EDITORIAL O GLOBO, 28/09/2011 às 19h08m
A prisão sumária do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, comandante do 22º BPM, suspeito de ser o mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli, dá a medida de duas situações que decorrem deste gravíssimo caso. A primeira, estimulante, diz respeito à exemplar resposta do governo a um crime que afrontou o poder constituído.
Diante das fortes evidências de envolvimento do oficial, a Secretaria de Segurança, detendo-o, desarmou preventivamente eventuais tentativas de deixá-lo sem punição. A segunda decorrência é mais sombria: ao pôr à mostra a ponta de um fio que leva diretamente ao coração da banda podre da polícia fluminense, descobre-se que a contaminação alcança o alto-comando da polícia.
De quebra, fica a suspeita, igualmente preocupante, de que a doença da promiscuidade de maus policiais com a criminalidade estaria atingindo, por metástase, a elite da PM do Rio. É significativo, e inquietante, que o tenente-coronel tenha sido formado no Bope, o Batalhão de Operações Especiais celebrado por sua operacionalidade contra os bandidos e, até recentemente, um organismo tido como vacinado contra a corrupção que corrói a credibilidade da corporação.
A dura e imediata resposta das autoridades de segurança, por óbvio refletindo uma decisão política do Palácio Guanabara, consolida uma tomada de posição claramente inflexível com a banda podre. A opção de atacar a corrupção policial tem se expressado, desde o primeiro mandato do governador Sérgio Cabral, na série de prisões e punições de policiais flagrados em delito de envolvimento com o crime. Agora, no entanto, o processo de limpeza das polícias fluminenses entra em novo patamar.
A prisão, inédita, de um comandante de batalhão por suposta participação numa morte encomendada, episódio que se torna ainda mais grave por ter afrontado diretamente o Poder Judiciário, põe na mesa um dado ainda mais apavorante, para a sociedade, que os constantes relatos de ligação entre policiais do baixo clero com criminosos. Desta vez, recolhem-se evidências incontornáveis de que a conversão de agentes públicos de segurança ao banditismo chega à alta hierarquia da Polícia Militar do Rio de Janeiro, por definição constitucional uma corporação criada para proteger os cidadãos - e não para contra eles se voltar.
Tanto quanto a obrigação de puxar até o fim a nova ponta do fio, independentemente das implicações que tal decisão tenha dentro da cadeia de comando policial, o governo estadual tem o dever de fazê-lo como ação emergencial. Trata-se de tomar iniciativas de ocupação de terreno: chegou-se ao ponto em que operações pontuais para desarticular grupos subalternos de maus agentes já não bastam para desestimular a banda podre; tendo o poder público avançado ao andar de cima da corrupção, dele não pode recuar.
A limpeza ética das polícias deve ser tomada como política de Estado. Até mesmo para servir de exemplo a outros estados, onde a infiltração da criminalidade nas instituições não se mostra tão cristalina como no Rio de Janeiro, mas é igualmente deletéria. E, não menos importante, porque a gravidade da situação que o assassinato da juíza Patrícia Acioli está trazendo à tona pode pôr em xeque o exitoso programa de segurança e pacificação em curso no estado, caso o governo do estado deixe passar esta imperdível oportunidade de dar um golpe fatal na banda podre.
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