ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

RIO - OS TIROS QUE MANCHAM

Sequestro de ônibus: especialistas reprovam ação que culminou com inocentes feridos - 10/08/2011 às 23h17m - O Globo


RIO - A ação da polícia de atirar no ônibus da Viação Jurema, sequestrado por bandidos na Avenida Presidente Vargas, para conter a tentativa de fuga dos bandidos manchou a operação feita pela PM na noite de terça-feira, segundo especialistas em segurança pública. Para o coordenador da área de segurança humana da ONG Viva Rio e ex-comandante da corporação, coronel da PM Ubiratan Ângelo, a integridade física das pessoas inocentes que estão envolvidas sempre tem que estar em primeiro lugar.
Independentemente de ser acertada ou não a decisão dos policiais de atirar nos pneus para tentar parar o veículo, era preciso pensar na reação das pessoas que estavam ali dentro.

- Independentemente de ser acertada ou não a decisão dos policiais de atirar nos pneus para tentar parar o veículo, era preciso pensar na reação das pessoas que estavam ali dentro. Os próprios bandidos não tinham como saber para onde estavam sendo direcionados os disparos. O coletivo poderia ter sido acompanhado até a realização de um outro bloqueio, mais à frente, que pudesse pará-lo, sem a necessidade de confronto - avaliou Ubiratan, ressaltando o sucesso da negociação feita após o veículo ter sido interceptado. - Evoluímos muito nessa questão desde o episódio do 174.

Ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e consultor de segurança, Paulo Storani acredita que um ponto positivo no caso foi mostrar que a polícia está presente nas ruas. Ele destaca, porém, que não havia justificativa para os tiros. Na sua opinião, o pano de fundo para mais uma história que termina com inocentes feridos é a falta de treinamento constante dos policiais:

- Quando há a recorrência de um fato, isso mostra que está havendo um erro de procedimento. Há um problema sério com o treinamento dos policiais. Em tese, eles sabem o que fazer, mas, como o aperfeiçoamento é feito de forma isolada, não conseguem experimentar as variáveis de um caso como o de ontem (terça-feira). Falta um treinamento mais repetitivo. É preciso algo constante. Não podemos ficar expostos a uma decisão individual, ou seja, do que o policial acha certo ou errado fazer naquela hora. E não é só saber atirar, mas em que condições deve atirar.

Atingida no tórax. Filha de baleada em sequestro de ônibus no Centro classifica como péssima a ação da polícia e pede doação de sangue para a mãe - O GLOBO, 10/08/2011 às 12h49m - Rafael Galdo

RIO - Filha de uma das vítimas baleada durante o sequestro ao ônibus da Viação Jurema que seguia pela na Avenida Presidente Vargas , Tamy Pereira, de 27 anos, criticou, na manhã desta quarta-feira, a ação da polícia. Segundo ela, sua mãe, Lisa Mônica Pereira, de 46 anos, atingida por um tiro no tórax, continua internada em estado grave no Hospital Souza Aguiar e, até agora, os familiares não receberam nenhuma informação sobre as ciscunstâncias em que ela foi baleada. A filha da vítima fez ainda um apelo para que doem sangue A negativo, em falta no Hemorio. Quem quiser doar deve comparecer de 7h às 18h à sede do Hemorio, que fica na Rua Frei Caneca 8, no Centro. Para mais informações, o voluntário pode ligar para o Disque Sangue (0800 282 0708), que esclarece dúvidas e informa o endereço dos outros 26 postos de coleta distribuídos no Estado.

- A ação da polícia foi péssima. Ninguém sabe, até agora, se o tiro partiu dos policiais ou dos bandidos, se ela foi a refém arrastada para fora dos ônibus pelos ladrões. Não sabemos sequer em que momento ela foi atingida - disse Tammy, que tentou visitar a mãe durante a manhã, mas não conseguiu.

Ela contou que a Lisa fazia um curso de artesanato todas as terça-feiras em Copacabana e costumava chegar em casa por volta das 21h. Nesta terça-feira, às 23h, como Lisa ainda não havia chegado, Tammy começou a procurar informações sobre a mãe.

Ela ficou sabendo por uma amiga que um ônibus que seguia para Caxias havia sido sequestrado. Ela foi, então, até a garagem da Viação Jurema, onde confirmaram a informação e disseram que uma das vítimas tinha por volta de 46 anos, idade da mãe dela.

- Corri então para o Souza Aguiar. Quando cheguei aqui, os jornalistas me informaram que minha mãe estava entre as vítimas. Mas, fora isso, ninguém dá informação sobre ela - desabafou, muito nervosa.

Josuel dos Santos Messias, de 46 anos, baleado no pé durante o assalto ao ônibus contou como foi a ação dos bandidos. Ele foi atendido no Hospital Souza Aguiar e liberado.

- Todo mundo se jogou no chão. Não sei de onde vieram os tiros e não consegui ver os bandidos, pois o ônibus estava escuro - disse Josuel, que é inspetor de alunos num colégio de São Gonçalo e mora em Caxias.

Ele reclamou da falta de assistência após o incidente.

- Até agora, ninguém se manifestou: nem a empresa, nem o estado. Queria ver como vai ficar minha situação - criticou.

O passageiro Hélio Gomes, de 30 anos, que foi obrigado pelos bandidos a dirigir o coletivo na Presidente Vargas, no trecho entre a Universidade Estácio de Sá e a estação Cidade Nova do Metrô. O analista de sistemas contou que entrou no ônibus na Central do Brasil e acredita que os bandidos já estivessem dentro do coletivo. Já na Avenida Presidente Vargas, o motorista encostou o ônibus e ficou parado por cerca de 20 minutos.

- Achamos que o ônibus havia enguiçado. Depois de um tempo, um policial entrou e pediu para todos colocarem as mãos no banco à frente porque os passageiros seriam revistados. Éramos cerca de 20 pessoas, a maioria mulher - disse Hélio, ao deixar a delegacia.

Neste momento, os bandidos teriam se revelado, desarmado o policial e o expulsado do ônibus. O motorista já havia fugido do coletivo. Como Hélio aparentava estar calmo, os assaltantes colocaram a arma em sua cabeça e o obrigaram a assumir a direção. O analista de sistemas furou o bloqueio policial e avançou na Avenida Presidente Vargas, até os policiais começarem a atirar na direção dos pneus.

- Nesse momento, os assaltantes se refugiaram no fundo do ônibus e eu me abaixei. Quando o ônibus parou, quebrei a janela lateral e fugi - contou.

Hélio afirmou ter visto apenas granadas nas mãos dos bandidos. A única arma seria aquela tirada do policial que entrou no ônibus. Os assaltantes falavam que uma das granadas estava sem pino. Enquanto um dos bandidos ameaçava matar os passageiros, o outro falava que não queria fazer isso.

- A PM veio atrás fazendo disparos e furaram os pneus do ônibus, o que permitiu que houvesse o cerco policial - contou uma passageira que não se identificou.

Uma das primeiras a registrar queixa na 6ª DP (Cidade Nova), Mara dos Santos, de 52 anos, deixou a delegacia ainda bastante abalada. Ela contou que havia saído do camelódromo da Uruguaiana, onde trabalha, e pegou o ônibus para voltar para casa, em Caxias.

- Nunca achei que iria passar por isso. Eram três bandidos. Acho que os tiros que atingiram passageiros vieram de fora do ônibus. Foi uma noite horrível de terror - disse.

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