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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

INVESTIGAÇÃO POLÊMICA - POLÍCIA CIVIL RS NEGA ERRO

DNA descarta principal suspeito de estupro. Material genético de rapaz é incompatível com o do criminoso que atacou jovem em Novo Hamburgo - ÁLISSON COELHO | VALE DO SINOS/CASA ZERO HORA, ZERO HORA 21/10/2011

O exame de DNA, cujo resultado foi apresentado ontem, descartou a presença de material genético do principal suspeito do estupro de uma jovem de 20 anos em 5 de agosto, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Jacson Nauta de Quadros, o Jundiá, 19 anos, foi apontado como o autor do crime pela Polícia Civil, mas, segundo autoridades federais, estava, naquele dia, sob abrigo de um programa de proteção fora do Rio Grande do Sul.

Os investigadores o tornaram suspeito devido a relatos da vítima e de testemunhas. O exame de DNA contraria a versão policial.

Jundiá, ameaçado de morte por ter admitido a participação em 12 assassinatos durante a adolescência, continua sob guarida do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (Ppcaam) em outro Estado. Foi a Polícia Federal (PF) quem encaminhou o material genético do jovem ao Instituto-geral de Perícias (IGP). Para ter certeza de que o sangue era do rapaz, o IGP confrontou a amostra recebida da PF com o sangue da avó dele, confirmando o parentesco.

Depois, foi feito o exame que comparou características genéticas entre o sangue de Jundiá e o sêmen recolhido na vítima após o crime. O resultado foi negativo, ou seja, Jundiá não teria mantido relação sexual com a jovem.

Mesmo com o laudo, o delegado Ayrton Figueiredo Martins Júnior, da 3ª Delegacia da Polícia Civil de Novo Hamburgo, mantém Jundiá como investigado e diz que enviará o inquérito à Justiça nos próximos 10 dias:

– O que eu vou fazer agora é confrontar todas as provas coletadas.

O depoimento da vítima, que em duas ocasiões apontou Jundiá como responsável pelo crime, é ressaltado pelo delegado regional do Vale do Sinos, Bolívar Llantada. Para ele, é preciso considerar as demais provas levantadas durante a investigação. Embora evite falar, a polícia suspeita da eventual participação de Jundiá no sequestro e na violência sexual, ainda que o exame de DNA aponte que ele não manteve contato com a jovem.

– Não se pode fechar os olhos para o depoimento da vítima. Nenhuma prova é superior a outra. Tivemos convicções iniciais e agora temos esse laudo. Tudo será analisado – afirma o delegado regional.

Para o advogado de Jundiá, Dani Rudinick, o resultado do exame afasta em definitivo a possibilidade de participação do cliente dele no crime. O advogado ressaltou que, em função do trauma, a jovem de 20 anos pode ter se enganado ao depor. Ele lembrou que a vítima afirmou ter sido violentada por Jundiá, mas, se isso fosse verdade, o material genético coletado nela após o crime teria de ser compatível com o de Jundiá, o que não se confirmou.

– O que queremos agora é que a polícia reconheça a falha, encontre o verdadeiro culpado e deixe de se apegar a uma tese – diz Rudinick.

O advogado afirma que Jundiá vem sendo intimidado para não voltar a Novo Hamburgo. Rudinick defende o trabalho de ressocialização e proteção realizado com o jovem, que vive com a mãe e os irmãos em outro Estado.

– A polícia recebeu a ficha-ponto, indicando que o Jacson estava trabalhando bem longe do Rio Grande do Sul na semana do crime – ressalta.

Entenda o caso

- Em 5 de agosto, uma jovem de 20 anos é sequestrada, torturada e estuprada em Novo Hamburgo. O crime teria sido cometido por dois homens como represália ao irmão da vítima, que teria dívida com um traficante;

- Três dias depois, a Polícia Civil divulga foto de Jacson Nauta de Quadros, o Jundiá, 19 anos, apontando o rapaz como suspeito de violentar a jovem. Em 2008, com 16 anos, Jundiá chocou o país ao confessar 12 assassinatos;

- Em 9 de agosto, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos emite alerta à polícia gaúcha dizendo que Jundiá estaria em um programa de proteção a testemunhas desde que saiu da Fase. Portanto, longe de Novo Hamburgo;

- Em 11 de agosto, a polícia continuava procurando Jundiá, até que a Justiça revogou o pedido de prisão com base em documentos que atestavam que o jovem estava estudando e trabalhando em outro Estado na semana do crime;

- Ontem, a polícia divulgou o exame de DNA que comparou o material coletado na vítima com o de Jundiá. O resultado deu negativo. A polícia promete entregar o inquérito à Justiça em 10 dias e Jundiá continua como investigado.


“A Polícia Civil não errou”. Bolívar Llantada, delegado regional do Vale do Sinos - JOSÉ LUÍS COSTA

Responsável pela divulgação do nome de Jundiá como suspeito de atacar uma jovem em Novo Hamburgo, o delegado regional do Vale do Sinos, Bolívar Llantada, falou a ZH:

Zero Hora – O exame de DNA aponta que um dos dois suspeitos de atacar a jovem não seria o Jundiá. Como o senhor avalia isso?

Bolívar Llantada – O Direito Processual Penal tem vários níveis de prova. O delegado Ayrton (Figueiredo Jr, da 3ª DP de Novo Hamburgo) tem provas subjetivas – depoimento da vítima e de testemunhas – e agora aportou ao inquérito policial uma prova pericial, que vai a favor do Jundiá. O delegado vai contrastar com outras provas e, em 10 dias, vai decidir os indiciamentos ou não. Ele vai analisar como a prova de DNA se encaixa no contexto. Além do crime de estupro, existe crime de tortura e de tráfico de drogas.

ZH – O resultado do DNA retarda a investigação,?

Bolívar – Não. Pelo contrário. Ele soma, colabora com a investigação.

ZH – A Polícia Civil errou?

Bolívar – Não, não errou. Naquele momento em que anunciamos o caso, tínhamos a palavra da vítima, de testemunhas e indícios da autoria. Tanto que o juiz decretou a prisão preventiva do Jundiá que passou pelo crivo do Ministério Público. Anunciamos o nome do Jundiá para tentar capturá-lo. Essa prova pericial ancorou no inquérito três meses depois e não pode ser analisada isoladamente.

ZH – O senhor está preparado para uma eventual ação de danos morais por parte da família do Jundiá?

Bolívar – Na vida policial, estamos preparado para tudo. Mas não vejo razão para ensejar uma ação. Eu e o delegado Ayrton cumprimos fielmente o Código de Processo Penal e a Constituição Federal. O DNA não é a única prova, não fala por si só.

ZH – E a possibilidade de responder a uma sindicância na Corregedoria da Polícia Civil?

Bolívar – Mas por quê? Quando um promotor denuncia e não ocorre a condenação do réu, o promotor tem de ser processado? Não. A polícia tem uma convicção.

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