terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

VIOLÊNCIA POLICIAL MILITAR

ZERO HORA 24 de fevereiro de 2013 | N° 17353

PAULO SANT’ANA



Uma arbitrariedade policial-militar atingiu minha família, às 19h10min da última quarta-feira.

Minha mulher estava em companhia de seu sobrinho, trabalhador com 34 anos, nas imediações da Travessa Outeiro com Rua Volta da Cobra, no Partenon.

Preparava-se para entrar no seu carro quando de uma viatura da BM desceram três brigadianos em serviço, entre eles uma policial feminina.

A policial feminina revistou detida e asperamente a bolsa da minha mulher. E o aparente chefe da patrulha, um PM loiro, ao ouvir as razões da minha mulher, que, por sinal, é negra, disse a ela “Tu tens é que te f...”, acrescentando “tu tinhas é que estar lavando louça”, num subjetivo rompante racista.

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É bom lembrar que os três integrantes da patrulha já chegaram perante minha mulher de armas pesadas em punho. Minha mulher refere que eram metralhadoras, mas deviam ser fuzis.

A seguir, sem nenhum motivo, o policial loiro desferiu um chute violento na perna aleijada por cirurgia vascular do sobrinho da minha mulher.

Temos então no caso dois tipos de violência, o psicológico-moral que sofreu minha mulher e o de violência física no chute que sofreu o sobrinho dela.

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Minha mulher chegou em casa aos prantos. Entrei em contato por telefone com o alto-comando da BM. Por sinal, fui atendido gentil e exemplarmente pelo coronel Silanus e pelo tenente-coronel Vasconcelos.

Foi então que pedi só uma coisa ao oficial Vasconcelos: que eu e minha mulher fôssemos levados até diante dos três policiais que inventaram a revista, que eu queria dizer, olhos nos olhos com o policial loiro, o seguinte: “Parem de cometer essas tropelias. Os senhores são servidores dos cidadãos e não seus algozes. Parem com essa violência nas revistas pessoais, imaginem o que vocês não fazem em ocorrências mais sérias. Parem!”.

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O tenente-coronel Vasconcelos concordou que no dia seguinte eu e minha mulher fôssemos até a Ouvidoria da BM e que eu me defrontasse com o loiro agressor e minha mulher prestasse queixa.

Uma hora depois, o oficial Vasconcelos me disse que o canal superior a si tinha decidido que minha mulher poderia prestar a queixa, mas que eu não poderia ficar frente a frente com o policial agressor.

Foi quando eu, desanimado, agradeci por tudo e disse ao coronel que, se não podia olhar nos olhos do agressor da minha mulher e do sobrinho dela, então eu desistia de tudo, porque vai dar em nada mesmo.

Mais uma grave violência sofrida cotidianamente pela população vai restar impune.

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Eu podia, aqui por esta coluna, baixar a crítica em cima da Brigada Militar, assim em comoção como estou.

Mas não vou fazê-lo, eu seria injusto. É que a tarefa policial deriva de Deus, igual à tarefa da medicina.

E essa tropelia que cometeram contra minha mulher é uma prova de que assim é a sorte das coisas divinas em mãos humanas.

Mas o secretário da Segurança Pública e o governador, se dignarem-se a tomar atenção por esse fato, haverão de por alguma forma atenuar a onda de violência arbitrária cometida por esses esbirros e beleguins contra a indefesa população.

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Se assim agem contra uma dona de casa e seu sobrinho, pensem no que têm feito de violência a torto e a direito por aí, todos os dias.

Todos os dias.

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Cumpro reconhecer que os patrulheiros da BM são instruídos por seus superiores para se tornarem cordiais, polidos e educados quando das abordagens aos cidadãos nas ruas. E que uma parte deles obedece a essas instruções.

Só a parte ruim desobedece.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É lamentável. O Comando deve ter aberto IPM para elucidar os fatos.

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