Surto? Policial ameaça crianças com arma, tira a farda e fica só de cuecas em Joinville, Santa Catarina - 18/03/2011 às 14h42m, Jornal Hoje, O Globo
Um policial militar de Joinville, em Santa Catarina, aparentemente em surto psicótico, ameaçou com revólver um grupo de oito crianças que brincava e fazia barulho em uma das ruas da cidade. Segundo testemunhas, ele chegou a atirar duas vezes contra o grupo, mas ninguém foi atingido. Depois, o policial entregou a arma da corporação a um dos meninos e pediu que o jovem atirasse nele. Em seguida, o PM, que estava fardado, tirou a roupa e disse que não 'queria mais receber o salário miserável da polícia para aguentar desaforo'. O caso aconteceu na noite desta quinta-feira e foi gravado com o celular do pai de uma das crianças.
Veja as imagens gravadas pelo pai de uma das crianças
Segundo testemunhas, por volta de 19h, o grupo de crianças com idades entre 10 e 12 anos estava brincando na rua. Um carro se aproximou e do veículo desceu o soldado Mário Casprechen. Irritado com o barulho, o soldado teria atirado duas vezes contra o grupo. Os tiros não chegaram a ser gravados pela câmera do celular do pai de um dos meninos. Mas assustado, o homem gravou o que aconteceu em seguida.
" Vou tirar a farda aqui também, que eu não quero receber um salário miserável da polícia para aguentar desaforo "
As imagens mostram o soldado completamente fora de si entregando a arma a um dos meninos.
- Pega aqui. Você não é homem? pega aqui - diz o policial.
Assustados, as crianças e o homem pedem que o policial guarde o revólver.
- Ele desceu do carro armado, mandou as crianças, com idades entre 10 e 11 anos, encostarem no muro. Depois, chamou todos de vagabundo e atirou - diz o pai de um dos meninos, que não quer se identificar.
Logo em seguida, o policial começa a tirar a farda e fica só de cuecas.
- Vou tirar a farda aqui também, que eu não quero receber um salário miserável da polícia para aguentar desaforo - diz o policial.
O soldado só se acalmou com a chegada de uma viatura da polícia militar, chamada pelos moradores. O menino que foi abrigado a segurar a arma teve que receber atendimento médico.
- Ele pediu para eu atirar ele. Disse que não queria mais trabalhar. Até atirou na gente duas vezes, mas os tiros não pegaram - contou o jovem.
Segundo o comando da polícia, o soldado trabalha há 15 anos na corporação e não foi a primeira vez que ele teve problemas.
- Ele foi afastado e vai passar por uma junta médica que vai avaliar se ele teve um surto psicótico ou estava com estresse - diz o coronel Adilson Michelli, comandante do 17º Batalhão, ao qual pertence o policial.
- Um inquérito policial militar foi aberto para investigar o caso - disse o militar.
Segundo o coronel, o policial foi desacatado pelas crianças e sentiu-se humilhado.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Este comportamento não é isolado e preocupa muito os Oficiais e graduados responsáveis pelo gerenciamento dos efetivos policiais sob seus comandos. Há registros de surtos que causaram a morte de oficiais, graduados e até parceiros de trabalho. Para entendê-los basta analisar estes dois cenários:
As mazelas internas como os salários miseráveis pagos aos policiais, as deficientes condições de trabalho, o retrabalho policial com o prende e solta, o enfrentamento diário contra bandidos adultos e adolescentes portando armas de guerra, as horas de folga perdidas para o "bico", rotina desgastante, as pressões funcionais e a preocupação com as necessidades familiares acabam levando a pessoa do policial ao estresse, aos vícios, à intolerância, à truculência, à violência, outras doenças físicas, psíquicas e emocionais e até ao suicídio.
As mazelas externas como as benevolências das leis brasileiras, a impunidade, o desrespeito ás leis, a justiça morosa, a corrupção nos poderes, a falta de amparo e segurança jurídica, a falência do sistema de ordem pública e o descrédito da sociedade nos Poderes de Estado, assumem proporções graves diante de um policial despreparado, doente e não orientado que pode desmotivar, surtar ou, em casos graves, transformar a pessoa num torturador, ou homicida, ou justiceiro.
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