ZERO HORA 17 de Março de 2018
RBS BRASÍLIA
GENERAL VILLAS BÔAS,
Comandante do Exército brasileiro
"O problema da corrupção policial deve ser abordado com a devida seriedade"
No balanço de um mês da intervenção federal no Rio, o comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, considera o combate à corrupção nas polícias como algo fundamental para que a operação apresente os resultados esperados. Questionado pela coluna sobre o papel das Forças Armadas na segurança e sobre algumas declarações consideradas polêmicas, ele respondeu às perguntas por e-mail. Abaixo, os principais trechos.
A morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes pode comprometer a intervenção no Rio? O que esse fato significa para a intervenção?
O fato é triste, inaceitável. Neste momento, devemos continuar nosso trabalho de combate à violência. É imprescindível que todas as instituições envolvidas na intervenção federal e a população estejam comprometidas no esforço para atingirmos objetivos concretos.
O que é fundamental para que a intervenção federal tenha sucesso?
Uma união de esforços de todos os atores participantes da missão e também o entendimento, dessa população, de que o cumprimento da tarefa poderá causar pequenos incômodos e contratempos passageiros, que devem ser sublimados. Devem ser buscadas soluções perenes para os problemas das instituições na área de pessoal e de material. E deve ser abordado, com a devida seriedade, o problema da corrupção policial. As corregedorias devem agir com bastante rigidez, dentro dos parâmetros legais, punindo e, se preciso for, colocando para fora da instituição o mau policial.
O ministro da Segurança, Raul Jungmann, afirmou que há uma banalização no uso da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o senhor concorda?
Preocupo-me com o constante emprego das Forças Armadas em ações de segurança pública no Brasil. Dois aspectos me preocupam. O primeiro é a reincidência do emprego em função da degradação das condições de segurança. Isso significa que medidas preventivas e corretivas não estão sendo adotadas eficientemente. Outro é que mesmo após a atuação do Exército, em diferentes localidades, às vezes por um longo período, não se observam mudanças consideráveis, devido à falta de engajamento das instituições públicas nas diversas esferas governamentais.
O senhor defendeu a necessidade de garantias para que uma nova comissão da verdade não atinja os militares que participam da intervenção federal. Que garantias seriam essas?
Um real e efetivo amparo legal, para que, após o término de todas as operações, os militares das Forças Armadas não fiquem presos a pendências jurídicas, que se arrastem por anos e que possam vir a causar-lhes danos de ordem profissional e pessoal.
A participação das Forças Armadas na segurança pública é irreversível?
A segurança pública não é uma missão específica das Forças Armadas. No entanto, o Exército brasileiro não se furtará de apoiar ações nesse campo. Mas é preciso ressaltar que o princípio da autoridade deve ser fortalecido e o sentimento de disciplina social deve ser recuperado. Hoje, existe no Brasil uma excessiva compreensão com direitos e uma enorme incompreensão com deveres.