ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

sábado, 13 de dezembro de 2014

ASSALTO A MUSEU TEM OITO ANOS SEM SOLUÇÃO


REVISTA ÉPOCA, 12/12/2014 07h00

O assalto ao Museu Castro Maya. Um crime sem solução. O crime é um dos dez maiores roubos de arte do mundo. Oito anos depois, ninguém foi preso, e a polícia parou de investigar

MARCELO BORTOLOTI




BEM ORIENTADOS O Museu Castro Maya no dia do assalto.Os ladrões levaram o que havia de mais valioso. Na fuga, ainda roubaram duas bolsas de turistas (Foto:Arquivo/Agência O Globo)

Capítulo 1

PICASSOS E MATISSES NO MEIO DE UM BLOCO DE CARNAVAL

Sexta-feira, véspera do Carnaval de 2006. Dia em que o tradicional Bloco das Carmelitas reúne foliões vestidos de freira no bairro de Santa Teresa, no Rio, e causa grande transtorno na vizinhança. No mesmo bairro, o Museu Castro Maya, fundado em 1963 com a casa e a coleção do industrial de mesmo nome, dispensa sua equipe mais cedo. Foi esse o palco do maior roubo de obras de arte da história do Brasil, considerado pelo FBI um dos dez maiores do mundo. Quatro homens com menos de 30 anos, um deles menor de idade, vestindo bonés e camisetas, entraram no museu como visitantes, renderam vigias que não estavam armados, arrancaram quatro quadros das paredes e fugiram, misturados na bagunça dos carmelitas. Aproveitaram a oportunidade para levar a bolsa de duas turistas estrangeiras que visitavam o museu. Até hoje, não foram encontrados os culpados – e a história da investigação diz muito sobre o baixo índice de solução de crimes no Brasil.

Os bandidos foram orientados por alguém a pegar o que havia de mais valioso em exposição. Subiram ao 1o andar, onde ficava a sala de jantar e a biblioteca. Retiraram da parede da biblioteca uma pintura grande de Pablo Picasso e um quadro do francês Henri Matisse. Dias depois, ele foi oferecido por US$ 13 milhões num site de leilões russo. Da parede oposta, arrancaram a obra Os dois balcões, da fase mais criativa de Salvador Dalí. Da sala de jantar, retiraram uma paisagem marinha do impressionista Claude Monet. Cortaram o fio de náilon que a sustentava usando uma faca de prata que estava sobre a mesa.

A fuga foi marcada por atropelos. Coube ao menor dos bandidos carregar o quadro A dança, de Picasso, com 1 metro de altura e moldura pesadíssima. Atrapalhado com o peso e o tamanho da obra, ele caiu de costas na trilha pelo meio da mata, usada na fuga. Com a queda, a pintura de US$ 15 milhões sofreu um rasgo lateral.

Quando o perito da Polícia Federal chegou ao museu, policiais militares, civis, funcionários e até jornalistas circulavam pela cena do crime. O agente coletou impressões digitais numa travessa de louça e num vidro da estante, retirado pelos ladrões para roubar um volume de gravuras de Picasso.

Capítulo 2

OS TELEFONES FORAM GRAMPEADOS, MAS NINGUÉM GRAVOU AS ESCUTAS

A investigação caiu nas mãos de Isabelle Vasconcellos Kishida, uma delegada atraente que tinha 27 anos, responsável pela Delegacia de Combate a Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal. Surpreendida no meio do Carnaval, Isabelle interrogou vigilantes, mandou fazer retrato falado dos bandidos e descobriu no Morro dos Prazeres, não muito longe do museu, indícios de que os ladrões haviam queimado a moldura de três quadros para facilitar o transporte das obras.

Uma denúncia anônima a levou até Paulo Gessé, motorista que ajudara na fuga dos bandidos, numa Kombi. Ele morava a 500 metros dali. Confessou sua participação e disse que foi coagido. Imediatamente, Isabelle pediu que o telefone de Gessé fosse grampeado. Era Carnaval, e não havia ninguém na central de escuta da Polícia Federal. Os agentes de plantão haviam sido deslocados para ajudar numa apreensão de 500 quilos de maconha. Isabelle improvisou. Pediu que a operadora de telefonia desviasse o grampo para seu celular pessoal. Durante os cinco dias em que o telefone de Gessé foi grampeado, só ela conseguiu ouvir as conversas. Nenhuma ligação foi gravada. Segundo Isabelle, no dia seguinte ao crime, Gessé recebeu a chamada de alguém informando que havia “dado tudo certo” e que sua Kombi retornava da “entrega”. Não foi possível localizar posteriormente o número do telefone de onde partiu a ligação. Dias depois, noutra conversa que Isabelle acompanhou, o advogado de Gessé disse que manteve contato com “o chefe”. A declaração de Isabelle foi suficiente para que o juiz decretasse a prisão preventiva de Gessé. Quando ele foi julgado, não havia provas concretas. O próprio Ministério Público Federal pediu a absolvição, alegando que “as palavras da douta Delegada Federal restam vazias” diante da ausência das gravações.

Capítulo 3

A CAÇA AOS SUSPEITOS

As investigações prosseguiram. Um crime sofisticado como esse certamente deveria ter um mandante, possivelmente estrangeiro. Não ficou esclarecido se a oferta da pintura de Matisse no site russo era real nem se fora feita pelo próprio bandido. Quadros roubados que entram na lista da Interpol, como nesse caso, não são oferecidos em venda pública. O mandante poderia guardar em casa, para seu próprio deleite, ou vender no mercado negro a colecionadores com a mesma disposição. A polícia chegou a alguns nomes por meio de denúncias anônimas. Um deles era Patrice Charles Rouge, francês naturalizado brasileiro, interessado em arte, que costumava trabalhar no mercado de pedras preciosas. Ele morava em Santa Teresa, perto do museu e do Morro dos Prazeres. Isabelle reuniu seus homens e partiu para uma busca em sua casa. Era um dia de semana, no meio da tarde. Os agentes vestidos de preto, fortemente armados, cercaram a entrada. Um deles tocou o interfone e disse à empregada que tinha uma encomenda para entregar. Quando a moça saiu, eles a renderam e invadiram o lugar.

Dentro da casa, um homem trocava de roupa no quarto. Quando os agentes entraram, encontraram o ator Osmar Prado. O susto foi das duas partes. Osmar comprara a casa havia dois anos. Achou que os policiais fossem bandidos. Desfeito o equívoco, ele repreendeu duramente os agentes, aos berros. “Eles me acalmaram, pediram desculpas pelo erro e disseram que entraram assim, com receio de que o bandido jogasse as obras no mato. Na época, me pediram para não contar o ocorrido para ninguém, e realmente não contei”, diz Osmar.

AS OBRAS
1. As falésias perto de Dieppe, de Claude Monet
2. Os dois balcões, de Salvador Dalí
3. Jardim de Luxemburgo, de Henri Matisse
4. A dança, de Pablo Picasso
5. Chegou-se a oferecer recompensa por informações sobre o roubo
(Fotos: SuperStock/Glow Images, repdrodução (2), Glow Images/Art Images Archive, Ana Carolina Fernandes/Folhapress)

O outro suspeito – talvez em dupla com Patrice – era o também francês Michel Cohen. Ele atuara durante 20 anos no mercado de arte americano e praticara fraudes envolvendo quadros de artistas como Picasso, Matisse e Dalí. Cohen pegava pinturas em consignação nas grandes galerias ou casas de leilão nos Estados Unidos, como a Sotheby’s, as vendia a colecionadores no mundo todo e não repassava o dinheiro recebido. Ele mudou-se para o Brasil após ser indiciado por mais de 20 casos de fraude nos Estados Unidos. Em 2003, foi preso pela Interpol no centro do Rio. O governo americano pediu sua extradição. Enquanto aguardava o julgamento, ele foi mandado para o presídio Ary Franco, onde dividia com outros presos uma cela úmida no subsolo. Alegando problemas de saúde, foi transferido para um hospital penitenciário. Um dia simulou um ataque. Precisava de transferência urgente para outro hospital. A ambulância estava quebrada, e o agente penitenciário Edmar Barbosa de Andrade o levou em seu carro. Não algemou Cohen, nem travou as portas do carro. Quando o veículo parou no sinal vermelho, Cohen abriu a porta e sumiu. Edmar foi autuado por facilitação da fuga. A extradição de Cohen foi negada pelo Supremo Tribunal Federal, porque o governo americano não enviara os documentos em português – e porque Cohen já estava desaparecido mesmo. O roubo ao museu aconteceu três anos depois de sua fuga. A delegada Isabelle tentou localizá-lo, sem sucesso.

Em 2011, cinco anos após o roubo, a delegada Simone Soares Leite substituiu Isabelle. Ela tomou uma iniciativa aparentemente óbvia, que até então ninguém tomara: pediu a quebra do sigilo telefônico dos suspeitos para verificar o histórico das ligações seis meses antes e seis meses depois do crime. A quebra se referia ao período entre setembro de 2005 e setembro de 2006. As operadoras responderam que tal informação era impossível, pois a lei determina o prazo máximo de cinco anos para guardar o histórico das chamadas.

Em outubro de 2013, o procurador do Ministério Público Fernando José Aguiar enviou um despacho à Polícia Federal questionando por que, até aquele momento, sete anos depois do roubo, o resultado dos exames das impressões digitais colhidas no museu não saíra. Dois meses depois, o perito Márcio Corrêa Martins, que colhera as impressões digitais, informou que o local do crime não fora preservado e que nenhum dos vestígios coletados tinha qualidade técnica suficiente para identificar qualquer suspeito. Depois de novos trâmites burocráticos, em setembro deste ano, o delegado Éder Francis Oliveira enviou um relatório ao juiz responsável e pediu o fim das investigações.

ÉPOCA encontrou pistas dos dois suspeitos que apareceram na investigação. Patrice tem em seu nome uma empresa chamada Brazilian Showroom, com endereço na Upper Richmond Road, em Londres. Também consta um endereço residencial na cidade de Albi, na França. Ele tem uma filha advogada, dona de um escritório no centro do Rio. Ela nega a participação do pai no assalto. O francês Cohen continua com paradeiro desconhecido. Sua mulher, Ulricke Zenkell, mora na França, com os três filhos do casal. Ela trabalha com joias numa empresa chamada Société d’Affinage et Apprêts de Métaux Précieux, com sedes nas cidades de Limonest e Lyon. Gregória, como é conhecida no Brasil, tem conta no Facebook e vários amigos brasileiros. Os filhos de Cohen visitam o Brasil todos os anos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

FUGA DE SOLDADO MATADOR FOI ALERTADA E IGNORADA


Coronel é morto a tiros no bairro Chácara das Pedras, na Capital Jean Schwarz/Agencia RBS
ZH 12/12/2014


BM ignorou alerta sobre risco de fuga de condenado por morte de Molinas. Brigada abre inquérito para apurar se ação foi facilitada em presídio. Coronel aposentado foi assassinado há dois anos e tinha documentos sobre Rubens Paiva, morto no regime militar


por José Luís Costa



O desprezo a um alerta sigiloso permitiu a fuga da cadeia do soldado da Brigada Militar Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, um dos PMs condenados pela morte do coronel aposentado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, ex-chefe do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro, nos anos 1980.

Uma semana antes da escapada, o documento circulou entre quartéis da BM e no Batalhão de Polícia de Guarda, responsável pelo controle do Presídio Militar, onde estava recolhido o soldado. O informe, sem esmiuçar detalhes, relatava que Maiquel pretendia fugir do mesmo modo que ocorreu. Apesar do aviso, nenhuma providência teria sido tomada.

O documento é uma das descobertas do inquérito-policial militar (IPM) que apura o caso. Maiquel fugiu na noite de sexta-feira passada do presídio, localizado dentro do terreno do Batalhão de Operações Especiais, no bairro Partenon, na Capital. O PM foi visto pela última vez no jantar, às 19h, e o sumiço foi percebido cerca de três horas depois, no momento da conferência dos presos. Nesse intervalo de tempo, ocorria um culto religioso no refeitório, localizado no piso térreo da cadeia.

Maiquel teria aproveitado para arrombar uma porta e uma janela, saltando para o pátio e, depois, o muro externo. Do lado de fora, um carro o esperava. A escapada não teria testemunhas nem registros de câmeras de vigilância.

Naquele mesma noite, o comando-geral da BM determinou abertura do IPM, já sob fortes suspeitas de que a fuga foi facilitada por omissão ou facilitação.

— O inquérito vai apurar o que aconteceu e quais atitudes foram adotadas. Todos dias chegam inúmeros informes e precisam passar por filtros. Existia uma informação e deveria ter sido mudada a rotina para tentar evitar a fuga — afirma o coronel Alfeu Freitas, subcomandante-geral da BM.



Maiquel, por ter mais de cinco anos de serviços à corporação, aguardava no Presídio Militar o desfecho do processo administrativo que deve resultar na exclusão dele. Depois, deveria ser levado para o Presídio Central. Ainda não há pistas do paradeiro do soldado.

Entenda o caso

O soldado da BM Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, lotado no 11ª Batalhão de Polícia Militar, na zona norte da Capital, estava preso desde 18 de dezembro de 2012.

Ele tem condenações que somam 29 anos e 11 meses de cadeia por assalto a uma farmácia e pelo latrocínio (roubo com morte) que vitimou o coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos, em novembro de 2012. O objetivo seria roubar a coleção de 23 armas de Molinas.

Nos dois casos, Maiquel estava acompanhado do colega dele, o soldado Denys Pereira da Silva, 25 anos, condenado a 29 anos e 10 meses pelos mesmos crimes.

A morte de Molinas ganhou repercussão nacional porque a vítima tinha sido chefe do Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro.

Após o crime, foram encontrados documentos na casa de Molinas que comprovaram a passagem pelo DOI-Codi, em 1971, do deputado paulista Rubens Paiva, torturado e morto no Rio durante a ditadura militar, fato jamais admitido pelas Forças Armadas. O corpo de Paiva nunca foi encontrado.





ZERO HORA 07/12/2014 | 11h28


BM busca informações sobre paradeiro de soldado condenado por morte de ex-chefe do DOI-Codi. Investigação está sendo realizada com pessoas próximas a Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, foragido desde sexta


Maiquel de Almeida Guilherme foi condenado pela morte do ex-chefe do DOI-Codi, em 2012 Foto: Divulgação / SSP Sist Guardião


A Brigada Militar realiza uma busca "virtual", como define o corregedor Jairo de Oliveira Martins, para encontrar o soldado Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, que fugiu do Presídio Militar, em Porto Alegre, na noite da última sexta-feira.

O soldado, que trabalhou como PM no 11º Batalhão da Polícia Militar, foi condenado a 29 anos e 11 meses de prisão por dois crimes: a morte do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias, ex-comandante do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro, nos anos 1980, em uma tentativa frustrada de assalto, e ao roubo a uma farmácia, ambos os crimes no final de 2012.

Conforme o coronel Martins, a BM está buscando informações com pessoas próximas do fugitivo, mas ainda não conseguiu identificar o paradeiro do soldado. Ninguém teria presenciado a fuga de Maiquel, mas acredita-se que tenha sido durante um culto religiosos, que ocorria no refeitório — ele teria fugido por uma janela. O comando-geral da BM determinou a abertura de um Inquérito-policial Militar para apurar a fuga, que será conduzido pelo tenente-coronel Arlindo Marques.


Maiquel ingressou na BM em 2009 e, por causa dos crimes, responde a um processo administrativo que deverá resultar na sua expulsão da corporação. Com Maiquel, também foi condenado pelos crimes o colega dele, Denys Pereira da Silva, 25 anos, que já foi excluído da BM – e está recolhido no Presídio Central de Porto Alegre. ​

Relembre o caso

Os policiais militares Denys Pereira da Silva, 24 anos (à época), e Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, foram condenados pela Justiça gaúcha pela morte do coronel de reserva do Exército Júlio Miguel Molina Dias, 78 anos. O crime ocorreu após um assalto frustrado, em 1º de novembro de 2012.

Ex-chefe do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio de Janeiro, o oficial guardava em casa um tesouro histórico: uma pasta com 200 folhas, a maioria com timbre do Ministério do Exército, continha o registro de entrada do ex-deputado federal, engenheiro civil e empresário paulista Rubens Paiva, no DOI-Codi. A passagem dele pelo centro de tortura jamais foi admitida pelas Forças Armadas.

Nos documentos de Molinas também constavam manobras militares para encobrir o atentado à bomba no Riocentro, protagonizado por homens de serviço de espionagem do Exército, em 1981.








quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O PERIGO E A FALÁCIA DA DESMILITARIZAÇÃO DA POLÍCIA

REVISTA VEJA, Blog  Felipe Moura Brasil 22/04/2014


Morrem cerca de 50 mil pessoas assassinadas por ano no Brasil, resultado evidente de um governo que fomenta a criminalidade, de legisladores que protegem os bandidos e da hegemonia cultural esquerdista que alçou ambos ao poder, com seus “pensadores” que legitimam moralmente os crimes e atacam as forças policiais, sobretudo se militares, projetando contra as instituições os erros, excessos e, sim, crimes que eventualmente cometem, como em qualquer outra instituição humana, alguns de seus homens.

Isto sem que esses pensadores – e os políticos que os macaqueiam – jamais se pronunciem quando morre um policial, como acontece a cada 32 horas no país.

É preciso expor os nossos problemas de segurança pública.



Delegados e agentes estão se engalfinhando até agora na seção de comentários deste blog, porque escrevi aqui sobre a crise da Polícia Federal e as manifestações dos EPAS (escrivães, papiloscopistas e agentes), cuja pauta – a despeito de pontos aparentemente justos – inclui a PEC 51, de autoria de Lindbergh Farias (PT), que ora tramita no Senado e que – também a despeito de pontos aparentemente justos – propõe a desmilitarização da PM.

Minha questão é: como pode boa parte dos EPAs lutar ao mesmo tempo contra a instrumentalização da PF pelo PT e a favor do projeto de um petista que, seguindo a cartilha da ONU, centraliza ainda mais o poder federal, como aconteceu na Venezuela de Chávez e Maduro? Em nome da reestruturação da carreira, os agentes estão dispostos a fornecer este imenso poder ao adversário que agora denunciam? Ou eles não o teriam?

Não me venham com a conversa mole de que a proposta deve ser discutida sem partidarismos, ao mesmo tempo em que condenam a “ideologia militar” e o “legado ditatorial” da PM, com um discurso inteiramente contaminado de ideologia esquerdista em seu sentido mais embusteiro, ou seja, psolista. Eu quero saber é qual a proteção que a população brasileira teria contra o controle do governo federal sobre as polícias, inclusive no que concerne à inoculação de uma ideologia infinitamente mais perniciosa que os valores militares na formação dos novos policiais.

Seguem abaixo duas críticas fundamentais à desmilitarização da PM que reforçam esses pontos:

Item I – No programa “Tratamento de Choque” da Rádio Vox, que transcrevo de forma resumida, Diogo Fontana mostra o perigo de entregar 500 mil homens armados nas mãos do PT;

Item II – O sociólogo e jornalista José Maria e Silva contextualiza a polêmica em artigo, com todas as suas questões acadêmicas, culturais, vocacionais, institucionais e prisionais que a propaganda das partes interessadas sempre encobre.

Por fim, um vídeo de Paulo Eduardo Martins, só para colocar a ONU no seu devido lugar.

O blog está aberto para este debate complexo, o que não quer dizer que vai aprovar as infâmias de militantes histéricos.

I.  O perigo da desmilitarização da polícia: 500 mil homens armados nas mãos do PT


DIOGO FONTANA: (…) O fim da PM é uma bandeira que foi lançada de forma publicitária no filme “Tropa de Elite 2″, que foi feito por psolistas para o PSOL e para a esquerda.

Na cena final, o Capitão Nascimento fala: “A PM do Rio tem que acabar.”


…Então soltaram esta ideia, que vem crescendo. Ela ganhou as ruas com os Black Blocs e outros apadrinhados do PT e já virou Proposta de Emenda Constitucional.

É a PEC-51 criada pelo senador Lindbergh Farias, do PT. Essa PEC visa a desmilitarização da Polícia Militar.

Antes disso, eu quero explicar como funcionam as Forças Armadas no Brasil.

O efetivo atual é o seguinte:

Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) - 370 mil homens (servindo agora);
Forças de Reserva – 1 milhão de homens.

Desse 1 milhão, mais ou menos metade são pessoas que já serviram o Exército – desde o sujeito de 45 anos que serviu quando tinha 18 até o cara que serviu no ano passado.

São pessoas que tiveram pelo menos um ano de treinamento militar, mas que estão em casa, fora de forma etc. Custa dinheiro e muito esforço mobilizar e treinar esse pessoal e provavelmente nem existe arma disponível para todos eles.

Os outros 500 mil das Forças de Reserva são justamente os policiais militares de todos os estados do Brasil. Ou seja: metade da Reserva é a PM.

O que é que o PT está propondo, através de Lindbergh Farias?

Acabar com metade das Forças de Reserva das Forças Armadas.

Eles querem amputar quase 40% do tamanho das Forças Armadas. É isto que eles estão fazendo. Quando você ouvir alguém falando em fim da PM, entenda: eles querem cortar quase pela metade o tamanho das Forças Armadas brasileiras.

Se tirar essa polícia, vão colocar outra: uma polícia civil unificada, estadual.

A lei prevê organização municipal da polícia, organização metropolitana, setorial, isto até seria interessante, se não fosse uma artimanha…

As polícias civis unificadas vão ser estaduais, sob o comando do estado, mas a armadilha é a seguinte: mesmo havendo uma multiplicidade de forças policiais neste novo modelo, todas elas serão submetidas a diretrizes federais.

Ou seja: o Governo Federal vai ditar as regras. Vai ter a polícia metropolitana de São Paulo, do Rio, de Sergipe, em cada estado, mas todas elas vão obedecer no fim das contas a um Ministério em Brasília. Ou seja: centraliza o poder ainda mais.

Querem substituir cerca de 500 mil homens sob o comando das Forças Armadas por 500 mil homens dirigidos de Brasília, em última instância pelo Poder Executivo.

Com mais um detalhe:

As instituições de formação dessas novas forças policiais serão também deferais, ou seja: vai ser a oportunidade perfeita de inocular também ideologia na cabeça dos oficiais.

De uma hora para outra, com muita rapidez, o PT vai ter 500 mil homens armados.

Por isto que eu falei: fujam! Se isto acontecer, é “game over” mesmo.

As Forças Armadas estão estado de penúria, sucateadas, os 370 mil homens têm hoje poucos recursos e equipamentos, enquanto que os novos vão certamente receber muito mais investimentos e vão estar praticamente sob o comando de Brasília. O PT vai garantir para si o comando bélico do Brasil.

Vai quebrar a espinha das Forças Armadas, cuja resistência se não for inócua, estará muito fragilizada.

De largada, já vai haver uma desvantagem númerica dos homens da ativa. São 370 mil das três Forças Armadas contra o efetivo inicial de 500 mil na ativa sob o comando do Executivo.

É o controle militar do país. É o golpe final nas Forças Armadas. Isso aí é muito importante e muito perigoso.

Os governadores nominalmente vão ter o poder sobre os seus efetivos policiais, mas as diretrizes vão ser federais e quem vai estar inoculando ideologia serão as escolas federais também. Os policiais vão obedecer a Brasília, isto é lógico.

II. A falácia da desmilitarização da polícia

José Maria e Silva (nov/2013)


Criar um “SUS” da segurança pública, unificar as polícias e despir a PM de sua farda – eis as propostas que prometem revolucionar a segurança pública no País. Praticamente unânimes entre os acadêmicos especializados na área, essas ideias conquistam cada vez mais adeptos em Brasília. É o que se percebe nas discussões da Comissão Especial de Segurança Pública do Senado, instalada em 2 de outubro deste ano com o objetivo de debater e propor soluções para o financiamento da segurança pública no Brasil. Criada por iniciativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a comissão é presidida pelo senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e tem como relator o senador Pedro Taques (PDT-MT).

“O sistema de segurança pública no Brasil está absolutamente falido” – com essa declaração, proferida numa audiência pública realizada no dia 13 de novembro último, o senador Pedro Taques resumiu um sentimento das ruas que hoje encontra guarida até nos quartéis. Cada vez mais estão surgindo depoimentos de policiais militares colocando em descrédito a própria corporação a que pertencem. É o caso do livro O Guardião da Cidade (Editora Escrituras, 2013, 256 páginas), do tenente-coronel Adilson Paes de Souza, fruto de sua dissertação de mestrado “A Educação em Direitos Humanos na Polícia Militar”, defendida na Faculdade de Direito da USP em 2012, sob a orientação do cientista político Celso Lafer.

Nesse trabalho acadêmico, festejado por toda a imprensa, o tenente-coronel da PM paulista defende a ampliação da carga horária do estudo de direitos humanos na formação dos oficiais da Polícia Militar, como forma de combater a tortura. Em artigo anterior, procurei demonstrar que se trata de uma falácia. O Curso de Formação de Oficiais é praticamente um curso completo de Direito e, como se sabe, é impossível estudar qualquer disciplina do Direito sem tratar dos direitos humanos, uma vez que a Constituição de 88, base legal de todas as disciplinas jurídicas, é alicerçada, de ponta a ponta, nos direitos da pessoa humana.

Sobrevivendo na Gestapo brasileira


Em vários momentos do livro, influenciado por pensadores de esquerda, que vêm na polícia um braço armado do sistema capitalista, Paes de Souza, de modo quase indisfarçável, compara a Polícia Militar brasileira com a Gestapo de Adolf Hitler. Chega a descrever o produto das ações da PM como um novo campo de concentração nazista. Com base em artigo da psicóloga e psicanalista Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes, sintomaticamente intitulado “Violência, Massacre, Execuções Sumárias e Tortura”, o tenente-coronel cita como exemplo desses casos, os 111 mortos do Carandiru, em 1992, os 493 mortos quando dos ataques do PCC em 2006 e a Operação Castelinho em 2002, “que constituiu uma emboscada”, com 12 mortos – todos bandidos do PCC, acrescente-se, já que o coronel não o faz em sua tese.

Para a psicóloga Maria Auxiliadora Arantes, citada no livro O Guardião da Cidade, tais acontecimentos “são crimes filhotes de um Estado que deixou intacto um aparelho de matar e que não puniu os que o montaram”. O tenente-coronel Adilson Paes de Souza corrobora literalmente suas palavras, tanto que acrescenta a elas a seguinte frase: “De fato, Auschwitz faz-se presente”. Reparem: Paes de Souza está comparando o trabalho da Polícia Militar – instituição em que atuou durante 28 anos, chegando a tenente-coronel – com a violência das forças nazistas nos campos de concentração de Hitler. Justamente num momento em que a PM está sob o fogo cerrado dos formadores de opinião.

O cientista político Celso Lafer, responsável pela dissertação de mestrado de Adilson Paes de Souza na USP, deveria ter-lhe feito uma pergunta singela antes de aceitar a orientação de seu trabalho: “Onde o senhor estava, na condição de tenente-coronel da Polícia Militar, quando seus subordinados de farda se tornaram exemplos atuais da Gestapo de Hitler, torturando e executando pessoas?” Antes de pontificar sobre os problemas da Polícia Militar, apresentando soluções mirabolantes do conforto de uma cátedra universitária, o tenente-coronel deveria ter respondido para si mesmo essa pergunta. Na condição de tenente-coronel da Gestapo brasileira (a se crer nos seus próprios conceitos), ou Paes de Souza foi cúmplice do holocausto que denuncia ou foi omisso diante dessa carnificina que imputa à PM. Em qualquer dos casos, deveria refletir com mais profundidade sobre o assunto, antes de se arvorar a defender tese, escrever livro e contribuir, ainda que involuntariamente, para a difamação sistemática de que a PM é vítima na imprensa e nas universidades.

Não é possível sobreviver durante 28 anos num aterro sanitário moral e dele sair com a alma cheirando a talco, como canta Gilberto Gil. Em seu livro, citando o economista Albert Hirschman, Paes de Souza fala que os membros de uma instituição podem abandoná-la ou criticá-la quando se sentem descontentes. O autor não diz, mas, no caso da Polícia Militar, a via mais frequente é a omissão: o policial se esconde numa carreira burocrática, evitando o confronto das ruas e, com isso, pode pontificar sobre direitos humanos sem correr riscos. O tenente-coronel sobreviveu ao horror que denuncia foi por essa terceira via? Sem essa explicação, suas reflexões e denúncias sobre a PM perdem muito da autoridade que poderiam ter.

Depoimentos de PM homicidas

Para exemplificar as críticas que faz à polícia, Adilson Paes de Souza colheu o depoimento de dois policiais militares condenados por homicídio e se valeu também de dois depoimentos colhidos pelo jornalista Bruno Paes Manso, do jornal O Estado de S. Paulo. Em junho de 2012, Manso defendeu no Departamento de Ciências Políticas da USP a tese de doutorado “Crescimento e Queda dos Homicídios em São Paulo entre 1960 e 2010”, em que faz uma “análise dos mecanismos da escolha homicida e das carreiras no crime”. Essa tese de Manso já havia lhe rendido o livro O Homem X: Uma Reportagem sobre a Alma do Assassino em São Paulo (Editora Record, 2005), no qual o tenente-coronel buscou os dois depoimentos.

Os policiais ouvidos por Paes de Souza ganharam os apelidos de “Steve” e “Mike”, geralmente dados aos policiais que trabalham nas ruas. O policial Steve foi condenado a mais de 20 anos de reclusão por um homicídio a tiros e facadas. “No auge da prática do ato, senti que estava cheio de ódio e acabei descarregando tudo sobre o corpo da vítima. Tinha um sentimento de ódio generalizado de tudo”, afirma o policial. De origem nordestina, ele contou que seu pai era PM aposentado e costumava conversar com toda a família na hora do jantar sobre o sentimento de honra que envolvia a profissão. Inspirando-se no pai, Steve, ao completar 18 anos, ingressou na polícia, por meio de concurso público.

“Fui designado para trabalhar numa unidade da Polícia Militar na periferia da cidade de São Paulo. Comecei a ver uma realidade que não conhecia: favelas, meninas estupradas, pessoas pobres vítimas de roubo, o que causou revolta”, conta Steve. Movido por essa revolta, diz que começou a trabalhar além do horário normal, prendendo o máximo possível de bandidos, na esperança de acabar com a criminalidade na região. O PM conta que, numa ocasião, prendeu em flagrante dois ladrões que tinham roubado um supermercado, mas na noite do mesmo dia viu os dois na rua. Quando os abordou, soube que fizeram um acordo com o delegado, inclusive deixando na delegacia uma parte da propina para o policial.

“Nesse momento, percebi que a corrupção existente nos distritos policiais da área onde trabalhava gerava a impunidade dos delinquentes”, afirma Steve, que passou a frequentar velórios de policiais mortos em serviço, alimentando ainda mais sua revolta com a impunidade dos bandidos. Foi aí que decidiu fazer justiça com a própria farda: “Eu era juiz, promotor e advogado. Levava a vítima para um matagal, concedia-lhe um minuto para oração e a sentenciava a morte”. Essa vida de justiceiro fardado destruiu sua família. Sua mulher chegou a tentar o suicídio. E, na cadeia, sofreu maus-tratos e não teve a solidariedade dos colegas: os policiais que o visitavam estavam mais preocupados em sondá-lo para saber se não seriam delatados, em virtude de outras ocorrências.

Um dos entrevistados pelo repórter Bruno Paes Manso, citado na dissertação do tenente-coronel Paes de Souza, também relata que se via em guerra contra os criminosos e, movido pelo ideal de resolver o problema da criminalidade, trabalhava praticamente o dobro: as oito horas regulamentares pagas pelo Estado somadas às oito em que combatia o crime de graça, por sua própria conta e risco. Esse policial contou ter deparado com vários casos graves, que só via em filmes. Certa vez, atendeu a uma ocorrência em que uma criança de quatro anos foi estuprada e ele, junto com outros policiais militares, evitou o linchamento do estuprador. “Nesse momento, achou um contrassenso ter que proteger quem havia praticado uma monstruosidade contra uma menina. Sentiu revolta”, relata Paes de Souza.

Mais confrontos, mais mortes
Esse é praticamente o padrão dos depoimentos de policiais militares condenados por homicídio: 1) imersão idealista do policial no combate ao crime; 2) revolta com a impunidade dos criminosos; 3) justiça com a própria farda; 4) prisão, arrependimento e transferência da culpa para a corporação militar. O livro Sangue Azul (Editora Geração Editorial, 2009), baseado no depoimento de um soldado da PM do Rio de Janeiro ao documentarista Leonardo Gudel, também segue esse padrão. E, de acordo com as entrevistas concedidas pelo autor, parece que o recém-lançado Como Nascem os Monstros (Editora Topbooks, 2013, 606 páginas), romance do policial carioca Rodrigo Nogueira, condenado e preso por homicídio, também não foge à regra.

Um sargento preso por homicídio e ouvido por Bruno Paes Manso explica que o “assassinato é uma importante ferramenta no cotidiano perigoso do policial militar que trabalha na rua”, e acrescenta que “se os policiais fossem proibidos de matar seria melhor que parassem de trabalhar”. Esse mesmo policial diz ainda: “Sem contar que a bandidagem está cada vez ficando mais ousada, mais armada e respeita cada vez menos a polícia. Isso é explicado dessa forma, isso não foi a polícia que motivou. Hoje tem muito mais reação, o pessoal enfrenta, por isso tem mais morte”. O tenente-coronel Paes de Souza, do alto de sua tese da USP, classifica essa fala do sargento como simplista, por afirmar que mais criminalidade significa mais confronto e, consequentemente, mais mortes.

Ora, simplista é o modo como o tenente-coronel, desprezando seus 28 anos de experiência como policial, deixa-se seduzir pela inútil retórica da academia e utiliza esses depoimentos para corroborar teses injuriosas a respeito da Polícia Militar, que a acusam de ser uma máquina assassina, nazista, semelhante a Auschwitz. Quando atribuem à Polícia Militar o suposto “genocídio da juventude negra”, calúnia que já foi corroborada até por membros do Poder Judiciário, os acadêmicos escondem dois detalhes cruciais: primeiro, muitos jovens negros das periferias são recrutados pelo narcotráfico e matar ou morrer são verbos que conjugam diariamente; segundo, a Polícia Militar emprega muito mais negros do que as universidades que a criticam. Então, a ser verdade o que diz a academia, esses policiais não seriam genocidas, mas suicidas: estariam matando deliberadamente seus próprios familiares.

O tenente-coronel e os demais acadêmicos que escrevem teses sobre segurança pública acreditam que basta perorar sobre direitos humanos no ouvido de um soldado para que ele saia à rua com flores na boca do fuzil, ajudando velhinhas no semáforo e pegando crianças no colo, até que surja um marginal armado e esse policial, consciente de seus deveres, saque da farda um exemplar da Constituição e atire no rosto do bandido seus direitos humanos, para que o criminoso estenda os pulsos com cidadania e seja algemado com dignidade. É óbvio que a terrível complexidade da segurança pública não se rende a golpes de retórica sobre direitos humanos.

Policial só se equipara a médico

Uma análise verdadeiramente profunda dos depoimentos dos homicidas da PM revela a complexa natureza do trabalho policial, que, em qualquer tempo e lugar, é inevitavelmente insalubre para a alma. O policial é como o médico: sem uma dose sobre-humana de frieza, ele não será capaz de proteger vida nenhuma, pois o medo do sangue, da mutilação, do cadáver, irá acovardá-lo diante do dever a ser cumprido. Por isso, ser policial não é para qualquer um. Os policiais homicidas tentam enganar a própria consciência quando dizem que a corporação os transformou em violentos. O potencial de violência já estava presente neles ou não teriam sonhado em ser policial, uma profissão que, em algum momento, há de exigir violência para que as leis sejam cumpridas. Afinal, se bandido ouvisse conselho, não entraria no crime.

Polícia não é assistência – é contenção. Ela é chamada justamente quando as normas da cultura e os mandamentos da lei já não são suficientes para manter o indivíduo no bom caminho e alguém precisa contê-lo. Por isso, a polícia tem de ser viril. A testosterona que faz o bandido violento é a mesma que faz o policial corajoso. Daí a importância de se separar ontologicamente o policial do criminoso. Ao contrário do que acreditam os acadêmicos, o policial tem que tratar o bandido como inimigo, sim. O soldo sozinho – por maior que seja – não é capaz de separar o policial do criminoso, pois a natureza mais profunda de ambos e o ambiente em que vivem se alimentam da mesma virilidade masculina, responsável por mais de 90% dos crimes violentos em qualquer cultura humana em todos os tempos.

O policial de rua, obrigado a enfrentar o crime de arma em punho e não de uma sala refrigerada da USP, é como um médico num campo de refugiados ou em meio a uma epidemia letal: se trabalhar só pelo dinheiro, ele voltará para casa na hora, pois não há salário que pague sua própria vida, permanentemente em risco. Para compensar os riscos da profissão, o policial precisa ser tratado como herói. Especialmente num país como o Brasil em que a criminalidade soma cerca de 63 mil homicídios por ano (de acordo com estudos do Ipea). O policial precisa ter a certeza de que, ao tombar no campo de batalha, sua morte não será em vão: a sociedade irá cultuá-lo como herói diante de sua família enlutada e o bandido que o matou será severamente punido.

No Brasil, ocorre justamente o contrário: enquanto a morte de bandidos é cercada de atenção pelas ONGs dos direitos humanos e gera violentos protestos de rua em São Paulo e Rio, a morte de um policial não passa de uma efêmera nota de rodapé no noticiário e, em muitos casos, sua família não recebe nem mesmo a visita das autoridades da própria segurança pública, temerosas do que possam pensar os formadores de opinião. Já em países como os Estados Unidos, um bandido reluta em matar um policial, pois sabe que o assassinato será motivo de comoção pública e a pena que o aguarda será à altura dessa indignação cívica com a morte de um agente da lei.

Completa inversão de valores

Mas não basta tratar como herói o policial – também é preciso tratar o bandido como bandido. O ser humano é um ser relativo e não consegue julgar em absoluto, mas somente por meio de comparação. Por isso, ao mesmo tempo em que se enaltece o policial corajoso e honesto, é preciso punir verdadeiramente o criminoso, para marcar a diferença entre ambos. O policial se revolta ao proteger de linchamento o estuprador de uma criança ou ao levar para o hospital o bandido ferido que tentou matá-lo porque sabe que seu trabalho heroico e humanitário foi inútil: logo, esses bandidos serão postos na rua para cometer novos homicídios e estupros.

Mesmo o estuprador de uma criança ou o homicida que queima viva sua vítima têm direito a todas as regalias da legislação penal, travestidas de direitos humanos. Até criminosos que matam ou estupram mulheres gozam de benefícios absurdos, como a famigerada visita íntima. A Resolução CNPCP Nº 4, de 29 de junho de 2011, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, instituiu de vez a visita íntima como um direito do preso qualquer que seja a gravidade do seu crime. No seu artigo 4º, a resolução deixa claro que “a visita íntima não deve ser proibida ou suspensa a título de sanção disciplinar”; ou seja, mesmo se o preso promover rebeliões e mortes na cadeia, a visita íntima continuará sendo assegurada a ele como um direito sagrado, à custa da segurança da sociedade. É óbvio que a mulher que se presta a lhe servir de repasto sexual também há de lhe fazer outros favores associados diretamente ao crime, como passar recados para seus comparsas que estão fora das grades.

É por isso que quando uma patrulha da PM leva um criminoso ferido para o hospital, muitas vezes junto com um policial também ferido na troca de tiros, os policias que assim agem precisam ser tratados como heróis. É sua única recompensa. Não há salário que pague esse gesto. Não é fácil para nenhum ser humano salvar a vida de seu próprio algoz sabendo que aquele criminoso que tentou matá-lo não será punido como merece, pois, na cadeia, continuará comandando o crime, com direito a saídas temporárias, visitas íntimas e outras regalias. A legislação penal é tão moralmente hedionda que um dos assassinos do jornalista Tim Lopes, depois de preso, jogou água quente em sua companheira dentro da própria cela. E esse novo crime bárbaro só foi possível porque o Estado brasileiro – cúmplice contumaz de bandidos – garante a famigerada visita íntima até para um monstro dessa espécie.

Feministas contra a polícia

Mas, por incrível que pareça, até as feministas – que criticam violentamente a polícia – defendem as visitas íntimas para presos, consideradas uma extensão dos direitos humanos e classificadas como “direitos sexuais”. Ora, direito sexual é como o direito de expressão: toda pessoa tem o direito de falar, mas não tem o direito de obrigar o outro a ouvi-la. O preso não pode ser impedido de sonhar com uma mulher ou até de satisfazer solitariamente sua libido. Mas isso não significa que ele tem o direito de manter relações sexuais dentro da cadeia, mesmo que seja com sua esposa. E a razão é simples: seu desejo sexual não pode ser posto acima da segurança da sociedade. É óbvio que, durante a visita íntima, não há meio de controlar o preso. Ele pode usar a visita – e sempre usa – para transmitir recados aos comparsas fora da cadeia, daí o comando que o cárcere continua tendo sobre o crime organizado. Praticamente todas as centrais telefônicas do PCC são administradas por mulheres de presidiários. E mulher de preso inevitavelmente o obedece, sob pena de ser morta.

O mesmo se dá com a alimentação do preso. Não deixar um latrocida morrer de fome e sede na cadeia é garantir-lhe um direito humano básico, mas permitir que ele escolha o cardápio, por meio de rebeliões, como ocorre com muita frequência nos presídios brasileiros, não passa de um abuso com o dinheiro de suas vítimas. Hoje, até o criminoso que queima sua vítima viva tem direito a remissão de pena não por dias trabalhados, por horas de estudo e, pasmem, até pela simples leitura de romances na cadeia. Ou seja, o que os acadêmicos chamam de “direitos humanos” são, na verdade, privilégios civis, que deveriam ser privativos do cidadão que respeita as leis e não do bandido que fere o contrato social e, por isso, tem de ser excluído da esfera da cidadania enquanto cumpre sua pena.

Hoje, a inversão de valores é tanta que, oficialmente, por meio das políticas públicas do governo federal, o policial militar se tornou o inimigo público número um, enquanto se concede ao criminoso o monopólio dos direitos humanos. A Resolução nº 8, de 21 de dezembro de 2012, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, sob o comando da ministra Maria do Rosário, estabelece em seu artigo 1º que, quando um bandido morre em confronto com a polícia, na descrição de sua morte nos registros oficiais não deve mais ser usada a expressão “resistência seguida de morte” e, sim, “homicídio decorrente de intervenção policial”.

A alegação é que os policiais utilizam o chamado “auto de resistência” para esconder execuções. Ora, nos casos em que isso ocorre, não vai ser mudando as palavras que o crime deixará de ser praticado. Mais do que a nomenclatura, o que importa em qualquer crime é a investigação. E essa não deixará de ser feita caso um auto de resistência levante suspeitas, a não ser que as autoridades responsáveis pelo controle externo da polícia se omitam. Prova disso é que dezenas de policiais militares são expulsos da corporação em todo o País. Classificar esse tipo de ocorrência como “resistência seguida de morte” é uma questão de respeito com o policial. É um absurdo que, após uma troca de tiros com assaltantes de bancos armados de fuzil, o policial tenha de descrever a morte de um dos bandidos como “homicídio decorrente de intervenção policial”.

Criminoso é “reeducando”, policial é “homicida”

A sociedade honesta e trabalhadora, que não se acumplicia com bandidos, não pode aceitar essa calúnia legalizada contra a polícia, tachando previamente de “homicida” o policial que mata para proteger a sociedade, cumprindo seu dever constitucional. Se numa investigação sobre um auto de resistência ficar provado que não houve confronto, mas execução, então que o policial seja punido. O que não se pode aceitar é que o policial seja antecipadamente tachado de homicida mesmo quando é obrigado a matar para proteger vidas. Na prática, é essa a mancha que o policial terá de carregar em sua imagem, caso seja obrigado a registrar a morte de um bandido em confronto como “homicídio”. Isso é ainda mais grave quando se compara o tratamento de “homicida” que querem dar ao policial com o tratamento de “reeducando” que a Justiça dá a latrocidas e estupradores nas cadeias.

Atentem para esta fórmula de inversão dos valores: policial que mata um sequestrador é “homicida”, até que prove o contrário; já o sequestrador que mata o refém vira “reeducando” quando é preso e condenado pela Justiça. Como se pode notar, há uma completa inversão dos valores morais: o policial é culpado até que prove sua inocência; já o bandido é inocente como uma criança de escola (“reeducando”), justamente quando sua culpa foi provada e sentenciada nos tribunais. Esses fatos mostram que os acadêmicos que criticam a Polícia Militar não estão preocupados com a segurança da população honesta e trabalhadora – querem é atacar a sociedade capitalista, como se não fossem justamente os mais pobres os que mais perdem com o enfraquecimento da polícia? Os ricos podem contratar segurança privada. E os pobres? E a classe média? O que será deles sem a polícia?

A grande verdade é que a Polícia Militar não é necessariamente pior do que as demais instituições humanas. Convém relembrar uma máxima do economista Albert Hirschman não aproveitada na tese do tenente-coronel Paes de Souza: “Sob qualquer sistema econômico, social ou político, indivíduos, firmas e organizações, em geral estão sujeitas a falhas de eficiência, racionalidade, legalidade, ética ou outros tipos de comportamento funcional. Não importa quão bem estabelecidas as instituições básicas de uma sociedade; alguns agentes, ao tentarem assumir o comportamento que deles se espera, estão fadados ao fracasso, ainda que por razões acidentais de quaisquer tipos”.

Ou seja, todas as demais instituições indispensáveis à Justiça, como o Judiciário, o Ministério Público, a OAB, a Polícia Federal e a Polícia Civil, para citar as principais, estão sujeitas a gravíssimas falhas por parte de seus membros. Um juiz que mata um inofensivo e desarmado vigilante de supermercado, como já ocorreu no Brasil, é infinitamente mais criminoso do que um policial desesperado, que, depois de escapar por pouco das balas de um assaltante, resolve terminar de matá-lo ao se dar conta de que ele está ferido. É errada essa atitude do policial? Sem dúvida. Mas é compreensível, tanto que a maioria da população, equivocadamente, a aprova. E a única forma de inibir essa justiça vicária feita com a própria farda é dar ao policial a certeza de que ele pode entregar o bandido aos tribunais, que a sociedade será vingada mesmo assim – sem visitas íntimas, sem saídas temporárias, sem indultos de Natal, sem celulares na prisão, sem regime semiaberto, sem remissão de pena e sem as demais regalias dadas ao criminoso.

É bom lembrar que leis mais duras serviriam inclusive para punir os maus policiais, que também existem, mas, hoje, acabam ingressando no crime organizado ao serem expulsos da corporação. Se os maus elementos de cada instituição humana fossem enforcados nas tripas dos maus elementos das outras, não sobrariam condenados nem tripas. A maldade humana está relativamente bem distribuída em todas as instituições. Por isso, é tolice creditar os problemas da segurança pública à Polícia Militar, como insistem em fazer os acadêmicos e até policiais influenciados por eles. Tortura, corrupção e truculência não são privativas da PM. E a injustiça com a PM é ainda mais grave quando se leva em conta o contexto em que a corporação atua – a miséria moral dos mais ferozes criminosos, que não têm o menor respeito pela vida humana. Por isso, é tolice achar que, desmilitarizando a PM, se resolvem todos os problemas da segurança pública. Mesmo se isso fosse verdade, seria um desatino desmilitarizar a polícia justamente quando os bandidos andam com fuzis nas ruas e transformaram até as cadeias em quartéis crime.


Texto publicado no Jornal Opção e reproduzido no Mídia Sem Máscara e neste blog da Veja.com.

A PM É O ZEPELIM?




POLÍCIA MILITAR DE SÃO PAULO
Centro de Comunicação Social da Polícia Militar de São Paulo


A PM e o Zepelim?

Mais uma vez, somos questionados por um órgão de imprensa sobre o nosso modelo de polícia, o militar. O ponto de início da matéria a ser construída obedece a alguns entendimentos já pacíficos por parte da reportagem e subsidiados pela opinião de "especialistas". Vejamos:

- A Polícia Militar trata parte da população brasileira como potencial inimigo;
- O sistema de segurança pública é o mesmo da ditadura, guiado pela Lei de Segurança Nacional;
- A ditadura ainda está na cabeça dos governantes e principalmente das polícias;
- A PM que está aí atira para matar. Ela está servindo a outros interesses.

Como diria o colunista Reinaldo Azevedo, este é mesmo "o ano de satanização dos militares".

É triste ver como a desinformação parece habitar algumas mentes neste nosso Brasil de tantos Brasis. Pior: é mais triste ver como alguns sentimentos se tentam materializar, migrando da quimera à teoria; daí à crença; por fim, daí à "verdade".

Ninguém deveria se ocupar do julgamento do pretérito, especialmente com os olhos do presente, mas não é o que ocorre neste país... Conseguimos anistiar pessoas, mas não conseguimos libertar o passado, que parece um espírito confuso, agarrando-se a um corpo jacente.

Falar em inimigos, em Lei de Segurança Nacional, que a PM atira para matar, se não fosse terrível, seria cômico, porque denota, sim, a construção de um pensamento que se pretende coletivo, a partir de pessoas que se sentem intelectuais.

Seria mais simples pensar o mundo a partir de fatos, mas alguns propagadores de opinião preferem as ideologias, o partidarismo e, até, o oportunismo.

Na maioria das vezes, as polícias militares se desviam do posicionamento político (na essência da palavra); nossos contumazes detratores, não. E essa desigualdade se reflete no açoite cotidiano à categoria que se imbui de receber sobre si todos os pecados do mundo.

Talvez seja oportuno então alertarmos a sociedade quanto ao Brasil que alguns sonham construir, numa versão romântica, e bastante suspeita.

Antes disso, porém, talvez devêssemos informar que, desde 1997, a Polícia Militar de São Paulo se estrutura a partir de conceitos de polícia comunitária.

Pode-se mencionar também que o Método Giraldi de Tiro Defensivo para a Preservação da Vida, criado por um oficial da PM paulista e nela desenvolvido, é recomendado pela Cruz Vermelha Internacional como efetivamente aplicável ao treinamento das polícias.

Nosso Programa Estadual de Resistência às Drogas (Proerd), em vinte anos de atividade, já formou mais de sete milhões de crianças, ensinando-lhes caminhos seguros para fugir ao contato com esse mal que assombra nossa sociedade. Isso significa dizer que já educamos um número de jovens que representa 16% dos 43 milhões de paulistas, segundo estimativa do IBGE para o ano de 2013.

E não seria demais também lembrar que, no ano passado, atendemos 2.450.098 ocorrências, prendemos 183.952 pessoas, apreendemos mais de 80 toneladas de drogas, 13.828 armas de fogo em poder de criminosos, prestamos 2.506.664 atendimentos sociais e resgatamos 619.231 pessoas.

Seria tudo isso fruto de nossa vocação para enxergar a população como inimiga? Seria a ditadura que ainda está em nossa cabeça? A influência da Lei de Segurança Nacional? Ou ainda nossa compulsão de atirar para matar?!

Em que mundo esses "especialistas" fundamentam suas teorias?

Muito provavelmente a resposta esteja em outro século e em outro continente, nascida da cabeça de alguém que pregou a difusão de um modelo hegemônico, que se deve construir espalhando intelectuais em partidos, universidades, meios de comunicação. Em seguida, minando estruturas básicas e sólidas de formação moral, como família, escola e religião. Por fim, ruindo estruturas estatais, as instituições democráticas. Assim é o discurso desses chamados "intelectuais orgânicos", como costumam se denominar, em consonância com as ideias revolucionárias do italiano Antonio Gramsci, que ecoaram pelo mundo a partir da década de 1930.

Tão assombrosa quanto esse discurso anacrônico, ou mais, é a teorização formulada por quem, em vez de servir a uma instituição, prefere servir-se dela, desqualificando-a, conspurcando-a. Nesse caso, o problema talvez não esteja na ideologia, mas na conveniência da oportunidade de mercado.

No presente momento em que diversos grupos supostamente democráticos fazem coro para desmilitarizar a nossa polícia, vemos pessoas que aqui passaram a maior parte de sua vida se colocando como arautos das mudanças que urgem. Esse tipo de voz ecoa muito mais pelo inusitado do que pela qualidade de seus argumentos pseudocientíficos. É a chamada crítica à moda Brás Cubas. Saca-se alguém de um determinado meio e essa pessoa recebe chancela de legitimidade por falar de algo que, em tese, conhece por vivência.

É inadmissível que um profissional, que deveria ter compromisso com a verdade, pois assim assumiu em juramento, falar em premiações, medalhas a policiais que matam, como se isso fosse uma prática corrente, cultural. Somos a instituição que mais depura seu público interno, sujeita a regulamentos, códigos rígidos de conduta e com uma corregedoria implacável contra agressores de policiais e contra policiais bandidos. Exoneramos centenas. Só em 2013, foram 349. Como dizer que toleramos o erro? Onde está a responsabilidade no que é dito.

Enfim, parece ser oportuno criticar um modelo de polícia que suporta o tempo e as circunstâncias adversas. Temos história, uma cultura, valores morais, coisa rara nos dias de hoje.

Critica-se, mas, no momento da agrura, sabemos qual é a última instância salvadora, quem pode nos socorrer: "o policial ditador, que nos vê como inimigos, que age conforme a L.S.N., que atira para matar...". É como soava no refrão de Chico Buarque: "... Ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir...". Vem o sufoco, a salvação; passa o sufoco, torna-se ao linchamento. Será que a sociedade prescinde um dia de nós? Uma manhã? Uma hora?

Ainda somos uma democracia, é bom que nos lembremos sempre disso. Se um dia tivermos de mudar nosso modelo, que seja pelo desejo do povo, não de "especialistas".

DESMILITARIZAÇÃO DA PM, SOLUÇÃO OU RETROCESSO?

JORNAL OPÇÃO, Edição 2001 de 10 a 16 de novembro de 2013


Segurança Pública. Em meio a crise de credibilidade e respeitabilidade perante a sociedade, debate sobre o desmantelamento do aparato policial militar volta a dominar a pauta nacional


Fernando Leite/Jornal Opção

Militares das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam): efetivo total das PMs soma mais de 600 mil, superior ao das Forças Armadas

Frederico Vitor


O assunto, há décadas, ronda as universidades, Congresso Nacional, imprensa e, claro, o meio policial. As manifestações populares em todo o Brasil, reprimidas à bala de borracha e com bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral, reacenderam o debate sobre o papel das forças policiais estaduais militarizadas. Mas, a questão é muito mais complexa e profunda do que a readequação de ações das tropas de choque. Trata-se de uma demanda de reformas que vai desde a do Código Penal à redefinição do papel e atribuição de cada polícia existente nos Estados.

Na última semana, as manchetes dos principais jornais do País trouxeram o balanço da 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segu­ran­ça Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), cujo destaque é a pesquisa que aponta que 70,1% dos brasileiros não confiam na polícia. O número é 8,6% maior do que o registrado em 2012, quando 61,5% da população desconfiavam da atuação policial. Parado­xalmente, o índice de aprovação é inverso nos Estados Unidos e no Reino Unido. Cerca de 80% dos cidadãos americanos e britânicos dizem confiar em suas polícias.

Outra notícia que foi destaque e que chamou a atenção foi o fato de que a Polícia Militar (PM) de São Paulo, em cinco anos, matou mais que todas as polícias dos EUA juntas. Ou seja, a corporação paulista matou 6% mais que polícias americanas entre 2005 e 2009. Em 2012, o Conselho de Direitos Humanos da ONU chegou a sugerir a pura e simples extinção das PMs no Brasil.
Para os integrantes do Con­selho — como Dinamarca, Es­panha e Coreia do Sul —, estava claro que a própria existência de uma polícia militarizada seria uma aberração só explicável pela dificuldade crônica do Brasil de livrar-se das amarras institucionais produzidas pelo período do governo militar, de 1964 a 1985. Seria então, uma alternativa ao caos em que vive hoje a segurança pública, o banimento da militarização das polícias ostensivas dos 26 Estados e do Distrito Federal ou a unificação das polícias? Seria esta uma alternativa viável ou apenas uma ação dentre várias outras de uma série de demandas a serem realizadas, para se alcançar o nível de excelência que necessita o sistema de segurança hoje, no Brasil?

Extinguir ou aperfeiçoar

Provavelmente, a desmilitarização não seria a solução definitiva, mas, poderia ser o caminho para resolução de dezenas de gargalos que impregnam o sistema de segurança. No País há a separação das atividades de polícia judiciária (Polícia Civil) e de polícia ostensiva (Polícia Militar) no âmbito dos Estados. A PM e o Corpo de Bombeiros Militar constituem-se em militares dos Estados subordinados aos governadores, segundo a Constituição Federal de 1988. Além disso, as forças militarizadas estaduais seriam reserva estratégica do Exército, ou seja, em caso de guerra, as fileiras da PM podem ser utilizadas como tropas que lutariam regularmente no front de batalha. A hipótese é distante, mas está prevista na Carta Magna.

Se forem somados todos os efetivos das PMs dos Estados e do Distrito Federal chega-se a mais de meio milhão de soldados — cerca de 600 mil homens e mulheres —, número superior aos militares ativos das forças armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica). Só a PM de São Paulo conta com mais de 100 mil militares, de longe, a segunda maior organização militar do Brasil, perdendo em efetivo apenas para o Exército.

Válido lembrar que antes da promulgação de Constituição de 1934, a maioria das PMs, denominadas Forças Públicas, se constituíam em verdadeiros exércitos estaduais. Durante a Revolução Cons­titucionalista de 1932, houve o enfrentamento entre algumas delas. O caso mais emblemático envolveu as forças de São Paulo e de Minas Gerais que duelaram em trincheiras nas divisas entre os dois Estados. O Brasil é o único país que adota um sistema de polícia ostensiva militarizada em âmbito regional.
Outros países, inclusive na América Latina e Europa, se utilizam de corpos de milícias em abrangência federal. São as Gen­darmarias que se constituem em uma força militar policial, encarregada do policiamento no âmbito da população civil — a palavra provém do francês “Gendarmeria”, em tradução livre “homens em armas”. Em vários outros países uma polícia militar é, normalmente, a corporação que exerce a função de polícia no interior das Forças Armadas. Nesse sentido, seu espaço de ação costuma restringir-se às instalações militares, aos prédios públicos e aos seus integrantes. Apenas em situações de guerra e exceção, estas polícias militares podem ampliar o escopo de sua atuação para fora dos quartéis e da segurança de prédios públicos.

Origens e experiências

A história das PMs se confunde com a própria história do País. A corporação brasileira que ganhou o nome de Guarda Real de Polícia foi fundada em 1809, pelo Príncipe Regente Dom João VI, de Portugal, que veio para cá fugindo das forças napoleônicas que marchavam em direção a Lisboa. O modelo adotado ao Brasil naquela época, ainda uma colônia fechada ao restante do mundo, era o mesmo que vigorava em Portugal que, por sua vez, se baseou no padrão de corpo policial francês, considerado o mais moderno naquele período.

O modelo de Gendarmaria, com o passar do tempo, passou a significar “Corpo de Guarda”, por isso que a polícia brasileira, ao ser fundado, carregou o nome “Guarda”. A Guarda Real, formada e mantida como uma polícia militar desde a sua gênese mudou de nome algumas vezes, até que na década de 30, durante o Estado Novo de Vargas, por um decreto federal, recebeu o nome atual de “Polícia Militar”.

Atualmente, no mundo inteiro, o modelo de polícia militar é usado por considerável número de países de diferentes aspectos socioeconômicos. Para citar alguns exemplos: Gendarmerie Nationale (França), Gendarmaria Nacional Argentina, Policía Nacional de Bolívia, Cara­bineros de Chile, Policía Nacio­nal de Colômbia, Guardia Civil (Es­pa­nha), Central Reserve Police Force (Índia), Polícia Armada do Povo (China), Polícia de Fronteira (Israel), Policía Federal (México), Guarda Nacional Republicana (Portugal), Arma dei Carabinieri (Itália) e Real Polícia Montada do Canadá.

Como mostrado, há várias experiências de corpos policiais militarizados pelo mundo, entretanto, diferentemente do Brasil, essas corporações exercerem o papel de polícia ostensiva, preventiva e, ao mesmo tempo, também fazem investigações de maneira autônoma. Tal característica de atuação presente em praticamente todas, com exceção do Brasil, chama-se “ciclo completo de polícia”. É como se 50 mil oficiais da PM exercessem as funções que hoje apenas os delegados podem fazer. Isso também incluiria 550 mil praças — soldados, cabos, sargentos e subtenentes — também fazendo a função de agentes de investigação.

Debate divide opiniões de estudiosos e militares



Mais importante do que desmilitarizar ou unificar as polícias é traçar uma estratégia específica para a segurança pública do Brasil. Não há dúvida de que é necessária uma reforma policial bem planejada, articulada e que leve em conta as especificidades de cada unidade federativa e do País como um todo. Mas uma reforma nestes moldes exige muito estudo, reflexão e debate. A desmilitarização e a unificação, da forma proposta em diversas emendas constitucionais já apresentadas, podem apenas misturar as duas estruturas, preservando assim as distorções, inclusive o ciclo incompleto de polícia.

Os que defendem o fim do modelo militarista argumentam que, com a consolidação das PMs como responsáveis pela completa extensão do policiamento urbano, as portas se abriram para a imposição da política de segurança interna, uma lógica militar que, às vezes é recheada de uso desproporcional da força que resulta em muita violência e abuso. Neste viés, quando a sociedade acorda periodicamente e se descobre vítima de violência da polícia em ações de mediação de conflitos sociais, — como o caso da desocupação de Pinheirinho, em São Paulo, do Parque Oeste Industrial, em Goiânia, e nas manifestações de rua deste ano —, de nada adiantaria pedir melhor "formação" dos policiais militares. Aliás, noções de direitos humanos já é difundido nos cursos de formação nas academias de polícia.

Para o tenente-coronel da PM de São Paulo Adilson Paes de Souza, que dedicou 28 anos de sua vida à corporação paulista, o modelo policial no Brasil é ineficiente e precisa urgentemente de uma mudança drástica. O oficial da reserva, que nesta semana vai lançar o livro “O Guar­dião da Cidade — Reflexões sobre Casos de Violência Praticados por Policiais Militares” (Escrituras, 222 páginas), afirma que a opção de desmilitarização da polícia é apenas uma das soluções viáveis para tentar reverter o quadro de precariedade que se encontra a segurança pública brasileira. “Isso precisa ser muito bem encaminhado. A mudança é muito mais ampla, séria e leva mais tempo. Porém tem que ser começado.”

Resquício da ditadura

Adilson de Souza chama a atenção para outro aspecto que, segundo ele, precisa ser mudado dentro das PMs, que é a lógica da doutrina da Segurança Nacional, ainda um resquício do governo militar, segundo a qual a polícia está lidando com inimigos, e neste sentido, o inimigo no campo de batalha deve ser aniquilado. “Ao verificar a atuação dos órgãos policiais na repressão às manifestações de junho e julho, você não perceberá muita mudança da repressão praticada pela polícia no final da década de 70. Em cima de fatos, isso indica que o padrão de atuação ainda continua o mesmo dos tempos de ditadura militar”, diz.

“O Brasil tem que acabar com as PMs.” É o que afirma o doutor em antropologia, filosofia e ciências políticas, professor e autor de 20 livros, Luiz Eduardo Soares. Ele é conhecido por duas obras — “A Elite da Tropa 1 e 2” — que mais tarde tornaram-se dois filmes de maior sucesso de bilheteria do cinema nacional: “Tropa de Elite 1 e 2”, com o ator Wagner Moura. Para ele, as PMs seriam “uma pata da ditadura plantada com suas garras no coração da democracia”.

Ex-coordenador estadual de Segurança, Justiça e Cidadania do Rio de Janeiro entre 1999 e 2000, no governo Antony Garotinho, e secretário nacional de Segurança do governo Lula, em 2003, Luiz Soares afirma que a cultura militar para a polícia é uma problemática para a democracia, porque traz consigo a ideia da guerra e do inimigo. “A polícia, por definição, não faz a guerra e não defende a soberania nacional. A polícia tem que defender a cidadania e garantir direitos, impedindo que haja violações às leis.”

“Desmilitarização é apenas uma faceta de toda a problemática que envolve a segurança pública”

Para o coronel ex-comandante -geral da PM goiana e atual superintendente executivo da Secretaria da Segurança Pública do Estado de Goiás, Edson Costa Araújo, o assunto desmilitarização da polícia é apenas um “fake”, uma “cortina de fumaça”, uma discussão velha que não tem sido devidamente avaliada. Ele afirma que não é interesse do Estado brasileiro perder o controle de uma tropa de 600 mil homens, e que todo o sistema de segurança pública no Brasil precisa ser reavaliado, já que se encontra completamente falido. “São necessárias mudanças substanciais, é preciso a desburocratização do serviço de polícia.”

Desmilitarização das polícias significaria retrocesso ou um avanço?
Na verdade, não é uma coisa nem outra. Isso é um fake, uma cortina de fumaça. É uma discussão antiga que não tem sido devidamente avaliada porque é apenas uma faceta de toda a problemática que envolve a segurança pública. Todas as vezes que é preciso fazer algo pela segurança pública, se parte para este viés simplista de achar que a desmilitarização é a panaceia da segurança pública. Esta área padece de problemas muito mais complexos. Este modelo dicotômico de polícia de meio ciclo, na realidade, é um sistema que não tem viabilidade. No mundo todo temos diversas polícias e todas elas de ciclo completo. A questão de viabilidade, eficiência e de eficácia do sistema policial em si está centrado mais na questão da divisão que ocorre entre as polícias do Brasil. Essa divisão fomenta a discórdia. É um tipo de competição negativa que leva a sabotagem e a desencontros que não constroem o todo.

Em que modo este atual sistema deveria funcionar?
Era para ser uma corrida de bastão. A PM faria uma parcela do ciclo de polícia, como a prevenção. Deste modo, fechado o seu meio ciclo, encaminharia para Polícia Civil que daria continuidade. Isso tem sido o motivo de polêmicas em todo Brasil, de desavenças entre as duas polícias, o que não é um caso apenas de Goiás. É um problema de organicidade que, do ponto de vista estrutural, não tem funcionalidade.

E como funciona o ciclo completo das polícias estrangeiras?
O Brasil é o único caso que as polícias militarizadas não trabalham com o ciclo completo. A maioria das polícias no mundo ou é militar, propriamente dito, ou tem pelo menos estética militar, ou seja, prezam pela disciplina e hierarquia, e seus agentes andam fardados, para funcionar. Temos o caso da Guarda Nacional Republicana (GNR) de Portugal e as Gendarmarias da Espanha, França e Chile. No mundo todo temos polícias com esta estética e, quando civis, são muito mais militares do que as nossas. É muito mais importante para o Estado a questão do cunho militar para a polícia. Porque é uma estrutura eficiente no ponto de vista de controle. Como se controla polícias como a nossa PM, que tem cerca de 12 mil homens? E a de São Paulo, com 100 mil militares, numa atividade tão complexa, tão perigosa como a policial? Há demandas do Judiciário que têm que ser cumpridas. O sistema militar dá condições para a polícia funcionar. O militarismo deveria ser igual ao sistema operacional de nossos computadores, não deveríamos nem percebê-los. Simplesmente é um instrumento que dá controle a essa tropa, com padronização que a polícia deve ter. Imagina você sair na rua e encontrar um policial barbudo ou cabeludo? Isso o militarismo não permite. Todas essas questões, infelizmente, em um mundo corrompido que vivemos hoje, são o que algumas pessoas não querem para o Brasil, ou seja, não desejam organização e respeito à hierarquia.

Por que a desmilitarização seria um “fake”, como o sr. afirma?
É um fake porque ninguém fala em desmilitarização dos bombeiros. Há um tipo de preconceito em relação às PM. Não em relação à condição de ser militar, mas em relação à sua missão que é coercitiva, de chamar a atenção, de disciplinar a sociedade, de adotar ações que são repressivas, então isso tudo a sociedade não sabe bem o que é. Esses movimentos que o País passa de junho para cá, dá para notar que a sociedade e a mídia ficam sem saber o que querem. Quando a polícia age, ela está sendo truculenta. Quando ela não age, os manifestantes quebram tudo e aí se pergunta: onde está a polícia? A polícia é omissa! A própria população e a mídia ficam muitas vezes sem saber o papel da polícia. Mais do que qualquer coisa o Brasil vive uma crise grave de autoridade. Esta crise, talvez possa ter sido causada pelo processo de ditadura pelo qual passamos no País, de muita repressão e de muito cerceamento de liberdade. Encontramo-nos em uma pós-ditadura em que as pessoas ainda não compreenderam bem o papel da polícia. Tudo que a polícia faz em termos de repressão e de implementação da lei é compreendido como abuso. Enquanto isso, em outros países, está muito claro o papel da polícia e quais são os limites das pessoas em manifestações. Permito-me dizer que o Brasil está sendo utilizado como laboratório para experiências que, infelizmente, são nocivas ao País. Abrandaram-se as leis em relação ao tráfico, o que criou esse grande mercado que consome enorme quantidade de drogas.

A PM de São Paulo, a maior do Brasil, matou em confrontos mais do que todas as polícias norte-americanas. Como se dá este caráter confrontista da polícia?
É muito fácil, e é só pegar a legislação e o sistema de justiça e execução penal americano e perceber lá que as coisas funcionam. Então, lá não sobra este resíduo como aqui no Brasil, da polícia estar todos os dias sendo afrontadas pelos marginais. Nos Estados Unidos, o marginal não tem coragem de fazer isso com a polícia. E se fizer, dos poucos casos que acontecem, a polícia age com rigor. As abordagens do policial americano são duras, dentro de um padrão operacional que resguardam a segurança dele. No Brasil, infelizmente, isso se corrompeu de tal modo que foi parar nas ruas. Aquilo que se reclama da polícia de Goiás e de São Paulo é a última barreira, no sentido de respeito que o bandido está tendo. O enfrentamento se dá porque o bandido perdeu todas as suas preocupações e medos. Alguns anos atrás, não se via isto no País. O nosso sistema foi se corrompendo tanto que os bandidos estão conjurando os policiais e seus familiares. O que vimos em São Paulo foi uma guerra silenciosa, na qual mais de 70 policiais morreram. O confronto, na verdade, é o efeito colateral do desmantelamento de todo os arcabouços de Justiça no País. Quando o bandido está achacando a sociedade, nós, da polícia, vamos então guardar nossas armas? O que se quer da polícia? Este é o grande risco. O último muro que o bandido está tendo é de confrontar com a polícia nas ruas. Daí vem os Direitos Humanos e reprime esses policiais e falam que são grupos de extermínio. Hoje, para o policial participar de um confronto, se pensa duas vezes. Ela já sai sob dúvidas para seu trabalho, a própria mídia o coloca em suspeição. O agente tem que ter fé pública, o policial está representando o Estado, até que se prove o contrário ele está confrontando o bandido. Cabe as corregedorias verificar se não há nenhuma desconformidade legal. O que se faz no País é um movimento ideológico de oprimir o policial. Sabe qual o custo de um advogado para defender um policial em uma ocorrência colocada em suspeita? De R$ 10 mil a R$ 15 mil, que tem de se tirar do bolso para não ir preso. O policial está ficando retraído, ele não quer ir mais para rua.

Polícia americana aumenta a militarização em suas ações



Os Estados Unidos, assim como o Brasil, um país de dimensões continentais e subdividido por Estados, tem um significativo número de instituições e indivíduos atuando em prol da manutenção da lei e da ordem. São mais de 18 mil agências policiais em todos os níveis de organização política norte-americana — município, condado, Estado e União — que são servidas por um contingente de recursos humanos superior a 900 mil pessoas. Detalhe, nenhuma destas organizações policiais é militar. Porém, há um processo de militarização das ações policiais, especialmente após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e a crescente guerra contra o tráfico de drogas.

A imagem do policial americano está se deslocando para a de agentes armados com rifles, transportados em veículos blindados e doutrinados numa mentalidade de guerra. Aumentou o número de departamentos de polícia que possuem equipes táticas como a SWAT, treinados com métodos militares. Para título de comparação, em média, nos Estados Unidos há cerca de 11 mil homicídios por ano, para uma população de 311 milhões de pessoas, enquanto o Brasil tem 55 mil homicídios por ano com uma população de 196 milhões de habitantes. Ou seja, o país da América do Norte tem quase o dobro da população e um quinto dos homicídios brasileiros.

Do ponto de vista organizacional, nos Estados Unidos compete constitucionalmente aos Estados realizar a maior parte das atividades de policiamento. As unidades federativas, por sua vez, transferem às comunidades locais — condados e municípios — boa parte do poder de fiscalização policial, o qual termina por ser efetivamente exercido pelas chamadas “polícias locais.”
A operação total deste colossal sistema de segurança que engloba organizações policiais mais os departamentos autônomos que atuam em áreas específicas da segurança pública — conjuntos residenciais, ferrovias, sistemas metropolitanos, aeroportos — consomem U$ 44 bilhões anuais. As polícias locais, ou organizações municipais, de condado e xerifados são a “espinha dorsal” daquele modelo, com mais de 15 mil organizações.

Para o cidadão estadunidense, a expressão “polícia” está identificada com a organização policial que serve ao município ou condado de residência. Existem mais polícias locais de pequeno porte — efetivo variando de um até 100 policiais — do que de grande estrutura e efetivos, como no caso das cidades de Nova York e Los Angeles, cujo quadro policial ultrapassa 20 mil homens e mulheres. A maioria absoluta dos departamentos locais de polícia possui menos de 50 policiais e 90% dessas instituições servem comunidades com menos de 25 mil habitantes. Estados e União

Dos 50 Estados americanos, 49 possuem departamentos de polícia estadual — a exceção é o Havaí. O policial estadual americano faz o policiamento ostensivo de “ciclo completo”, em toda área de jurisdição do Estado. Os estaduais, coordenam sua atuação com as polícias locais, de maneira a complementar as atividades de segurança pública dos municípios e condados — inclusive apoiando-as nas áreas de formação e treinamento —, sempre que os recursos locais não sejam suficientes.

As polícias estaduais também fazem o patrulhamento das rodovias sob domínio do Estado, executam o policiamento ostensivo em pequenas localidades e funcionam como polícia judiciária de jurisdição exclusiva nos delitos tipificados na legislação penal estadual. Algumas polícias estaduais seguem um padrão organizacional descentralizado, e são constituídas por duas divisões claramente distintas: uma de policiamento ostensivo geral ou patrulhamento rodoviário e outra funcionando como um departamento estadual de investigações — semelhante ao Federal Bureau Investigation (FBI).

A atividade policial do governo federal americano aumentou de forma significativa na medida em que cresceu o número de delitos criminais tipificados em legislação federal. Dados atuais dão conta da existência de 75 mil indivíduos empregados nas diferentes agências policiais federais. Vários departamentos do governo federal norte-americano — equivalentes aos mi­nistérios brasileiros — possuem agências policiais, tais como: justiça, tesouro, interior, defesa, administração e transportes. Os maiores são: FBI, Fisca­li­zação de Drogas (DEA), Serviço de Imigração e Natura­lização (INS), Serviço Aduaneiro dos EUA (USCS), Serviços de Na­tureza Secret (USSS) e Depar­tamento do Interior (DI).

COMISSÃO PROPÕE DESMILITARIZAÇÃO DA POLÍCIA



JORNAL DO COMÉRCIO 10/12/2014


Folhapress


Uma polícia mais voltada para os direitos humanos e para o atendimento ao cidadão. A desmilitarização das PMs no Brasil é uma das recomendações da Comissão Nacional da Verdade para a corporação que, segundo o relatório, está envolvida, nos dias de hoje, com violações de direitos e práticas de torturas em diferentes Estados do país.



"Essa anomalia vem perdurando, fazendo com que não só não haja a unificação das forças de segurança estaduais, mas que parte delas ainda funcione a partir desses atributos militares, incompatíveis com o exercício da segurança pública no Estado, cujo foco deve ser o atendimento ao cidadão", informa trecho do documento divulgado na manhã desta quarta (10), em Brasília.

Em suas recomendações, a Comissão da Verdade dedica um espaço para as polícias. Essa reformulação proposta depende de decisões que podem ser tomadas por Estados e pelo governo federal.

Para a desmilitarização é necessária uma mudança na Constituição. De acordo com a lei, as polícias militares são consideradas forças auxiliares das Forças Armadas. Durante a ditadura, poucos eram os quartéis, mas a tropa da PM era reservada para atuar em distúrbios civis e no patrulhamento das ruas. Com os anos, a PM foi aumentando o seu efetivo tomando por base o combate à violência.

Em nível federal, também é preciso uma decisão que acabe com as auditorias militares estaduais. São elas que julgam os crimes praticados por policiais. Os casos em que, durante as investigações da polícia, se descobre que o policial teve a intenção de matar são julgados pela Justiça Comum.

De acordo com a recomendação da Comissão da Verdade, existiria apenas a Justiça Militar Federal, que trataria de crimes praticados pelos militares das três forças: Exército, Marinha e Aeronáutica. A mudança, de acordo com a sugestão, é que a Justiça Militar não poderia mais julgar civis envolvidos com irregularidades juntos a militares como acontece ainda hoje. De acordo com os integrantes da comissão, essa é uma prática que vem desde a ditadura militar (1964-1985), quando qualquer cidadão respondia aos juízes militares.

Dentre os atos que dependem do Executivo de cada Estado estão a modificação do conteúdo curricular de formação dos policiais em que se dá ênfase à matérias voltadas para os direitos humanos. A Comissão da Verdade entende que isso deixa para trás a doutrina de segurança nacional, adotada durante a ditadura e com concepções do período da ditadura.

Outra proposta é a desvinculação dos IMLs e das perícias criminais das secretarias de Segurança Pública e das polícias civis. Em todos os Estados do país, esses órgãos estão ligados à polícia, o que para especialistas podem tornar suspeitas análises desses órgãos envolvendo crimes praticados por policiais.

Em São Paulo, apesar de independente da Polícia Civil, a perícia técnica é ligada à Secretaria de Segurança Pública. No Rio, a perícia e o IML são vinculados à Polícia Civil, que está sob as ordens da Secretaria de Segurança.

PRESÍDIOS

As recomendações da Comissão Nacional da Verdade têm itens voltados para os presídios. No entendimento dos integrantes da comissão a "estrutura prisional brasileira expressa uma situação de profundo desrespeito aos direitos humanos". Essas irregularidades aconteceriam devido à superlotação das carceragens e à falta de políticas voltadas para a reintegração social.

O documento propõe uma reforma no modelo prisional brasileiro, mas logo trata de destacar ser contrário à privatização das unidades como acontece nos Estados Unidos.

A comissão ainda propõe ainda aumentar os órgãos de fiscalização dos presídios. Isso aconteceria com a criação de ouvidorias externas integradas por defensores, promotores e policiais, além de integrantes da sociedade civil. Esse aumento de fiscalização passa pelo fortalecimento das defensorias públicas e dos conselhos da comunidade.

Os conselhos devem ser instalados em todas as comarcas do Brasil, com integrantes da sociedade, para acompanhar as medidas dos estabelecimentos penais. A composição deve ser estabelecida em processo público.

domingo, 7 de dezembro de 2014

OPERAÇÃO CUMPRA-SE A LEI


PORTAL APOCEPI Publicado em 10/04/2013 - 19h39


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