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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

DELEGADO LINHA-DURA NEGA TORTURAS E ENVOLVIMENTO COM BICHEIROS


Um delegado linha-dura que se aliou ao bicho, Mauro Magalhães chefiou delegacia de Petrópolis, é acusado de proteger bicheiros, teve nome na lista de Castor, mas nega saber de torturas

CHICO OTAVIO E ALOY JUPIARA
O GLOBO
Publicado:9/10/13 - 10h00

Mauro Magalhães nega ter servido à contravenção 12-1992 / Ricardo Chvaicer


RIO — No início dos anos de chumbo, em 1969, quando as Forças Armadas desencadearam uma guerra sangrenta contra as organizações da esquerda armada, os militares formaram as primeiras equipes de repressão recrutando agentes nas delegacias e nos quartéis da Polícia Militar. Essa aliança, que tornaria a tortura uma política de governo, construiu também a ponte que ligaria mais tarde os porões do regime ao crime organizado. Pelo menos dois policiais civis envolvidos na repressão, o delegado Mauro Magalhães e o detetive Fernando Gargaglione, foram investigados por receber propina da contravenção. Além disso, Magalhães, como chefe da Delegacia de Buscas e Capturas (Polinter), foi acusado de facilitar a vida dos bicheiros presos pela juíza Denise Frossard.

Nos primeiros dias após o golpe de março de 1964, Mauro Magalhães atuou, como delegado de Ordem Política e Social, no interrogatório de presos confinados no estádio Caio Martins. Seu papel mais importante, contudo, foi desempenhado em 1971, quando assumiu a titularidade da Delegacia de Petrópolis. Na época, a unidade serviu de base para a “Casa da Morte”, um aparelho clandestino de tortura montado na cidade serrana pelo Centro de Informações do Exército (CIE). Um dos agentes identificados como torturador da casa, Luís Cláudio Azeredo Vianna, codinome “Laurindo”, era o segundo da hierarquia da delegacia. E o terceiro na linha de comando, era o inspetor Joel Crespo. Luís Cláudio e Joel eram ligados ao bicheiro Aniz Abrahão David, o Anísio de Nilópolis; Joel, parceiro de Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães.

Já o detetive civil Fernando Próspero Gargaglione de Pinho era regularmente acionado pelos centros de repressão para ocultar os corpos de vítimas dos porões. Gargaglione teria contribuído para os principais centros de repressão do Exército — DOI-Codi/RJ, Dops/RJ e Quartel da Vila Militar/RJ —, envolvendo-se no desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva em 1971.

Dois detalhes se repetem nas carreiras de Magalhães e Gargaglione: ambos tiveram os nomes incluídos na lista de torturadores divulgada pelo projeto Brasil Nunca Mais e figuraram também na contabilidade apreendida na fortaleza de Castor de Andrade em 1994, junto a políticos, advogados e outros policiais que receberiam propina.

Magalhães assumiu a Delegacia de Petrópolis em março de 1971, um mês depois do desaparecimento de Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, provavelmente a primeira vítima da Casa da Morte. Embora Luís Cláudio, ou “Laurindo”, fosse o único policial vinculado diretamente ao CIE, responsável pela masmorra de Petrópolis, uma fonte militar afirma que todos na delegacia sabiam e eram coniventes com o que acontecia dentro da casa.

Um documento guardado pelo Arquivo Nacional reforça a atuação de Mauro Magalhães na repressão política. Em dezembro de 1971, o delegado encaminhou para o Exército uma suposta carteira de identidade falsa, que alegou pertencer ao advogado goiano Paulo de Tarso Celestino. Magalhães teria recebido o material, alegou, das mãos de uma prostituta de Juiz de Fora. Dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN), Paulo de Tarso teria desaparecido em julho daquele ano. Inês Etienne, que seria a única militante de esquerda sobrevivente da Casa da Morte, teria ouvido dos seus carcereiros que o dirigente fora assassinado.

Delegado diz que desconhecia casa da morte

Hoje, aos 80 anos e aposentado, Magalhães reconhece que a delegacia de Petrópolis era frequentada por agentes da repressão, sugerindo “que eles faziam algo por lá”, mas assegura que nunca soube da existência da casa e de torturas.

— Só soube da existência da Casa da Morte pelos jornais. Era até perigoso se meter com os assuntos da repressão — afirma.

Magalhães também nega a relação com a contravenção, embora admita conhecer Anísio e Capitão Guimarães desde os anos 60, quando comandou delegacias na Baixada Fluminense.

Outra acusação que pesa contra Magalhães foi a de facilitar com regalias, em 1993, a vida dos bicheiros presos na Polinter, da qual era diretor. Castor teria bancado uma reforma na carceragem da delegacia, onde também estavam presos Paulo de Andrade (filho de Castor), Capitão Guimarães e José Petrus, o Zinho, condenados pela juíza Denise Frossard por formação de quadrilha. Magalhães negou as regalias e disse que a obra era paga com dinheiro público.

Sobre a presença de seu nome na lista de Castor, Magalhães foi inocentado pela Justiça em primeira instância, e o Ministério Público recorreu. O delegado diz que, na época, não apenas ameaçou fisicamente como investigou a vida pessoal de dois membros do MP, responsáveis pela investigação da propina, o promotor José Carlos Cáffaro e o então procurador-geral de Justiça Antônio Carlos Biscaia. Ele diz que foi perseguido e que o objetivo dos integrantes do MP e do Judiciário era político.


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