ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A GENI DA HORA

BEATRIZ FAGUNDES, O SUL
Porto Alegre, Quarta-feira, 16 de Novembro de 2011.


O sargento precisa de tratamento médico. Ele e dezenas de milhares de servidores públicos dos órgãos policiais que enfrentam, diariamente, risco de vida, baixos salários, péssimas condições de moradia e lazer, e evitam a miséria da aposentadoria.

A "Geni" da hora. Foi assim que percebi a presença do sargento transtornado, agressivo, supostamente embriagado e arrogante protagonista de um vídeo que garantiu audiência a todas as plataformas de mídia do Brasil. O sargento lotado no 25 Batalhão da Brigada Militar, em São Leopoldo, está há 28 anos na atividade. Uma vida. O episódio, que chegou ao top dos mais acessados nas últimas horas na internet, começou quando guardas municipais abordaram o filho do policial em situação irregular, documentos, carteira de habilitação - rotina -, o qual teria chamado o pai pelo celular.

Segundo consta, o rapaz apresentava sinais de embriaguez. Com uma pistola em punho, o servidor (o pai) ameaçou guardas municipais no Centro de Novo Hamburgo, na madrugada de seis de novembro. À paisana, o brigadiano, que segundo relatos, igualmente aparentava embriaguez, insultou os guardas: "Eu sou polícia. Vocês não", repetia o sargento aos gritos. Foi tudo gravado, e as imagens servirão como prova.

Assim como eu milhares de gaúchos assistiram até a exaustão as cenas deploráveis, lamentáveis. A partir deste ponto, começa a hipocrisia do sistema. Nós, cidadãos, e os superiores do indigitado protagonista, demonstramos a nossa indignação com as cenas e exigimos ato contínuo uma punição exemplar para o sargentão descontrolado, arrogante e sem limites! Uau! Como somos racionais e cobramos bom comportamento de nossa sociedade.

Primeiro: segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), alcoolismo é doença e deve ser tratada e, convenhamos, pelos indícios, não só o pai apresenta problemas na área como o filho, que foi abordado com iguais sintomas. O fato ocorreu no dia cinco deste mês. Pergunto: se envolvesse uma "autoridade", ou pessoa frequentadora das altas rodas da elite gaúcha, o lamentável vídeo teria vazado? Certamente que não. É de conhecimento de parte bem informada de nossa "indignada sociedade" de episódios sensacionais envolvendo "carteiraços" homéricos de figuras imponentes socialmente ou de altos cargos em instituições impolutas que mandaram às favas com impropérios, ameaças de retaliação e mesmo violência agentes de Estado - municipais ou estaduais - ao serem flagrados em situações esdrúxulas ou até bizarras.

O sargento, segundo o seu superior comandante do 25 Batalhão, tem um histórico de comportamento inapropriado e está de licença desde outubro. A sindicância interna deve durar 20 dias. Gostaria de conhecer o prontuário de atendimento psicológico deste sargento sequelado, que está prestes a ser defenestrado como um marginal após quase 30 anos de serviços prestados a BM. Sim. É evidente pelo histórico do servidor revelado por seus superiores que ele deve estar sob tratamento médico. Não? Como assim? Quer dizer que as instituições viram as costas aos seus funcionários, que vivem sob intenso estado de tensão psicológica, acompanham suas atitudes de comportamento duvidoso e nada fazem?

Não pretendo defender o sargento, mas me recuso a repercutir de forma oca um coro contra ele como sendo o primeiro, único e desprezível exemplo de comportamento repulsivo produzido por alguém que se sinta por cargo, posição ou parentesco acima dos meros mortais. O sargento precisa de tratamento médico. Ele e dezenas de milhares de servidores públicos dos órgãos policiais (BM/PC/Susepe) que enfrentam, diariamente, risco de vida, baixos salários, péssimas condições de moradia e lazer, e evitam a miséria da aposentadoria. Jogar pedra na Geni? Não contem comigo! A conferir!

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