Milton Corrêa da Costa - O GLOBO, 06/07/2011 às 20h44m.
Errar, todos sabemos, é próprio dos seres humanos. Porém, é lamentável, no caso do menino Juan, no qual se sabe agora que está morto, que a precipitação de uma perita - o corpo não era de uma menina -, uma profissional da área de polícia técnica e científica, setor vital de apoio ao trabalho da polícia judiciária, coloque em incômoda situação a direção da Polícia Civil do Rio. Ainda bem que o exame de DNA produziu, em tempo hábil, o laudo correto, corrigindo-se o absurdo erro. Quando um perito erra, pode condenar um inocente e absolver um culpado. Daí a necessária cautela no importante trabalho que orienta decisões do Poder Judiciário.
O que salta aos olhos é que estamos diante de um rumoroso caso, de grande repercussão de mídia, que envolve o desaparecimento e morte de uma criança de 11 anos, onde a própria imprensa, a sociedade e em especial as organizações protetoras de direitos humanos - o Movimento Rio de Paz é uma delas - cobram insistentemente a solução imediata de um caso ainda sem provas definitivas, envolvendo policiais militares, em razão de uma intervenção no interior de uma favela da Baixada Fluminense, do qual resultaram baleados o menino Juan e o irmão mais velho, Wesley, e Wanderson, um rapaz de 19 anos de idade. O fato está, portanto, em fase de coleta de provas e investigação. Os policiais militares alegaram ter ocorrido uma troca de tiros.
No entanto, o episódio da informação contraditória sobre o corpo encontrado na semana passada coloca em xeque o próprio setor de comunicação social da Polícia Civil, ao permitir que se tornasse pública uma informação de natureza técnico-científica, através de um laudo pericial equivocado, sobre um caso que ainda se encontrava em fase de investigação e análise pericial, através de exame de DNA, o mais concluso para identificação do sexo da vítima, em razão do estado natural de decomposição do corpo, jogado num Rio e encontrado dez dias após o incidente no interior da favela. Um erro crasso e imperdoável da perita em questão e um erro de percepção da área de comunicação social.
Ressalte-se, porém, que a delegada Marta Rocha, que conduz exemplarmente, com competência e probidade, o comando da Polícia Civil do Rio, não merecia tamanho desconforto. Que não se julgue também, por este indesejável fato, todo o trabalho da Polícia Técnica e Científica, com excelentes e inestimáveis serviços prestados à sociedade fluminense e ao Pode Judiciário na elucidação de crimes, e que nem sempre, ao longo dos anos, tem sido atendida em todas as suas necessidades estruturais.
Que se extraia, no entanto, do incômodo episódio, ensinamentos. O mais importante deles é que quando se trata de polícia técnica e científica, a precipitação é uma grande inimiga.
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