ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

HERÓIS E BANDIDOS

PAPÉIS TROCADOS. Policiais em dois episódios de violência no Rio: heróis e bandidos - Milton Corrêa da Costa, coronel da reserva da PMERJ - O Globo, 18/11/2010 às 21h03m; Artigo do leitor

Num período de pouco mais de 12 horas, compreendido entre a tarde de quarta e a madrugada desta quinta-feira, dia 18, no contexto da guerra urbana de caráter permanente que envolve a cidade do Rio de Janeiro, policiais militares foram protagonistas de diferentes papéis no noticiário de ocorrências recheadas de medo, correria, perseguições, pânico, tiros e mortes violentas. Sem nenhum desdouro aos cariocas, como eu, mas não há mais como identificar somente o Rio pelas raras belezas naturais. O Rio também é, sem qualquer dúvida, além de Cidade Maravilhosa, a "Cidade do Terror".

No primeiro episódio, da tarde desta quarta-feira , o centro financeiro do Rio, na avenida Rio Branco, local de memoráveis páginas de luta pelo estado democrático de direito, transformou-se num cenário típico de filme policial americano, onde poderiam ser protagonistas da ação Bruce Willis ou Sylvester Stallone. A cena real, em plena luz do dia, com centenas de transeuntes em pânico, na plateia ao vivo, eram dois policiais militares que, no cumprimento do dever, perseguiam uma dupla de suspeitos armados.

No desenrolar da ação, o policial militar Bruno de Castro Ferreira, do 13° BPM, que hoje completaria 30 anos de idade - não há familiares que resistam a tamanha dor de enterrar um parente no dia do seu nascimento - foi morto, com tiro na cabeça, disparado por um dos marginais que fazia um pedestre de escudo. O bandido também morreu.

As primeiras informações - o fato será apurado - é que ao ser detido, e algemado em seguida, o bandido chegou morto ao hospital, em consequência de disparo de arma de fogo. Não se sabe ainda o momento em que foi baleado. Acrescente-se que, por mais experientes e equilibrados que sejam, policiais são também seres humanos, sujeitos a episódios de revolta, indignação e estresse resultantes da natureza da função, ainda que não se possa, de forma alguma, fazer justiça com as próprias mãos.

Tal história faz lembrar, inclusive, do fatídico 12 de junho de 2000, na Rua Jardim Botânico, no famoso caso do ônibus 174, quando, após ser preso e colocado numa viatura policial, o sequestrador, sem antes matar impiedosamente sua refém, acabou morrendo antes de chegar ao hospital. Mas essa é outra história, na qual a Justiça já deu o seu veredicto. O mais importante é que daquele episódio, não há dúvida, foram colhidos importantes ensinamentos mesmo para o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), uma tropa de elite, altamente especializada no combate urbano, a quem coube o comando das operações naquela tarde de tensão no Rio.

Nesta madrugada de quinta-feira, dia 18 , no segundo episódio da violenta guerra urbana do Rio, um policial militar, assaltante, num carro roubado e em companhia de outro PM já preso, ambos do 22° BPM, foi morto na Ilha do Governador, num confronto a tiros contra companheiros de farda do 17° BPM, ali de serviço, que checavam a denúncia sobre o veículo roubado. Os bandidos (pasmem) eram colegas de profissão que naquele momento - provavelmente não foi a primeira vez - faziam o papel duplo. Praticavam roubo de carro e não se sabe se outros delitos. Ou seja, BANDIDOS travestidos de policiais. É o que se pode dizer: muitas vezes o inimigo está dentro da própria casa. Profundamente lamentável que a sociedade, que precisa confiar na sua polícia, seja dessa forma traída e afrontada.

É mais do que urgente que se extirpe as maçãs podres ainda existentes nas instituições policiais. Dias atrás, também no Rio, dois policiais civis foram identificados e presos por fazerem parte de uma quadrilha de criminosos especializada em clonar cartões em caixas eletrônicos. Pior ainda quando se soube que, em troca de propina, também forneciam informações a traficantes sobre o desenrolar de operações policiais. Ou seja, forneciam informações para que bandidos pudessem estar preparados para matar os próprios colegas de profissão. É a traição máxima de quem é totalmente desprovido de ética e decência. Policiais que passam para o outro lado que deveriam combater. É a fraqueza moral e a força da grana que falam mais alto no país da arraigada cultura de se obter vantagem em tudo.

Só resta agora, em caráter de urgência urgentíssima, que o Código Penal Brasileiro seja objeto de revisão para que se possa punir, com o dobro da pena, todo policial que cometa crime doloso que importe em desonra para a instituição a que pertença. Aos familiares do policial Bruno de Castro Ferreira, morto no cumprimento do dever, na defesa da lei e da ordem, no episódio da Avenida Rio Branco, o nosso profundo pesar. Aos policiais patifes, traidores da sociedade, o nosso veemente repúdio.

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