sexta-feira, 6 de maio de 2011

DISCRIMINAÇÃO SALARIAL TIRA DELEGADOS DA POLÍCIA

Concursos tiram delegados das DPs. Remuneração melhor em outras carreiras já levou sete formados na última turma a deixar a polícia - JOSÉ LUÍS COSTA, ZERO HORA 06/05/2011

A falta de vocação para a atividade e o salário pouco atrativo estão levando novos delegados a deixar a Polícia Civil. Carreiras públicas com exigências acadêmicas semelhantes, mas com remuneração bem mais alta, tiram profissionais que fazem concurso para ocupar o cargo mais importante de uma delegacia.

Desde outubro, quando a última turma com 199 delegados começou a trabalhar, pelo menos sete deles já pediram demissão da corporação para assumir outras funções. Seis se tornaram promotores de Justiça e outra virou juíza federal. Outros nove também já encaminharam solicitações de demissão que estão sob análise do Departamento de Administração Policial.

O motivo dos desligamentos tem relação direta com o perfil dos novos delegados. Formados em Direito, em sua maioria jovens e inteligentes – alguns vindos de outros Estados–, dedicam grande parte do tempo se preparando para concursos. E ingressam na carreira cuja nomeação saiu primeiro. Depois, à medida que são selecionados, escolhem a que for mais de acordo com seus interesses pessoais.

Além do desinteresse ou inaptidão, a Polícia Civil perde delegados por não conseguir competir com os salários ofertados por outras instituições e mesmo órgãos de outros Estados.

– Isso não nos surpreende, pois sabemos que a remuneração do delegado é baixa em relação a esses outros órgãos. É uma pena – lamenta o delegado Luiz Henrique Gasparetto, diretor da Divisão de Recrutamento e Seleção da Academia da Polícia Civil.

A Secretaria de Segurança Pública informou que mantém diálogo permanente com as entidades de classes para discutir melhorias salariais.

CONCORRÊNCIA. Ao virar juíza, gaúcha vê o salário triplicar

Filha do comissário aposentado Ruy Azevedo, Priscilla Pinto de Azevedo, 29 anos, entrou na corporação em 2010 para homenagear a família. Vivia um momento delicado por causa de uma doença do pai, e tinha perdido a esperança de ver seu nome na lista de aprovados de um outro concurso que fizera em paralelo para a Justiça Federal. Em outubro, assumiu a DP de Barros Cassal, no Vale do Rio Pardo, mas a carreira de delegada durou apenas cinco meses.

– Estava feliz, perto de casa, gostava muito do trabalho. Mas aí veio o resultado da Justiça – recorda.

No final de março, Priscila atravessou o Brasil para tomar posse como juíza federal em uma vara única na Subseção Judiciária de Castanhal, próximo a Belém, capital do Pará, onde está mergulhada em 590 processos para julgar até julho. Com a mudança, ela viu triplicar os dígitos no contracheque: de R$ 7 mil para R$ 20 mil.

– A questão financeira pesou bastante. Passar em concurso da Polícia Civil exige qualificação, e a contraprestação que fazia era desanimadora. Além disso, na Justiça Federal, apesar de ter também muito trabalho, a estrutura é bem melhor – afirma.


As diferenças - Compare o salário inicial de um delegado na Polícia Civil gaúcha (R$ 7.094,98) com outros casos:


ESTADOS
- Distrito Federal R$ 17.223,50
- Paraná R$ 11.779,56
- Rio de Janeiro R$ 10.690,11
- São Paulo R$ 5.810,30
- Minas Gerais R$ 5.714,35

OUTRAS CARREIRAS
- Promotor de Justiça: R$ 17.581,75
- Procurador do Estado: R$ 16.119,10
- Defensor Público: R$ 14.507,19

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É uma discriminação abusiva que contraria os princípios fundamentais da República democrática e federativa e os dispositivos previstos na constituição, em especial o texto original do artigo 37, inciso XII. A função policial é essencial à justiça e deveria ter a mesma valorização dos demais instrumentos desta área, ainda mais pela natureza da atividade e pelos riscos de morte e estresse que envolvem a profissão. Hoje, a justiça e o MP dependem da polícia para cumprirem seus papéis na aplicação coativa da lei e na denúncia das ilicitudes. Policiais Civis e Policiais Militares são agentes auxiliares da justiça e não forças políticas do Executivo como muitos preferem colocar. Esta na hora dos governantes mudarem a visão e tirarem a viseira que impede a qualificação das polícias estaduais brasileiras.

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