quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

MÁFIA DO JOGO - Cobrando propina para proteger contraventores

A SERVIÇO DO JOGO. PM cobra propina para proteger contraventores - GIOVANI GRIZOTTI | RBS TV - ZERO HORA, 09/12/2010.

Uma reportagem da RBS TV mostrou o envolvimento de policiais militares com a exploração de máquinas caça-níqueis em Porto Alegre. A revelação, feita por contraventores, foi mostrada por imagens gravadas com uma câmera escondida. Um soldado lotado no 19º Batalhão de Polícia Militar diz cobrar R$ 500 por semana para proteger casas de jogos ilegais.

Conforme os contraventores ouvidos pela reportagem, o envolvimento de PMs no esquema ocorre de três maneiras: segurança nas casas de jogos, cobrança de pedágio – que pode ser mensal – e revenda de peças apreendidas durante as operações.

– A gente deu dinheiro para eles de novo e desse dia em diante a gente começou a pagar toda semana. Foi feito um acerto para eles não fecharem (a casa de jogos) e em troca também de informação de quando viesse a Brigada – disse um dos donos de bingo, que pediu para ter o nome preservado.

O valores são altos. Segundo o contraventor, PMs chegam a pedir de R$ 5 mil a R$ 10 mil por mês, dependendo da movimentação da casa.

Após uma operação da BM, em Porto Alegre, máquinas caça-níqueis foram quebradas e todas ficaram sem o chamado noteiro, por onde é colocado o dinheiro da aposta, e a placa mãe, que controla os jogos. Essas peças, as mais caras, são apreendidas e depois seriam revendidas pelos próprios PMs, conforme um ex-proprietário de bingo. Ele conta que alguns policiais sequer registram o Termo Circunstanciado (TC):

– Se não tem TC, eles não precisam entregar material. Tem brigadiano que tem esse material em casa, tu ligas, ele vem e te entrega.

Com uma câmera oculta, a reportagem gravou uma conversa entre o soldado Valdir Sidinei Costa, o Cid, 44 anos, e dois homens que se apresentaram como donos de casas de jogos. Na conversa, o PM disse que atua na proteção a casas de jogos há seis anos. Uma delas, no Morro Santa Tereza, teria funcionado por 90 dias, graças ao esquema. Conforme o PM, o local só foi fechado após uma operação do Ministério Público. A promotora de Justiça Sônia Moensch confirmou ter realizado uma operação no local.

Soldado será investigado e poderá ser expulso da BM

Em troca de proteção, o soldado diz cobrar R$ 500 por semana. Também indica colegas de farda para fazer a segurança nos bingos clandestinos.

– Não vai te incomodar com ninguém, vou botar cara profissional lá, a trabalhar. Então, já vou te preparando. Tu vai dar mais ou menos uns R$ 500 por semana. Tu não vai te envolver, tudo é comigo – disse o soldado, sem saber que estava sendo filmado.

Procurado pela reportagem da RBS TV após a gravação, o policial negou todas as acusações. O telefone dele foi encontrado na memória do celular de um contraventor, apreendido pela Força-Tarefa de Combate aos Jogos Ilegais do Ministério Público.

O comandante do 19º BPM, tenente-coronel Alberto Iriart, anunciou abertura de inquérito e disse que o soldado poderá ser expulso:

– Aquele cidadão que, investido da condição de policial, pratica atividades criminosas é pior que o próprio criminoso – afirmou o comandante do batalhão.

Dono de bingo compara com milícia carioca

Reportagem da RBS TV revela que policial exigia R$ 500 por semana de donos de caça-níqueis. O dono de uma das casas de jogos afirmou que está desistindo do negócio ilegal, porque não tem mais dinheiro para pagar propina a PMs. Ele compara o esquema aos grupos de policiais que controlam favelas no Rio de Janeiro.

O que tá acontecendo em Porto Alegre hoje é uma milícia. Tem brigadiano aí que só fica rodando 24 horas atrás de pontos. Eles dizem: aquele setor é meu, aquele bairro é meu, lá ninguém mete a mão – afirma o contraventor.

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