CRISE ENTRE POLÍCIAS. Para acalmar os ânimos. Encontro da cúpula da Segurança, hoje, é o ponto de partida para buscar soluções na relação entre policiais civis e militares - DIOGO VARGAS, DIÁRIO CATARINENSE, 18/08/2011
O que era um "ato isolado" virou discussão na cúpula da Segurança Pública em SC. A partir das 8h, o secretário César Grubba se reunirá com os chefes das polícias Civil e Militar. Tentará apaziguar os ânimos entre as instituições a mando do governador Raimundo Colombo.
O resultado do grupo recém-formado poderá ser um documento do papel de cada instituição, cuja relação, já estremecida, ficou ainda mais abalada após o tenente-coronel Luiz Rogério Kumlehn ofender delegados e um promotor numa reunião interna.
Enquanto as forças policiais não se entendem, a sensação é de prejuízo a quem deseja a diminuição da criminalidade. Para o juiz presidente da Associação dos Magistrados Catarinenses, Paulo Ricardo Bruschi, é necessário que os problemas sejam resolvidos e apurados entre as instituições.
– O desejo dos magistrados é que essas instituições aparem arestas, trabalhem afinadas e que as discórdias existentes sejam sanadas – declarou Bruschi ao DC.
Se os discursos dos comandantes é de que os fatos são pontuais, o tom de conversa dos representantes das entidades de oficiais e delegados dá a entender que dificilmente um documento sobre o papel de cada um resolverá a crise.
Investigação "paralela" e aumento salarial
O Diário Catarinense ouviu os dois, ontem, para saber o que faltava para a tão desejada integração entre as polícias no Estado. O presidente da Associação de Oficiais Militares de SC, Fred Harry Schauffert, disse que a "briga" deve-se a duas situações: o fato de um P-2 da PM ter investigado um delegado da Polícia Civil e porque os delegados criaram uma situação para pedir aumento salarial.
– Eles (delegados) criam fatos, polêmicas, mudam o foco – disse Schauffert, considerando que há apenas desavenças pontuais.
O coronel entende que o colega oficial Luiz Kumlehn, exonerado do comando da PM em Jaraguá do Sul, deveria ter usado outras palavras para tecer as suas críticas, mas que "falou algumas verdades", como a não subordinação de um oficial a um delegado de polícia.
Instituições precisam respeitar a Constituição
Para o presidente da Associação dos Delegados de Polícia de SC, delegado Renato Hendges, a integração entre as polícias só irá acontecer quando cada instituição obedecer o que determina a Constituição. – A PM precisa parar com os atos de ilegalidades, de abuso de autoridade – disparou Renatão, citando interceptações telefônica feitas por PMs.
ENTREVISTA - “Eu já fui condenado”. Luiz Kumlehn, ex-comandante da PM em Jaraguá do Sul - DIEGO ROSA
Prestes a se mudar para Florianópolis, o tenentecoronel Luiz Rogério Kumlehn esteve ontem em Jaraguá do Sul. Em entrevista exclusiva, voltou a dar declarações fortes. Desta vez, não usou palavrões. Disse que age pensando no cidadão e criticou novamente a postura da Polícia Civil.
DC – Na gravação aparece uma declaração com críticas a delegados de Polícia Civil e um promotor. O senhor tem críticas a essas instituições?
Kumlehn – Eu não vou mais apontar críticas a ninguém. Não houve nem processo e eu já fui condenado. É mais fácil cortar o meu pescoço do que sustentar uma tese. Eu fui informado pelo comandante- geral de que ele não tinha como sustentar o meu comando.
DC – O que o senhor perde?
Kumlehn – Acho que o prejuízo é muito maior para a instituição (PM). Quanto a mim, se a PM me olhar como patinho feio, eu vou embora. Não quero atrapalhar.A instituição é excelente.
DC – Na gravação, o senhor fala de um documento encaminhado por um delegado que havia pedido cinco dias para o senhor dar uma resposta. Que documento era aquele?
Kumlehn – No início do ano eu recebi um documento sem data, sem protocolo, não tinha nenhuma identificação de como sendo algo oficial, sem número e com a assinatura de quatro delegados (Adriano Spolaor, David Queiroz, Weydson da Silva e Leandro Mioto) me dando prazo de cinco dias para cumprir alguma coisa que não me lembro o que era. Diziam que eu estava usurpando de função pública por fazer boletim de ocorrência. Eu cumpro o que está previsto nas nossas diretrizes. Faço o que a PM determina o que eu faça. E o delegado me mandar ofício para eu parar de fazer boletim de ocorrência e ainda mandar uma correspondência em cinco dias? Ele não tem essa autoridade.Vou continuar protegendo a minha instituição.
DC – Como o senhor avalia essa briga entre PM e Polícia Civil no desempenho de algumas funções de segurança?
Kumlehn – Eu acho que isso está sendo fomentado pelo Renato Hendges. Ele foi o criador desse foco de insatisfação institucional. Eu tenho grandes amigos na Polícia Civil. O que não aceito é ser desrespeitado na minha função como comandante. Até porque o desrespeito não é contra mim, mas contra a instituição.
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