ZERO HORA 06 de abril de 2015 | N° 18124
JADER MARQUES*
Pesados investimentos na melhoria das condições de vida da população, embora possam ter impacto considerável na redução da violência e criminalidade, não afastam a importância de uma profunda discussão sobre o modelo policial adequado para o país. Durante anos, a questão policial vem sendo negligenciada, conforme afirma o antropólogo Luiz Eduardo Soares, especialista na matéria.
O Brasil, em poucas décadas, passou à condição de potência econômica, avançou no cenário político internacional e vem experimentando transformações importantes na distribuição interna da renda, dentre tantas outras mudanças. Nesse contexto, é de se perguntar por qual motivo ainda temos o modelo de polícia da época do regime militar. Um país que passa por tantas mudanças não consegue superar o ranço violento, repressivo e letal de um modelo policial ultrapassado.
Uma pesquisa desenvolvida pelo já citado Luiz Eduardo Soares, em parceria com Marcos Rolim e Silvia Ramos (“O que pensam os profissionais da segurança no Brasil?”, disponível no site do MJ), mostrou que 70% dos 64.120 policiais e demais profissionais da segurança pública ouvidos estão insatisfeitos com o modelo de polícia vigente. Nem mesmo a polícia quer a polícia existente.
É nosso dever, urgente, buscar uma polícia que não seja um grupo de extermínio de jovens negros e pobres. Que não seja a polícia apenas das prisões de usuários de drogas e praticantes de pequenos furtos famélicos. Que não seja a polícia que tortura e mata.
Por tudo isso, torna-se fundamental discutir com seriedade a Proposta de Emenda Constitucional nº 51, que propõe, dentre tantas mudanças necessárias: a desmilitarização, a carreira única, a polícia de ciclo completo, as polícias estaduais e municipais, o controle externo com participação da sociedade, os direitos trabalhistas aos profissionais da segurança.
Chega de polícia que prende vagabundo. Queremos uma polícia bem equipada, bem paga e que possa trabalhar com inteligência. A polícia inteligente das complexas operações que desbaratam as quadrilhas, as quais, verdadeiramente, causam os mais graves prejuízos para o país.
*Advogado criminalista
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