quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CRISE NAS POLÍCIAS É DECISIVA

EDITORIAL O GLOBO, 15/02/2011 às 11h15m

O secretário de Segurança José Mariano Beltrame resumiu com perfeição o significado das prisões que afundaram de vez as polícias do Rio de Janeiro numa crise da qual só serão resgatadas pelo caminho de mão única da limpeza ética e moral: para ele, não há corporação policial que se pretenda eficiente, e em condições de cumprir seu papel de preservar a sociedade das ameaças da criminalidade, que não esteja disposta a fazer uma faxina interna. A posição de Beltrame deve ser entendida como um claro sinal de que não há mais como postergar a necessária desinfecção do aparelho de segurança pública estadual. Ou o governo fluminense declara e avança numa guerra total à banda podre de suas polícias, ou a sua política de segurança pública, de resultados expressivos, afundará em trágico e irreversível fracasso.

Para o bem e para o mal, pode-se buscar em dois países, igualmente marcados pela tragédia da violência, prova de que punir maus policiais é pressuposto para o sucesso de qualquer programa de combate ao crime. Na Colômbia, a bem-sucedida cruzada contra os cartéis do tráfico - que por anos mantiveram suas grandes cidades sob a medonha sombra do narcoterrorismo - teve como princípio a depuração dos organismos policiais, deles extirpando os agentes que, de dentro das corporações, se haviam aliado ao banditismo. No México atual reside o modelo radicalmente oposto: ali, administrações tíbias com malfeitorias da banda podre levaram o país, vergado por ondas de violência, a ter de demitir ano passado 10% dos agentes da Polícia Federal.

Independentemente da extensão das metástases que comprometem o organismo policial do Rio, a Operação Guilhotina, que expôs com definitiva clareza a corrupção nas polícias Civil e Militar, consubstanciada na conivência e no conluio com o crime organizado, precisa ser o marco de uma operação contínua de faxina nas corporações. Das respostas que as autoridades derem ao atual desafio de debelar uma crise moral e ética que assusta a sociedade depende o futuro desta nova política de segurança pública fluminense, centrada nas UPPs, pelo que elas representam na retomada territorial, pelo Estado, de comunidades subjugadas pelo crime organizado e no acesso de centenas de milhares de pessoas aos direitos do cidadão.

A reação do governo do Rio há que ser inconfundivelmente exemplar também porque o Estado ocupa um papel estratégico no combate ao crime no Brasil. O princípio do compartilhamento entre as diversas instâncias administrativas da Federação - de que são exemplos a ocupação do Complexo do Alemão e esta Operação Guilhotina encabeçada pela Polícia Federal e escorada na essencial ajuda da própria polícia fluminense - é modelo que se desenha para todo o país. Não se pode permitir que este trabalho histórico seja sabotado por maus policiais, traidores da população que paga seus salários e à qual juraram defender. Assim como a chave da política de pacificação é o controle absoluto e constante de áreas retomadas ao crime, a moralização das polícias precisa ser buscada incessantemente. Esta é, em essência, a resposta que as autoridades do estado precisam dar agora, sem tibieza e hesitações.

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