quarta-feira, 20 de julho de 2011

OPERAÇÃO CARTOLA E INGERÊNCIA POLÍTICA


OPERAÇÃO CARTOLA. GOVERNADOR DO RS QUER DISCRIÇÃO NA POLÍCIA - PAULO GERMANO, ZERO HORA 20/07/2011

Ação de policiais civis em prefeituras foi bombardeada por aliados de Tarso
O governador Tarso Genro decidiu que a Polícia Civil deve ser mais discreta. No início do mês, a Operação Cartola (que investiga supostas fraudes em contratos de publicidade) provocou revolta entre políticos ao entrar em oito prefeituras de forma considerada, por eles, ostensiva demais.

Segundo o chefe de gabinete do governador, Vinicius Wu, “há indícios de que houve, de fato, algum tipo de excesso” na ação dos policiais. Desde que a operação foi deflagrada, prefeitos e aliados de Tarso queixam-se das sirenes ligadas, das portas arrombadas, das armas aparentes e do número de policiais que integraram a ação.

– A opinião do governador é de que isto pode ser ajustado nas próximas ações da polícia. É claro que depende muito da situação concreta: às vezes, algumas atitudes são necessárias, às vezes não – avalia Wu.

O chefe de gabinete ressalta que o Piratini apoia a Operação Cartola e o trabalho da instituição:

– De modo algum, haverá qualquer inibição das estruturas de investigação do Estado, sempre plenamente respaldadas. Mas a preocupação com os direitos fundamentais dos investigados também forma a nossa perspectiva.

O Piratini já alertou o secretário da Segurança, Airton Michels, e o chefe da Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira Júnior, sobre o desconforto provocado pela operação. O chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, diz que o próprio Ranolfo reconheceu que “em uma ou outra situação, pode ter havido um pouco de exagero”. Pestana também reforça que a ação policial poderia ter sido mais discreta.

– Não se pode fazer do secundário o principal. O principal é que surgiram indícios de irregularidades e houve vontade de investigar. Se poderiam ter escalado menos policiais, se a sirene poderia estar fechada, é secundário.

A Federação das Associações de Municípios (Famurs) já havia encaminhado a Tarso uma representação contra a atuação da polícia. O documento critica até o nome da operação, que teria “intuito de exposição ao ridículo”, e afirma que os policiais cometeram “crime de abuso de autoridade e atos de improbidade administrativa”.

– É possível que houvesse indícios em algumas prefeituras, mas é possível que muitas tivessem contratos regulares. E o prejuízo político e pessoal contra as pessoas foi muito grande – critica o presidente do PSB, um dos aliados de Tarso, Caleb de Oliveira.


Gregos e troianos - PÁGINA 10 | LETÍCIA DUARTE (Interina)

Mais do que uma confissão de culpa, as vozes que ecoam do Palácio Piratini admitindo excessos durante a Operação Cartola devem ser interpretadas como uma tentativa de responder politicamente às pressões.

Atuando em bloco, os prefeitos atingidos pela operação que mobilizou 500 policiais para adentrar em oito prefeituras e agências de publicidade partiram para o contra-ataque, se dizendo vítimas de uma ação espetaculosa e exagerada, que incluiu transportar documentos com sirene ligada.

Temendo uma crise com partidos aliados, o governador preferiu não comprar a briga. Ao reconhecer de antemão eventuais erros e orientar a polícia a ser mais discreta em suas operações, tenta evitar que o confronto ganhe maiores proporções.

O problema é que, ao mesmo tempo, essa postura desagrada aos agentes de segurança, correndo o risco de deflagrar uma crise institucional. Cobrados por mais efetividade em seu trabalho, os policiais se veem repreendidos na tentativa de cumprir o seu dever. Depois de quase um ano de investigações, em colaboração com o Ministério Público e o Ministério Público de Contas, e de atuarem cumprindo mandados judiciais, sentem-se desprestigiados pelo choro alheio.

Passando por cima da afirmação do secretário da Segurança, Airton Michels, que na semana passada negou a existência de “qualquer indício de excessos”, o chefe de gabinete de Tarso, Vinicius Wu, assegurou ontem que “há indícios de que houve, de fato, algum tipo de excesso”.

O risco de um impasse desse tipo é desviar o foco do que deveria ser o principal: as supostas irregularidades investigadas. Se não têm nada a temer, por que os prefeitos esbravejam tanto? Não é uma questão de dias para que tudo se esclareça, quando as investigações forem concluídas?

Quando as escutas forem reveladas e a íntegra do inquérito for conhecida, o caso poderá ser melhor avaliado. Por enquanto, cada lado garante estar com a razão. E o governador faz as vezes de equilibrista.

ALIÁS

No período em que foi ministro da Justiça, Tarso Genro também orientou a Polícia Federal a ser mais discreta em suas operações, atendendo a reclamações.

Quando a polícia invade vilas para prender traficantes, ninguém diz que a operação foi pirotécnica.

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