na prática, até hoje não foi possível fazer com que as duas corporações considerassem muito claramente estas atribuições, permanecendo ainda hoje a Polícia Militar preocupada em investigar, assim como a Polícia Civil em promover ações de polícia ostensiva.

Em função disso, colocam-se periodicamente duas opções: a criação de uma polícia única, em nível estadual, com a fusão das duas corporações; ou, mantendo-se o modelo atual, promover uma política funcional de integração entre as mesmas. Ora, a primeira opção, a primeira vista, seria a mais conveniente, tendo em vista as experiências já adquiridas em seus respectivos campos, o que seria funcional e economicamente bastante vantajoso para o governo e a população.

Não obstante, há dificuldades históricas e políticas a permear a hipótese de uma polícia única, a partir do fato de que em momentos de crise social, greves ou distúrbios entre elas, não restaria outra opção senão apelar para que as Forças Armadas tomassem a si a tarefa de manter a ordem, o que não deixaria de ser uma solução momentânea conveniente... mas quem daria continuidade aos trabalhos policiais?

Face a essas circunstâncias, o governo federal, enquanto aguarda possíveis reformas constitucionais, tem optado por promover e incentivar uma política de integração entre as duas polícias, como a criação de academias policiais únicas e outras atividades conjuntas, condicionando verbas federais pari passu com essa integração, a ser promovida pelos governos estaduais.

Ocorre que não tem havido, por parte das Corporações, a suficiente vontade política para que esta integração se desenvolva, pela demonstração de má vontade tanto de delegados como de oficiais, que relutam em dar continuidade aos incentivos propostos, o que faz com que a pretendida integração permaneça em banho-maria. O que não deixa de ser lamentável, pelos prejuízos que causam à segurança preventiva e ostensiva da população.

Por isso, para atender situações emergenciais, a criação de uma Força Nacional de Segurança, como tropa de elite formada por segmentos de policiais militares de diferentes Corporações Estaduais e gerenciada pelo Ministério da Justiça, representa um bom começo na estratégia de constituir um Corpo Federal de Polícia, sem ferir as autonomias estaduais.

Depois de tudo que constatamos, cremos que a verdadeira solução para os problemas que afetam a segurança pública no Brasil pode ser resumida em quatro medidas essenciais: 1º) integrar a Polícia Civil no seio do Ministério Público, resumindo nela as funções de polícia judiciária, na investigação e na burocracia dos inquéritos; 2º) destinar exclusivamente às polícias militares todas as ações ostensivas de policiamento e manutenção da ordem pública nos estados, supervisionando as ações das guardas municipais e trabalhando intimamente com estas; 3º) transformar as atuais polícias militares dos estados em forças estaduais de Policiamento Ostensivo (FEPO), com base na hierarquia e disciplina, mas sem característica “militar”; 4º) alterar, profundamente, a doutrina de formação dos novos policiais, dando ênfase especial ao policiamento preventivo, às ações comunitárias, direitos humanos, ética e cidadania.


Antonio Celso Mendes é professor da PUCPR, coronel da reserva da Polícia Militar e professor nos Cursos Superiores da PM do Paraná.

OS PROBLEMAS DA POLÍCIA CIVIL

ESTA OPINIÃO É DE ABRIL 2011, MAS MUITO ATUAL.

O Estado de S.Paulo, 16 de abril de 2011 | 0h 00


OPINIÃO

Embora as mudanças administrativas e os investimentos em informática realizados nos últimos anos pelo governo estadual nas Polícias Militar e Civil de São Paulo tenham produzido resultados positivos, traduzidos no declínio de índices de criminalidade, a área de segurança pública continua apresentando problemas. Os mais graves estão no âmbito da Polícia Civil.

Como a remuneração dos delegados paulistas é a terceira mais baixa do País, atrás apenas do Pará e de Minas Gerais, a corporação vem sofrendo debandada de profissionais, que preferem prestar concursos públicos em outros Estados. Dos 180 delegados que ingressaram na carreira em São Paulo, em 2009, 34 já foram embora - o que equivale a 1 entre cada 5. E os que ficaram planejam deflagrar uma greve este semestre - a última ocorreu em 2008 e culminou em enfrentamento, com troca de tiros, entre policiais civis e militares nas cercanias do Palácio dos Bandeirantes.

O aviltamento dos salários da Polícia Civil é um problema antigo, mas que se agravou no último governo. Hoje, um delegado em começo de carreira recebe R$ 4,5 mil, se estiver lotado em cidades com menos de 500 mil habitantes, e R$ 5,8 mil, se trabalhar em cidades com população maior. Para os delegados do mesmo nível hierárquico, a Polícia Federal paga R$ 14 mil mensais. "Quando entrei na polícia, em 1993, ganhava 21 salários mínimos. Hoje, ganho pouco mais de 14 salários", diz o presidente do Sindicato dos Delegados de São Paulo, George Melão.

Além de problemas administrativos, a debandada de delegados paulistas acarreta prejuízos financeiros para o governo estadual. Quando um candidato a delegado é aprovado em concurso público, antes de assumir um posto ele passa por um curso de um ano na Academia de Polícia. Com as despesas do processo de recrutamento e do período de treinamento, o governo paulista gasta, em média, cerca de R$ 100 mil por delegado. E, como com esse treinamento os delegados novatos adquirem o preparo necessário para disputar concursos nos Estados que pagam salários mais altos, o governo paulista sofre duplo prejuízo. Fica sem os serviços dos profissionais que forma e ainda custeia a formação dos delegados dos demais Estados.

Também relacionado ao aviltamento dos vencimentos, outro grave problema enfrentado pela Polícia Civil é a corrupção. Somente no ano passado, foram demitidos 219 policiais - cerca de três vezes mais do que o número de demissões do ano anterior. Na lista, estão delegados, investigadores e escrivães envolvidos nas mais variadas irregularidades - de manipulação de boletins de ocorrência a fraudes em lacração de veículos, além de cobrança de propina e envolvimento com o crime organizado. Atualmente, cerca de 900 policiais estão sendo investigados pela Corregedoria da Polícia Civil.

Para a cúpula da Secretaria da Segurança Pública, o aumento do número de policiais expulsos da corporação, entre 2009 e 2010, seria resultante não do aumento da corrupção na Polícia Civil, mas das mudanças realizadas na Corregedoria, que adotou um modelo de investigação semelhante ao do Ministério Público e do Judiciário e passou a ser subordinada diretamente ao gabinete do secretário Antonio Ferreira Pinto (antes, ela era de responsabilidade do delegado-geral).

Os líderes sindicais da categoria reconhecem que essas mudanças tornaram a Corregedoria mais eficiente e rigorosa, mas alegam que a maioria das sindicâncias por ela abertas nos últimos meses decorreu de pequenas infrações administrativas. Segundo eles, o aumento do número de exonerados e de investigados seria uma estratégia da Secretaria da Segurança para enfraquecer politicamente a Polícia Civil, facilitando sua integração com a Polícia Militar - um projeto que estaria sendo elaborado com cautela e discrição pelo governador Geraldo Alckmin, para evitar resistências corporativas.

Os problemas da Polícia Civil dão a dimensão dos desafios que o governo estadual tem de enfrentar para aumentar a eficiência da segurança pública.

terça-feira, 19 de março de 2013

CASO KISS: NÃO É UM INQUÉRITO POLICIAL NORMAL

ZERO HORA 19 de março de 2013 | N° 17376

ENTREVISTA. “Não é um inquérito policial normal”

Marcelo Arigony Um dos delegados responsáveis pela investigação


Com a sensação de que está tendo o seu trabalho observado nos quatro cantos do mundo, o delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, coordena a investigação das 241 mortes no incêndio da boate Kiss, em 27 de janeiro.

Na tarde de ontem, o delegado interrompeu o seu trabalho meia hora para conversar com Zero Hora.

Com habilidade, falou sobre pontos sensíveis da investigação, como o que envolve empresários e políticos da cidade. E não descarta a possibilidade de, no futuro, as investigações chegarem ao secretário estadual da Segurança Pública, Airton Michels, e ao comandante estadual do Corpo de Bombeiros, Guido Pedroso de Melo – assim como o prefeito santa-mariense Cezar Schirmer e seus secretários foram ouvidos.

– Em princípio, não nos parece que tenha qualquer circunstância a ser esclarecida que seja objeto desta investigação policial – diz Arigony, cuidando com as palavras ao explicar o motivo pelo qual o secretário Michels não foi ouvido no inquérito.

A seguir, uma síntese da conversa mantida com o delegado responsável pelas investigações da maior tragédia da história gaúcha:

Zero Hora – Esses sucessivos atrasos na conclusão do inquérito, a que se devem?

Marcelo Arigony – Não há sucessivos atrasos. A gente teve casos, como nos Estados Unidos, que levaram nove meses para investigar. Na Argentina, tem processos até hoje. Nós vimos que foi um caso de dimensões planetárias. São 241 mortos, talvez 600 feridos. Nós temos 51 dias de investigação.

ZH – O inquérito será concluído até sexta?

Arigony – Nós estamos fazendo força para concluir até o final de semana.

ZH – O fim do inquérito significa que a investigação acaba?

Arigony – Não necessariamente. Existem questões periféricas, como a da Hidramix, empresa que executou obra prevista no Plano de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI da boate Kiss e que é de propriedade de um bombeiro de Santa Maria).

ZH – O fato do coordenador do Funrebom, o empresário Luiz Fernando Pacheco, sair do comando, neste momento, é encarado como pressão?

Arigony – Não. Eu considero como imaturo e descabida as manifestações dele. Ele não conhece as provas dos autos. Não conhece o conteúdo das declarações que foram colhidas e não conhece as nossas linhas investigatórias. Como a gente disse desde o início, todas as circunstâncias do inquérito serão esclarecidas.

ZH – O comandante-geral do Corpo de Bombeiros, Guido Pedroso de Melo, pode ser ouvido no inquérito?

Arigony – Acho temerário falar disso neste momento. Neste momento, não há vinculação direta com o fato. Mas não concluímos o inquérito. Então, a gente não descarta nada.

ZH – E isso também pode levá-lo a ouvir o secretário da Segurança Airton Michels?

Arigony – Isso tudo é especulação, que não nos cabe neste momento do inquérito policial. O inquérito não foi concluído. Em princípio, não há ligação nenhuma com o fato investigado. E como disse, em princípio, não nos parece que tenha qualquer circunstância a ser esclarecida que seja objeto desta investigação policial. Nosso compromisso é o de esclarecer todas as circunstâncias.

ZH – O senhor foi pressionado?

Arigony – Em nenhum momento. Nós estamos trabalhando em cinco delegados de polícia, mais de 20 agentes policiais.Toda a sociedade está olhando com uma lupa para este inquérito. Nós estamos fazendo a coisa da maneira mais imparcial e isenta que nós podemos. O que nos pressiona um pouco é a questão do tempo. Não é um inquérito policial normal. Nós estamos com 51 dias da investigação policial e somos pressionados pela comunidade, pela imprensa, para apresentar as conclusões.

CARLOS WAGNER



ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO NO RIO

G1- RIO 18/03/2013 19h56

Ex-chefe de UPP é condenado por associação para o tráfico no Rio. Capitão Adjaldo recebia R$ 15 mil por semana de traficante do São Carlos. Primeiro ex-comandante de pacificação a ter condenação, ele segue na PM.

João Bandeira de MelloDo G1 Rio


O ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro de São Carlos, no Estácio, Zona Norte do Rio de Janeiro, Adjaldo Luiz Piedade Junior, foi condenado pela 11ª Vara Criminal da Capital a seis anos de prisão, em regime fechado, por associação para o tráfico.

O juiz Alcides da Fonseca Neto entendeu como procedente a informação da Polícia Federal de que Adjaldo recebia R$ 15 mil por semana do traficante Sandro Luís de Paula, o Peixe, para facilitar o comércio ilegal de drogas.

As investigações da PF constataram o esquema criminoso do capitão da PM entre novembro de 2011 e janeiro de 2012. Na ocasião, a Justiça decretou a perda do cargo de Adjaldo, que ainda faz parte dos quadros da Polícia Militar, embora esteja afastado de suas funções – ele responde ao Conselho de Justificação da corporação, responsável pelo julgamento de oficiais e, se o colegiado decidir expulsá-lo da PM, seu desligamento ainda terá que ser acatado pelo secretário de Segurança.

Adjaldo Luiz é o primeiro ex-comandante de UPP condenado por um crime, de acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP). Também afastado, o Elton Costa Gomes, ex-comandante da UPP Coroa/Fallet/Fogueteiro, entre Catumbi e Santa Teresa, é investigado pela mesma suspeita de receber propina do tráfico para permitir atividades ilegais.

De acordo com denúncia do Ministério Público estadual, como comandante da UPP, Adjaldo Luiz Piedade passava ao chefe do tráfico informações valiosas sobre o planejamento estratégico da UPP, tais como localização, viaturas e a realização de incursões nos morros de São Carlos e na Mineira, também patrulhado pela mesma unidade.

O juiz destacou que Adjaldo Luiz funcionava como um verdadeiro "escudo protetor" para que o tráfico pudesse ser realizado de modo discreto, porém extremamente eficiente. Ele impedia ou dificultava a atuação de seus subordinados. "Em troca, recebia o pagamento da quantia de R$ 15 mil por semana, isto é, ele percebia, por sua atuação no grupo, a quantia de R$ 60 mil por mês", destacou, em sua sentença.

"O capitão PM Adjaldo se utilizou de sua farda, sua insígnia, sua função e, sobretudo, de seu comando, para favorecer e manter a pleno vapor o comércio de drogas na localidade, desonrando a nobre função de Oficial da Polícia Militar", acrescentou o magistrado.

Mais cinco réus, do total de 11, foram condenados. Alex Moura de Matos, gerente do tráfico, a quatro anos de reclusão; Douglas Moura de Matos, braço direito de Alex, a três anos e três meses de reclusão; Anni Fabiana de Souza Barata, Shirlei da Silva Nascimento e Jeovânio Beserra Santos a três anos de prisão. Todos estes tiveram as penas substituídas por prestação de serviços à comunidade e pagamento de multa.

Outros três réus – um deles, também PM – foram absolvidos por falta de provas. Peixe e Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, apontado como outro chefe do tráfico local, tiveram seus processos extintos, pois foram denunciados pelo mesmo crime em outra ação, na 17ª Vara Criminal da Capital.

segunda-feira, 18 de março de 2013

DENUNCIADO USO INDEVIDO DO APARATO POLICIAL

ZERO HORA 18 de março de 2013 | N° 17375

SOB SUSPEITA. Ação de sargento da BM é investigada

O comerciante Adriano Silveira Machado, 37 anos, afirma ter tido a casa invadida por três policiais militares na noite de quinta-feira, após quase uma semana de ameaças que estariam sendo feitas por um sargento de 45 anos do 20º Batalhão de Polícia Militar (BPM).

Por volta das 19h30min, uma viatura com dois PMs fardados e o sargento à paisana teria parado diante da casa na qual Machado também mantinha um armazém, na Avenida Plínio Kroeff, no bairro Rubem Berta, na Capital.

– Mandaram meus filhos saírem. Eu tive medo que me matassem – lembra o comerciante.

Enquanto vizinhos se acumulavam ao redor do armazém, cinco crianças e três adultos teriam sido retirados pelos PMs. Com as portas da casa fechadas, o trio de policiais armados teria agredido o comerciante com socos, chutes e pontapés.

A agressão teria sido um recado para que ele deixasse a residência cedida pelo Departamento Municipal de Habitação (Demhab) e irregularmente comprada pelo sargento em fevereiro. O caso foi registrado na Polícia Civil, e exames no Departamento Médico Legal foram feitos. Uma semana antes, o sargento teria estado na casa do comerciante e, com tom ameaçador, entregue um suposto contrato de compra e venda, firmado entre ele e a ex-mulher de Machado.

– É um terreno cedido para mim, quando eu ainda morava sozinho. Nem eu poderia vender – diz.

Uma certidão do Demhab confirma a cedência do lote e a autorização para que Machado mantivesse ali um estabelecimento. Foi o local para onde a prefeitura o mandou depois de ele ser retirado de uma área invadida em 2007. Para que o lote fosse repassado a alguém, só com ordem do próprio Demhab.

O comando do 20º BPM abriu inquérito policial-militar (IPM) para investigar a ação dos policiais. Conforme o major Alexandre Beiser, não havia ocorrência que justificasse a presença de uma viatura naquele ponto da Plínio Kroeff por volta das 19h30min de quinta-feira:

– A informação que temos é de que esse sargento se utilizou da estrutura da Brigada para tratar de uma desavença particular.

O caso é apurado pela Corregedoria da BM, e o sargento foi afastado do patrulhamento.

EDUARDO TORRES

sábado, 16 de março de 2013

A SOCIEDADE NÃO GOSTA DA POLÍCIA

REVISTA VEJA - 16/03/2013 - 13:47

ENTREVISTA - 'A sociedade não gosta da polícia', diz Beltrame

Secretário de Segurança do Rio admite problemas nas UPPs, nega que vá ser candidato pelo PMDB em 2014 e afirma que os serviços públicos não têm mais a desculpa da falta de segurança para deixar de atender as favelas

Leslie Leitão



José Mariano Beltrame na comemoração de um ano da UPP do Turano (Marco Antônio Cavalvanti/Ag.OGlobo-30-09-2011)


Colocaram na novela o Exército ocupando o Alemão. Mais engraçado é que, casualmente, vi a cena da invasão, acho que no primeiro capítulo. Aquele ator capitão passa pelo tenente e fala: "Tenente, prepara que nós vamos ocupar o Alemão". Assim, como se fosse fácil... Aí eu disse: "Rita, eu vou tomar ali, pegar aquele litrinho de João Caminhador (Johnny Walker) e vou dormir".

Como pai do projeto de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), José Mariano Beltrame tem razões de sobra para alardear as conquistas do projeto, carro-chefe da política de segurança do Rio. Mas o secretário de Segurança do Rio prefere não comemorar, e reconhece que há problemas na empreitada que, como repete, visa a acabar com a violência causada pelo tráfico de drogas, não com a venda de entorpecentes propriamente dita. Camisa social, à vontade, Beltrame recebeu o site de VEJA para uma longa entrevista às vésperas de comandar a operação policial para a criação da 31ª e da 32ª dessas unidades, no Complexo do Caju e na Barreira do Vasco, na Zona Norte da capital. "As pessoas têm uma expectativa superpositiva em cima de segurança pública. Mas de repente acontece alguma coisa... E aí?! Jamais vão me ver mostrar os dentes cantando vitória em segurança pública, porque eu posso não conhecer muita coisa no Rio de Janeiro, mas o crime eu conheço", diz.

Tomando o primeiro de seus 15 cafés diários, Beltrame analisou os ganhos e os problemas do programa que, hoje, envolve 230 favelas ocupadas por 8.000 homens, com 600 viaturas – “estrutura essa maior do que de vários estados brasileiros”, lembra ele. O desafio do momento, afirma, é a consolidação do projeto, que tem como principal mérito o que chama de uma mudança no paradigma de ação da polícia em áreas carentes. “A polícia entrava para dar tiro, para matar, para morrer, para tudo, menos para prestar serviço. E qual foi o resultado? A sociedade não gosta da polícia. E a polícia não gosta da sociedade, por razões que essa guerra produziu”, afirma.

Qual balanço o senhor faz desses quatro anos de UPP?

São infinitamente maiores os efeitos positivos do que os negativos. Digo isso com base nos índices de criminalidade. É uma estrutura imensa. Problemas nós temos e vamos ter. A PM chegou ao Rio de Janeiro para proteger dom João, não a sociedade. Eles foram jogados a fazer guerra, porque essa era a tônica. Você vai lá, dá tiro, morre e mata, pega o espólio e volta. Isto está no DNA das polícias. Não posso dizer que na maioria, mas a lógica está incorporada. E acho que isso se quebrou.

Como controlar os desvios, com o crescimento do projeto?

Enquanto tínhamos Dona Marta, Batan e Cidade de Deus, controlávamos com as mãos. Mas o projeto cresce. A visão que eu tenho sobre isso é a da inteligência. O projeto está grande e vai ficar imenso, temos que estar preparados para isso. Já assinei a criação de uma delegacia de polícia judiciária para as UPPs. Mais: estou com 130 policiais treinados na inteligência aqui para jogá-los nas UPPs, que serão o Serviço Reservado das UPPs. Isso já funciona. Quero mentes novas. As mentes antigas estão aí produzindo resultados há 150 anos que tu conheces melhor do que eu. A UPP não tem manual. É uma proposta, não é um produto comprado em Nova York ou na Colômbia. É um produto das instituições do Rio de Janeiro. Então, essa acomodação das coisas vai ter que ser feita numa tentativa de erro e acerto.

Na fase atual das UPPs, qual é a sua preocupação?

Consolidação. Ela depende da postura do policial, da atitude do policial, da conduta do policial. Isso é uma obrigação nossa, algo que pode ser cobrado do secretário. Já mudamos a formação, demos gratificações. Um praça, se quiser, tira 4.000 reais por mês. Isso pode ser cobrado de mim. Mas a consolidação tem uma série de outros agentes que não estão comigo, que vem da valorização da própria sociedade.

Parte disso não está nas mãos da polícia. Mas em algumas favelas, a polícia entrou e resto do poder público não acompanhou. 

Não sei se estou antecipando a resposta. Me lembro que tempos atrás acharam armas no teto de uma escola na Tijuca. A professora desceu desesperada. Existia um discurso cínico do estado de que a professora não podia dar aula porque o tráfico não deixava, que o dentista não podia ir porque o tráfico não deixava. Esse cinismo acabou. O que estamos fazendo é nos colocando lá para que o resto dos atores façam seus papéis que nunca fizeram. Só que antes tinham a desculpa de que o tráfico não deixava subir. Isso eu sei que estremece um pouco a minha relação com alguns secretários, mas acho que nosso papel aqui é muito transparente. Essa é a inversão. Se um jovem lá não tem perspectiva, não é mais por causa da segurança.

O senhor cobra isso dos outros secretários nas reuniões?

É lógico que eu cobro. A cada ocupação, você entrega para a cidade um pedaço que não existia. Acho que todas essas instituições têm de chegar para os moradores com uma proposta. Vou fazer isso, isso e isso em cinco anos. Dizer: "Eu sou da Saúde, eu vou fazer três postos de saúde, uma clínica da família e tô fora". Aí vem o Transporte para regularizar o mototáxi, enfim.

Mas o tráfico continua nessas favelas...

Você pode ter o tráfico lá dentro. O que não pode ter é o cara armado dizendo que tu não podes entrar. E aí vem a questão de retomada territorial. Essa, para mim, é a vitória. UPP é isso aí. O tráfico de drogas é uma coisa, outra é a violência ligada ao tráfico. Acho que a imprensa ainda tem muito o que bater na segurança. Mas agora não é mais como chutar gato morto. Não posso me queixar da imprensa do Rio, com uns detalhes mais ácidos aqui e ali. Então, vivo dizendo para a PM que nós temos de inverter isso.

Houve uma invasão recente de bandidos ao morro Chapéu Mangueira, que também tem uma UPP.

Isso não está sacramentado. São oito pessoas que estão lá. Três do Jacaré e quatro do Pavão, mais um que era de lá (o líder da invasão, Jony Paulo). Já sabemos quem são, já pedimos a prisão de todos eles, para você ter uma ideia de que a gente se mexe.

Os tiroteios têm ocorrido com mais frequência. Como o senhor acompanha isso?

Isso ainda vai acontecer. São ações de algum tipo de resistência de quem não está disposto a perder os negócios ilícitos que dominava naquelas áreas. É ruim? Claro que é ruim. Mas mesmo assim é muito melhor do que antes. O ótimo é inimigo do bom. Antes, as pessoas morriam lá dentro e você nem ficava sabendo. Hoje, pode ocorrer de, numa troca de tiros, termos um óbito em um desses locais. Mas a DH (Divisão de Homicídios) vai entrar naquele território. A família vai poder reclamar e enterrar esse corpo. Isso antes não era assim. Mudou. E a partir daí, temos que fazer esses consertos. Problemas nós temos nas ruas também. Por isso, sou sempre muito cético com tudo, porque não é uma caminhada fácil, não.

Como o senhor viu a retomada do Alemão retratada no horário nobre, na novela Salve Jorge, da Globo?

Colocaram na novela o Exército ocupando o Alemão. Mais engraçado é que, casualmente, vi a cena da invasão, acho que no primeiro capítulo. Aquele ator capitão passa pelo tenente e fala: "Tenente, prepara que nós vamos ocupar o Alemão". Assim, como se fosse fácil... Aí eu disse: "Rita, eu vou tomar ali, pegar aquele litrinho de João Caminhador (Johnny Walker) e vou dormir". Pô, aquilo foi um esforço gigante da Polícia Civil, da Polícia Militar, sem condição nenhuma de fazer. E os policiais, ainda assim, deram uma resposta. Olha o que saiu lá de dentro (mais de 500 armas). Não foi assim, ‘prepara lá a cavalaria’. No Alemão, pela história, pelo passado, pelo que significou para o crime e pelo tamanho, esse desafio ainda é muito longo. Você tinha ali dentro vários comandos distribuídos de uma mesma facção. Uma verdadeira “agência reguladora do crime” do Rio de Janeiro. Colocava o preço na droga, no fuzil, era o pulmão financeiro dos negócios. Tudo era ali.

Parte da população das favelas odeia a polícia.

E com razão. Aqui no São Carlos (morro na região central do Rio) um menor de idade se pelou, baixou as calças e mostrou as coisas para uma policial feminina. Ela veio aqui pedir para ir embora. Eu falei: "Não faça isso!" Você tem que reconquistar corações e mentes dentro de um quadro histórico de 40 anos. Como fazer isso? Mostrando que tu estás ali com outro propósito. Invertemos o paradigma, evitando mortes de inocentes e de policiais, com uma ocupação territorial. Consequentemente, houve uma queda vertiginosa de homicídios, autos de resistência, assalto, bala perdida. A conquista é essa. Agora, você precisa arrumar e apresentar uma polícia para essa nova situação que se gerou.

De que maneira?

A polícia entrava para dar tiro, para matar, para morrer, para tudo, menos para prestar serviço. Com tudo isso, o que aconteceu? A sociedade não gosta da polícia. E a polícia não gosta da sociedade, pelas razões que a guerra promoveu. As UPPs estão dentro de áreas não apenas pobres, periféricas, isoladas socialmente. Estão dentro de ilhas de violência, de arma longa, automática. No imaginário das pessoas, ainda está inserida a guerra. Essas áreas tinham, pelo tráfico, seu poder legislativo, executivo e judiciário. O Tim Lopes é um exemplo pedagógico disso.

Alguns contêineres que servem de pontos avançados das UPPs estão em péssimas condições. Na Vila Cruzeiro não há água sequer para dar descarga na privada.

Isso me deixa louco. Por que não colocam isso no papel, comunicando aos seus superiores? E isso é muito ruim, porque o homem se acostuma com a coisa errada. Vamos fazer uma base estática da UPP ali na Vila Cruzeiro. O contêiner é uma temporariedade. Na minha concepção tem que ter uma obra física que dê um aspecto de perenidade do projeto. Tudo isso está muito claro com os pedidos de compra que fazemos. É com dinheiro do Eike Batista que fazemos as bases todas. Tudo aquilo ali é feito por ele, porque senão, no serviço público você não faz.

Como funciona a parceria com o Eike?

É uma maluquice. A gente vai ocupar, então me dão a especificação do que precisa e eu solicito para a OGX e ela compra lá de quem ela quiser. Mas é uma empresa grande. O Eike não pega a caneta lá e resolve na hora. Ele põe isso numa reunião de conselho. Então, tem uma velocidade, mas também não é uma maravilha.

Existem 30 UPPs hoje. Com mais duas do Caju chega-se a 32. O projeto inicial eram 40. Esse número será ampliado?

O projeto era para fazer 40. Não vou dizer se serão mais cinco, mais seis, mais duas, porque não quero criar expectativas, fazer coisas espetaculares, para dizer: "Ai, que beleza, UPP resolveu tudo!" Mentira! Mas já ampliamos o projeto. No papel já está desenhado e ampliado.

O senhor será o candidato a vice-governador na chapa de Luiz Fernando Pezão em 2014 pelo PMDB?

Não tenho essa pretensão. Isso não está na minha cabeça. Sou secretário de Segurança e tenho um mundo de coisas a fazer aí. E outra coisa: acho que tudo na vida é uma corrida de revezamento. Ali na frente, você passa o bastão. Eu tenho um tempo, e são oito anos. Eu tenho a minha vida, tenho um filho que eu não vejo, tenho um monte de coisas aí...

quinta-feira, 14 de março de 2013

PM EM SERVIÇO MORRE ATROPELADO

O ESTADO DE SÃO PAULO, 14 de março de 2013 | 9h 33

PM morre e outro fica ferido após serem atropelados por caminhão em SP. Com o choque, eles foram arremessados e caíram da ponte de acesso para a Rodovia Presidente Dutra

Breno Pires


SÃO PAULO - Um policial militar morreu e outro ficou gravemente ferido após serem atropelados por um caminhão, na manhã desta quinta-feira, 14, na Marginal Tietê, próximo à alça de acesso à Rodovia Presidente Dutra, em São Paulo. Nenhum dos dois foi identificado até o momento.

Mario Angelo - Sigmapress/AE
Um policial militar morreu e outro ficou gravemente ferido

Os policiais estavam fora da viatura, em um acostamento que fica na alça de acesso à Dutra. O caminhão, que vinha da Marginal Tietê, atropelou os dois e em seguida colidiu com a viatura. Com o choque, eles foram arremessados e caíram na pista expressa da Marginal, segundo registro da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

Um dos PMs sofreu politraumatismo e parada cardiorrespiratória e foi levado ao PS Tatuapé. O policial chegou ao hospital sem respirar. Apesar da tentativa de a equipe médica reanimá-lo, ele morreu.

O outro policial foi levado de helicóptero ao PS Santa Marcelina. Ainda não há informações sobre o seu estado de saúde.

Tanto o PS Tatuapé como o PS Santa Marcelina informaram que os policiais foram levados sem documentos, o que impede a identificação.

Por volta das 9h10, duas horas após o acidente entre o caminhão e a viatura da PM, apenas a faixa da direita da alça de acesso da Marginal do Tietê para a Rodovia Presidente Dutra estava bloqueado - as outras três faixas estavam liberadas. A pista expressa, que chegou a ser interditada, já está livre para a passagem. O tráfego já foi normalizado no local, segundo a CET, apesar da grande quantidade de veículos, típica do horário.